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Círio 2022: artesãos de Abaetetuba preparam brinquedos de miriti para vender em Belém

Feito com muita habilidade e amor, esse artesanato é um dos principais elementos do Círio de Nazaré

Dilson Pimentel

Aproximadamente 8.500 pessoas estão envolvidas, direta e indiretamente, na produção dos brinquedos de miriti no município de Abaetetuba, no nordeste do Pará. E, desde 2010, esse tipo de artesanato é considerado Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Pará, pela Lei Estadual 7.433/2010.

O artesanato de miriti produzido pelos artesãos de Abaetetuba é um dos principais elementos do Círio de Nazaré. O miritizeiro é uma palmeira abundante na região de Abaetetuba. A altura varia de 20 a 40 metros. É uma árvore de múltiplo uso: serve como meio de subsistência, para produzir cestaria, material de artesanato, complemento na construção de habitações, além de ser fruto de agradável sabor.

A macia polpa ou bucha da palmeira, após a retirada da casca de talas que a envolve, é suporte para a fabricação do tradicional brinquedo de miriti, joia do artesanato artístico que é símbolo do município.

E, em Abaetetuba, que é considerada a capital mundial do miriti, os artesãos estão terminando suas produções para, na semana que antecede a grande procissão, comercializá-las em Belém. A expectativa é de boas vendas, já que, desta vez, haverá um Círio presencial, o que não vinha ocorrendo por causa da pandemia.

Cada artesão tem uma assinatura. Há aqueles que se especializam, por exemplo, em fazer jacarés, canoas, artigos religiosos e pássaros.

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Palmeira do miriti é considerada santa por gerar emprego e renda

Ele destacou a importância do miriti na vida dele e dos demais artesãos. “A gente ama o que faz. O miriti representa a nossa cultura, a nossa cara, a origem nossa. A nossa cidade é conhecida como capital mundial do miriti”, afirmou. E completou: “A gente tem orgulho de ser abaetetubense. ‘Ah, vocês são de Abaetetuba? Trabalha com miriti? Então todo mundo conhece a gente”, contou.

Para Nildo, a palmeira do miriti é uma palmeira santa, por gerar emprego e renda e fomentar a economia. “Tudo dela dá. A gente luta por ela. E o que é mais importante: a gente não desmata, não derruba a árvore. A gente corta de forma que ela não morra”, explicou.

Na produção dos brinquedos de miriti, a família também participa. Quando chegam da escola, um filho dele, Matheus, de 18 anos, lixa os brinquedos. O outro filho, Thiago, 17, também ajuda. E um vizinho pinta as peças. Nildo disse que, graças ao miriti, já conheceu a Guiana Francesa e outras cidades do Pará e, também, Macapá.

“Sou um artesão que não trabalha. Eu brinco de fazer brinquedo”

A frase é do artesão Valdeli Costa, 52 anos. Ele é presidente da Miritong (Associação Arte Miriti de Abaetetuba), criada em 2005 e que trabalha a partir de três eixos: o social, o ambiental e o cultural.

Ele produz peças de miriti desde 1989 no miriti, e trabalha na casa dele, cujo ateliê é conhecido como “Fábrica de Sonhos”. A especialidade de Valdeli são os pássaros, pequenos, de miriti. Ele também vai vender sua produção em Belém - um pouco mais de mil peças. A meta dele era cinco mil brinquedos esse ano. Mas houve um evento em São Paulo, para onde ele mandou boa parte desse artesanato.

Valdeli faz pássaros em série, por ser mais rápido. Faz 50 em um dia e os pinta no dia seguinte. Cada peça custa R$ 5. A confecção dos brinquedos de miriti permitiu o artesão a sustentar sua família, ajudando-o a manter os quatro filhos.

Peças são vendidas no Rio de Janeiro e, também, no exterior

Peças dele são vendidas, por exemplo, desde 2002, no Museu do Folclore, no Rio de Janeiro. “Imagina a quantidade de turistas que vai lá. A gente não tem ideia para onde vão essas peças”, contou. Mas são vendidas no Nordeste também e, fora do Brasil, no mercado europeu. “A gente já mandou para a Itália e França. Também sai muito para a Holanda”, contou.

Valdeli disse que, durante a pandemia, não parou de trabalhar no ateliê dele. Mas, em compensação, não vendia nada. “Já agora, no finalzinho (da pandemia), já depois da vacina, que a gente começou a receber encomenda. Bem pouquinho. Mas, até ter a vacina, não vendia nada”, contou. Nesse período, a esposa, que é enfermeira, e as filhas ajudaram nas despesas da família.

"Tive medo de morrer", diz artesão sobre pandemia do novo coronavírus

O artesão contou que, este ano, com o Círio presencial, a expectativa é de boas vendas. “Ano passado, estivemos em Belém, na feira do Sebrae, já vendeu bastante. E não tinha público na procissão. Esse ano, com público, a expectativa é de vender toda a nossa produção”, afirmou, acrescentando que as pessoas estão procurando muito as peças.

Valdeli também vai aproveitar o Círio para agradecer a Nossa Senhora de Nazaré. “Tive muito medo de morrer. Já fui fumante e tenho um pulmão meio bronqueado. E aí eu sabia que, se eu pegasse, dificilmente eu ia escapar”, contou. Ele teve sintomas clássicos da covid, mas, como não fez o teste, não soube se de fato pegou a doença.

“Rapaz, eu rezei muito para Deus. A fé ajuda muito a gente”, contou. “Sou muito devoto de Nossa Senhora”, disse Valdeli. Ele acrescentou que seis artesãos de Abaetetuba morreram de covid, dos quais três produziam muitos brinquedos de miriti. Ele também explicou que, fora do período do Círio, produz peças com outros temáticas. No Natal, por exemplo, confecciona árvores de Natal e guirlandas.

Belém