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Ciclismo é solução para mobilidade, saúde e meio ambiente, mas esbarra em segurança na Grande Belém

Garantir que ciclistas possam se locomover em segurança, por necessidade, esporte ou hobby, é o principal desafio do poder público

Victor Furtado e Thiago Gomes

Especialistas em mobilidade defendem que viabilizar e estimular o uso de bicicletas é uma solução para diversos problemas das grandes cidades: trânsito, poluição e até mesmo saúde pública. É fato que a Região Metropolitana de Belém, sobretudo a capital, tem apresentado iniciativas de ampliar a malha cicloviária, com ciclovias e ciclofaixas. Só que falta integração entre as cidades e segurança aos ciclistas. Quando não é violência urbana fazendo ciclistas vítimas, é a violência do trânsito. Falta também respeito, algo que ganhou um novo capítulo na história dessa cobrança nesta última semana: uma ciclista vitimada na BR-316.

"As cidades vivem com problemas graves por excesso de automóveis. Falta estacionamento, há congestionamentos, perda de tempo, estresse, perda de compromissos... tudo isso torna as cidades menos produtivas. A solução é uso da bicicleta. É menos um carro, menos um ônibus, menos pessoas num ônibus, saúde para quem usa... Mas isso só é possível com segurança: espaços próprios seguros, como ciclofaixas e ciclovias, que precisam ser respeitadas por todos, inclusive ciclistas, conscientes de suas obrigações", diz o cicloativista José Ramos, do coletivo Ciclomobilidade Pará e do Observatório Social de Belém.

No dia 17 deste mês, Cláudia Loureiro, de 37 anos, foi atropelada e morta em Castanhal. Ela estava em uma pedalada, de Belém a Salinópolis. Foi atingida por um veículo em alta velocidade. O motorista estava disputando um "racha" na BR-316, uma via que conecta toda a RMB e é uma das que mais é apontada por ciclistas como de alto risco.

A morte da ciclista rendeu uma semana inteira de manifestações pedindo justiça e mais segurança a quem usa bicicletas por necessidade, esporte ou hobby. O motorista que matou Claudinha se apresentou à Polícia Civil e responde ao processo em liberdade.

Estudo da iniciativa Multiplicidade e Mobilidade Urbana estima que 1.134.704 bicicletas circulam por Belém. Boa parte vem de outros municípios da região metropolitana. Porém, a estrutura cicloviária não acompanha esse fluxo desses atores do trânsito, que costumam ser invisibilizados em políticas públicas voltadas aos deslocamentos de pessoas. Diariamente, algum ciclista toma um "grande susto" (um "quase"), fica ferido ou morre nas ruas. Se é inseguro em vias internas dos centros urbanos, nas estradas é muito mais perigoso.

No dia 17 deste mês, Cláudia Loureiro, de 37 anos, foi atropelada e morta em Castanhal. Ela estava em uma pedalada, de Belém a Salinópolis. Foi atingida por um veículo em alta velocidade. O motorista estava disputando um "racha" na BR-316, uma via que conecta toda a RMB e é uma das que mais é apontada por ciclistas como de alto risco

Filosofia de planejamento urbano precisa mudar, diz ativista


A cicloativista Daniele Queiroz — membro dos coletivos "ParáCiclo", "Bike Anjo" e "Pedala, Mana" — ressalta que o ciclismo movimenta muitos diferentes negócios e é importante para a economia. Mas é preciso mudar a filosofia de planejamento das políticas públicas das cidades. Se houvesse mais estrutura e segurança, ela acredita que o número de ciclistas talvez fosse muito maior.

"As prefeituras precisam olhar essas pessoas, que às vezes cruzam a região metropolitana sem nenhuma segurança ou infraestrutura adequada. São necessários projetos que interliguem cada cidade da RMB. E nos destinos, as pessoas encontrem bicicletários, estacionamentos... precisamos mudar a filosofia das cidades e investir em infraestrutura, em segurança e educação por um meio de transporte que desafoga o trânsito, não polui e, nestes tempos de pandemia, garantem distanciamento do transporte público lotado", analisa Daniele.

"As cidades vivem com problemas graves por excesso de automóveis. A solução é uso da bicicleta. Menos um carro, menos um ônibus. Mas isso só é possível com segurança: espaços próprios seguros, como ciclofaixas e ciclovias, que precisam ser respeitadas por todos, inclusive ciclistas, conscientes de suas obrigações", diz o cicloativista José Ramos, do coletivo Ciclomobilidade Pará e do Observatório Social de Belém

Elias Jardim, coordenador de Operações da Superintendência Executiva de Mobilidade Urbana de Belém (Semob), reconhece que falta uma política mais integrada entre as prefeituras para dar mais segurança aos ciclistas. Enquanto as propostas não se tornam concretas, ele pede mais cuidado e respeito por conta de motoristas.

"Os ciclistas reclamam que não são respeitados em seus espaços. Precisamos criar essa cultura de respeito. Mas há uma questão cultural muito forte. O condutor, principalmente de carros, acha que a via é preferencial do carro, esquecendo que a via tem outros atores, como pedestres, ciclistas e skatistas", analisa Jardim.

 "Precisamos criar essa cultura de respeito. Mas há uma questão cultural muito forte. O condutor, principalmente de carros, acha que a via é preferencial do carro, esquecendo que a via tem outros atores, como pedestres, ciclistas e skatistas", analisa Elias Jardim, da Semob

Após mais uma manifestação de ciclistas, no caso de Claudinha, na sexta-feira (23), Daniela Santos, delegada-geral adjunta da Polícia Civil, fez um apelo ao poder público, motoristas e ciclistas: "É importante explicar à sociedade que nós devemos ter mais organização em nosso trânsito, nas nossas vias, especialmente por parte dos condutores de veículos. As vias também são usadas por pedestres e ciclistas, que estão mais vulneráveis. Pedimos aos ciclistas que usem os espaços destinados a eles para evitarmos situações de risco e acidentes", concluiu.

 "É importante explicar à sociedade que nós devemos ter mais organização em nosso trânsito, nas nossas vias, especialmente por parte dos condutores de veículos. As vias também são usadas por pedestres e ciclistas, que estão mais vulneráveis", avalia Daniela Santos, delegada-geral da Polícia Civil do Pará

Acidentes com ciclistas

*O número de feridos pode ser maior porque os dados do Detran são de acidentes que envolveram ciclistas e podem ter tido mais vítimas em outros veículos

2019


PARÁ
- 701 acidentes
- 731 feridos
- 52 mortos

BELÉM
- 385 acidentes
- 340 feridos
- 11 mortos.

Até setembro de 2020


PARÁ
- 540 acidentes
- 614 feridos
- 39 mortos.

BELÉM
82 acidentes
- 205 feridos
- 7 mortos.

Malha cicloviária na Grande Belém

*Somatória de ciclovias e ciclofaixas apenas, sem incluir acostamentos não sinalizados

BELÉM: 111,02 km
ANANINDEUA: 8 km
MARITUBA: 750 metros

Fonte: Detran-PA, Semob e prefeituras de Ananindeua e Marituba

Belém