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Campanha une solidariedade com prevenção à violência doméstica e covid-19

Trabalho inicialmente tinha foco em dar apoio a famílias vítimas de enchentes na Terra Firme, mas o objetivo agora mudou para a pandemia e casos crescentes de violência doméstica

Victor Furtado

A campanha Terra Solidária iniciou nesta sexta-feira (29) e segue até este sábado (30), no bairro da Terra Firme, com distribuição de cestas de alimentos, kits de higiene e limpeza e orientações sobre prevenção da covid-19 e violência doméstica. É um trabalho do coletivo Tela Firme, junto com a Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH) e a Rede Amazônica de Solidariedade de Resistência. O primeiro momento foi visita a vários lares e entrega de cartas, que estimulam a conscientização de classe social e comunicação entre as comunidades.

Essa campanha começou há mais tempo, na época das chuvas fortes, desde março. Muitas famílias da Terra Firme foram castigadas com enchentes frequentes e inestimáveis prejuízos materiais e emocionais. Agora que o verão vem chegando, o foco da campanha se voltou para a prevenção da doença provocada pelo coronavírus sars-cov-2, já que o Governo do Estado e prefeitura ensaiam a retomada da normalidade da economia.

Só que outra coisa foi percebida e até relatada em estudos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e do Instituto Maria da Penha: Pará, Acre, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e São Paulo tiveram aumento do número de casos de violência doméstica — contra a mulher ou contra crianças — durante os períodos de distanciamento social temporário, em comparação ao mesmo período do ano passado.

"Infelizmente, tivemos um caso triste na Terra Firme: a menina Maria Paula, de 10 anos, que foi vítima de violência sexual e morta aqui no bairro", comenta Francisco Batista (Zeca da TF), um dos membros fundadores do coletivo Tela Firme. Maria Paula foi dada como desaparecida no dia 2 deste mês. No dia 5, o corpo dela foi encontrado às margens do furo São Benedito, já perto do município do Acará. No dia 8, o autor do crime foi preso: Charne Cardoso Ferreira, que tinha uma relação extraconjugal com a mãe da criança. Ambos moravam na Terra Firme.

Francisco explica que serão 120 famílias atendidas (cerca de um total de 500 pessoas alcançadas) com as cestas, kits e campanha de conscientização. Todas estão em condição de vulnerabilidade social e econômica. Moram em áreas de saneamento básico inexistente ou precário, como margens do canal do Tucunduba. Saneamento básico é um direito humano e política pública que reduz — de forma sutil, mas significativa — os impactos da pandemia.

As cartas entregues nesta sexta, além de orientações sobre a pandemia e prevenção da violência, estimulam contato entre as famílias. Há um espaço para que a cada família deixe uma mensagem por escrito. Essas cartas serão trocadas entre as famílias. Há algumas recomendações como ligar para amigos, fazer novos contatos na comunidade e ficar atento a choros de criança ou brigas conjugais.

Neste sábado (30), as famílias receberão as cestas de alimentos e kits com produtos de higiene e limpeza. Por fim, algumas orientações para evitar que as áreas mais pobres da capital acabem sendo focos de contaminação pelo coronavírus e subnotificações da covid-19, já que Terra Firme e Guamá são alguns dos bairros mais populosos de Belém e vulneráveis pela falta ou insuficiência de saneamento básico e estrutura do sistema público de saúde.

Belém