MENU

BUSCA

Cabanagem é tema de exposições e lives educativas

Revolta popular completa 186 anos neste dia 7 e eventos buscam resgatar memórias apagadas

Eduardo Laviano

Neste mesmo 7 de janeiro, porém em 1835, rebeldes cabanos tomaram o Palácio do Governo em Belém (atual Museu Histórico do Estado do Pará), assim como o Forte do Castelo.

Liderada por Antônio Vinagre, a ação se deu de madrugada e encontrou pouca resistência após os cabanos se colocarem armados em pontos estratégicos da cidade. O presidente da província do Pará na ocasião, Bernardo Lobo de Souza, foi assassinado.

Iniciou-se, então, um período de cinco anos no qual Belém esteve sob liderança cabana. No mesmo ano, a capital mudou-se para Cametá e a revolta popular ganhou o interior do estado rio abaixo, travando batalhas sangrentas contra o Império durante cinco anos.

Após algumas trocas no comando do governo dos rebeldes, os ideais de um Pará independente foram perdendo força e apoio, até os cabanos sucumbirem e o estado voltar para mão do Império de vez, em 1840. 40 mil mortos e 186 anos depois, historiadores avaliam que a data não possui o destaque que merece.

Um deles, Michel Pinho, é o novo presidente da Fundação Cultural do Município de Belém. Na opinião dele, a Cabanagem é a principal revolta popular do Brasil. "É um processo que marca a ruptura da organização social mais forte da história de Belém em seus mais de 400 anos. Falar da memória da cabanagem é, sobretudo, falar da construção da cidadania neste país", afirma. 

Pinho enxerga a celebração do dia 15 de agosto, da Adesão do Pará, como um dos elementos que ofusca a real importância da Cabanagem. "Celebramos o dia 15 de agosto mas não lembramos o dia 7 de janeiro. São escolhas políticas feitas ao longo dos séculos. A cabanagem foi muito mal vista nos século XIX e XX. Ser cabano era uma característica pejorativa, ligada às classes mais populares, mais raivosas", entende ele.

Além do feriado, a memória da data magna do estado está em todo o canto. Na Assembleia Legislativa do Estado do Pará, o quadro a “A Adesão do Pará à Independência do Brasil”, de Anita Panzuti e Betty Santos, cobre uma parede inteira em um prédio denominado Palácio da Cabanagem, narrando um dos eventos que motivou, anos mais tarde, a revolução cabana.

"É interessante perceber isso porque no 15 de agosto temos uma tomada do poder sem sangue que leva à Cabanagem, que foi o inverso disso. Por isso a necessidade de dar mais zelo e cuidado para a Cabanagem", avalia.

Diversidade

Para lembrar da data, a Vila Sorriso, no distrito de Icoaraci, abriga a exposição "Vozes da Cabanagem", na Estação Cultural de Icoaraci. Ela é composta de painéis produzidos a partir de imagens de documentos do acervo do Arquivo Público do Estado do Pará, que mostram a diversidade dos integrantes da revolução.

No mesmo local, será exibida uma animação sobre a Cabanagem e na área externa haverá programação com música, performance artística e espaço de economia criativa com a produção de empreendedores locais. A programação dura o dia inteiro, com limite de 150 pessoas por vez.

“Os registros apontam a atuação de grupos indígenas, negros libertos ou escravizados e de mulheres, por exemplo. Além disso, é possível conferir a reprodução de documentos que mostram a percepção do Governo Imperial em relação ao movimento cabano e a imagem que ele tinha dos cabanos como anarquistas, assassinos e rebeldes, que são alguns termos com os quais os documentos qualificam as pessoas que participaram da Cabanagem”, destaca Leonardo Torii, curador da exposição e diretor do Arquivo Público.

Na opinião dele, isso é prova de que o movimento uniu diversas pessoas em prol de um objetivo comum, já que a Cabanagem contou com participantes de diferentes classes sociais.

"Mostra uma Cabanagem extremamente diversificada em termos de participação e de objetivos também, pois esses grupos tinham ideais muitas vezes distintos dentro do movimento cabano, mas também convergentes, já que a maioria estava lutando por melhores condições de vida e de trabalho na Província do Grão-Pará", diz Leonardo.

Já no complexo viário do Entroncamento, a exposição "Memória Cabana” possui intervenção artística sobre os túmulos, com os nomes de 1.953 cabanos que participaram do levante popular. Até o dia 15 de janeiro, o Museu do Estado do Pará e o Memorial da Cabanagem recebem iluminação especial para celebrar a data. 

 

Programação on-line do dia 7 de janeiro, no Youtube da Fumbel e da Secult

10h30 - Live "Mulheres cabanas: memórias e contemporaneidades", com a professora Dra. Eliana Ramos e com a ouvidora geral do município Márcia Kambeba

17h - Aula "Belém, Cidade Cabana - Patrimônio e Memória", com o historiador Dr. Aldrin Figueiredo, e lançamento da versão virtual do livro "Memórias da Cabanagem"

19h30 - Auto da Cabanagem com a performance “Cabano, coração rebelde”

Belém