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​Brincadeiras ajudam no tratamento de crianças internadas no Hospital de Clínicas Gaspar Vianna

Trabalho é realizado por uma equipe multidisciplinar e tem como objetivo dar sentido ao tempo de internação

O Liberal

O ato de brincar é um direito garantido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), preconizado pela Organização das Nações Unidas (ONU), e celebrado neste domingo (28). No Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, em Belém, a brincadeira, aliada ao ensino diante das tecnologias, faz parte do tratamento das crianças que se encontram internadas na ​​unidade. O trabalho é desenvolvido por uma equipe multidisciplinar, que envolve pedagoga, assistente social, psicóloga e terapeuta ocupacional, e tem como objetivo dar sentido ao tempo de internação.

“Brincar é tudo para a criança. É como ela vai conhecer e entender as relações no mundo. Além do emocional, do cognitivo, do motor, de competências e habilidades para a leitura, por exemplo, o brincar permite, inclusive, que a criança enfrente frustrações. O brincar está ligado ao prazer, ao bem-estar emocional. Ela acaba ​se ​desligando um pouco da dor e do ambiente hospitalar, da rotina que não é fácil”, explica a pedagoga Karen Xavier.

É montando uma flor de papel com isopor e embalagem de docinho de festa que Gabrielly Oliveira, de 11 anos, se distrai enquanto recebe os cuidados médicos, no Hospital de Clínicas Gaspar Vianna. A menina nasceu com hipertensão pulmonar. A doença afetou os movimentos das mãos, mesmo assim, ela capricha na atividade.

“Estou fazendo um convite para a festa junina. Poder brincar aqui no hospital é bem mais legal. O que eu mais gosto de fazer é jogar Uno e montar quebra-cabeça”, disse Gabrielly, compartilhando as brincadeiras favoritas.

Nos dias de maior debilidade, como a necessidade de receber oxigênio, por causa do cansaço, a programação é adaptada e levada para o leito da criança. A mãe, Karla Oliveira, agradece a sensibilidade.

“Fazem bastante atividade com ela. Ela também estuda aqui no hospital, já que esse ano não conseguiu ir para a escola por causa da doença. É o que tem ajudado, porque assim se distrai. Como ela amanheceu muito cansada, a atividade veio para o leito. Por enquanto, é desse jeito. Eu digo para ela que é só uma fase, que vai passar”, reforça a mãe.

Alunos de pedagogia aprendem brincando

A brinquedoteca do curso de pedagogia da Universidade do Estado do Pará (Uepa) se transforma em laboratório de formação do futuro professor. É neste espaço que alunos do terceiro semestre se sentam em círculo e participam da aula.

A coordenadora do curso, professora Ceila Moraes, diz que as brincadeiras são uma forma leve de estabelecer aprendizados para a vida toda. “Aqui os alunos exercitam diversas atividades da ludicidade, do brincar. São disciplinas em que eles constroem equipamentos e desenvolvem atividades com crianças de escolas do entorno. É teoria e prática. Também temos um projeto que vamos repetir esse ano, que é a colônia de férias. Foi algo maravilhoso. O brincar faz parte da vida da criança. Então, qualquer atividade que seja pensada precisa ser desenvolvida pelo viés da brincadeira”, ressalta a professora.

Exposição às telas

A exposição de crianças a todo tipo de telas, seja celular, tablet, computador, TV, tornou-se ainda mais comum, principalmente depois da pandemia do coronavírus. O impacto no desenvolvimento infantil pelo longo tempo de exposição a essas telas é discutido na formação do profissional de Pedagogia, como explica a professora de Língua Portuguesa, Magnólia Rêgo.

“Essa concorrência com as telas é um enorme desafio para a atuação em sala de aula. Hoje vemos muitos bebês manuseando telas. Então, nós tentamos trazer textos como motivadores, como ferramentas, e explicamos a função que eles têm, para que eles aprendam a ensinar o hábito, o gosto pela leitura. Com os próprios alunos nós temos dificuldade, diante das redes sociais, mas procuramos usá-las como recurso em sala de aula”, reforça a professora.

A preocupação é que estar em frente às telas por tempo prolongado pode atrapalhar o desenvolvimento das habilidades sociais e de linguagem da criança. Entre os riscos estão o sono desregulado, distúrbios emocionais e de aprendizado, obesidade, problemas de visão, dependência digital e outros perigos que a internet pode trazer.

A universitária Raquel Calandrini tem aprendido que, como professora, precisa estimular a criança e o jovem a praticar atividades que não necessitam de tecnologia, como jogos, leitura de livros, música, pintura, contato com a natureza, entre outras práticas mais saudáveis.

“Eu dou aula de reforço e tenho algumas experiências de alunos que não conseguem conversar, alunos ansiosos, que ficam muito tempo em frente às telas. Nós temos que explicar que não podemos pular etapas da nossa vida. É um resgate de essência mesmo. Nós, enquanto futuros professores, devemos incentivar as crianças, mostrando que existem brincadeiras muito mais interessantes. E nós podemos ter as telas como aliadas. Tudo em excesso é muito ruim”, pontua.

Belém