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Atraso de pagamentos afeta cerca de 70% dos médicos da rede municipal, diz sindicato

A crise mais recente na saúde já dura cerca de seis meses. Pagamentos atrasados começaram a ser pagos na sexta-feira, 10, mas não sanam o problema

Camila Guimarães

Há cerca de seis meses, Belém vive em estado de colapso na saúde municipal, com uma série de paralisações promovidas por profissionais de diferentes categorias que reivindicam pagamentos atrasados. As Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), como as da Marambaia e Jurunas, e os Hospitais Pronto-Socorros Municipais, como os do Guamá e da 14 de Março, estiveram entre as principais unidades afetadas. Na outra ponta, a população sofre com dificuldade de acesso aos serviços, que funcionam de maneira limitada e precária. Segundo o diretor de Comunicação do Sindicato dos Médicos do Pará (Sindmepa), Wilson Machado, cerca de 70% dos médicos da rede municipal convivem com o problema crônico de atrasos no pagamento, principal motivo das paralisações.

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"Essa saúde no nosso estado está uma vergonha! Eu cheguei a ir para a UPA de Icoaraci com ela e nem remédio tinha! Nem para fazer um teste de glicose. A minha mãe ficou jogada em cima de uma maca de ferro, no frio. Meu irmão teve que assinar um termo para tirar ela de lá. Então nós ligamos para o 192 e trouxeram a gente para cá, para o PSM do Guamá. Ela está aí desde ontem à noite, está na sala vermelha porque o caso dela é grave", relata.

Celeste diz que foi bem tratada pela equipe médica do HPSM do Guamá e não tinha do que reclamar. Por isso, ela teme que a permanência dos problemas levem os médicos a paralisarem novamente: "Se eles pararem, vai ser ruim né? Como é que minha mãe, que tem 90 anos, vai ficar sem médico? E se o médico trabalha, ele tem todo o direito de receber salário! Quem quer trabalhar de graça? Aqui, eles estão entregando a vida deles, deixando o sono, deixando a casa, deixando a família pelo trabalho e justamente querem ganhar seu salário. Se eles paralisarem tudo vai ficar muito ruim. O que eu vou fazer com a minha mãe num hospital sem médico? E se eu levar para casa vai ser pior! Como eu vou cuidar se eu não tiver o suporte necessário? Nós precisamos do hospital, precisamos de médico!".

A estudante Elza Carvalho, de 47 anos, também tem o mesmo temor. Com a mãe recém operada internada no HPSM da 14 de Março, ela reclama da falta de medicamentos e do medo de ficar sem atendimento. 

"Aqui está sem remédio e sem curativo. Parece que estão controlando o uso de antibióticos para não faltar. A minha mãe está com duas semanas operada e não tomou o antibiótico ainda. Se eles paralisassem eu teria que transferir minha mãe para algum lugar porque ela precisa dessa medicação. Os médicos estão fazendo o que eles podem", afirma.

Entre os usuários das UPAs o sentimento é semelhante. Na UPA do Jurunas, a servidora Sara Carneiro, 47, entrevistada na quinta-feira, 8, disse que o atendimento seguia de modo restrito, com apenas um médico no plantão e os atendimentos espaçados com intervalos de duas a três horas.

"Não tem médico, só tem um. O atendimento aqui está sendo feito em cada duas ou três horas, a moça acabou de me falar lá dentro. Eu estou na urgência esperando atendimento, porque eu acho que tenho reumatismo e quase não posso mais andar. Mas ela disse que eu vou ter que esperar todo esse tempo para ter atendimento com o médico. Aqui eles entram em greve com frequência. Mês passado eu vim aqui e eles estavam tudo em greve", reclama.

Na UPA da Marambaia, a funcionária do lar Michele Santos, de 49 anos, teve mais sorte, chegando a ser atendida sem complicações na quinta-feira, por isso, ela diz que lamenta muito quando a unidade deixa de atender por causa das paralisações.

"Aqui nós somos bem atendidos, os médicos são muito bons, então, não pode parar. Precisa continuar funcionando. Para isso, tem que fazer os pagamentos direito para eles, porque eles precisam, assim como nós precisamos deles também. De vez em quando eu preciso daqui, já vim à noite, de madrugada e hoje, pela manhã, sempre fui bem atendida. Não quero que pare não. Todos precisam daqui".

A Via-crúcis dos trabalhadores da saúde em Belém

1º de setembro de 2022 - Paralisação de cardiologistas

27 de setembro de 2022 - Paralisação nas UPAs da Marambaia e Jurunas

24 de novembro de 2022 - Paralisação de trabalhadores de serviços gerais do HPSM da 14

06 de dezembro de 2022 - Protesto dos trabalhadores de serviços gerais (várias unidades)

25 de dezembro de 2022 - Paralisação na UPA da Marambaia

28 de dezembro de 2022 - Sidmepa publicou uma nota informando que o HPSM da 14 e do Guamá, bem como as UPAs estavam sem traumatologista

05 de janeiro de 2023 - UPA da Marambaia paralisada desde o último Natal

06 de janeiro de 2023 - UPA de Icoaraci e Mosqueiro anunciaram greve a partir do dia 7

08 de janeiro de 2023 - profissionais do HPSM do Guamá paralisam durante a noite

10 de janeiro de 2023 - médicos do PSM do Guamá tiveram uma primeira reunião com o novo gestor da Sesma

11 de janeiro de 2023 - Sesma informou que fez os repasses para as Organizações Sociais (OS) que administram as UPAs da Marambaia, Terra-Firme e Jurunas

6 de fevereiro de 2023 - Sindmepa se reuniu com a Sesma, que pediu prazo de 90 dias para avaliar e solucionar a crise orçamentária no setor

Paralisação sem data especificada: anestesistas há 8 meses sem pagamentos (Sindmepa)
 

FONTE: LEVANTAMENTO FEITO JUNTO AO SINDMEPA

Belém