Apagão nacional evidencia dependência tecnológica de usuários paraenses
Uso do celular para serviços básicos diários foi exposto de maneira severa
Uso do celular para serviços básicos diários foi exposto de maneira severa
O apagão que deixou quase todo o Brasil sem energia elétrica e rede de internet na última terça-feira (15/08) acendeu um alerta para a questão da dependência tecnológica. Em Belém, por mais de seis horas, várias pessoas ficaram aflitas diante do impedimento do uso do celular para serviços que já se tornaram básicos e são realizados diariamente, seja para lazer ou mesmo para o trabalho.
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De acordo com Walter, as atividades que antes poderiam ser feitas sem o uso de aparelhos tecnológicos, passaram a ter a necessidade de serem realizadas com o auxílio da tecnologia, principalmente a internet.
“Algumas funções básicas, que nós fazíamos antes, já não conseguimos fazer. Um exemplo é escrever. As pessoas não usam mais canetas e quando eu peço para alguém escrever algo, há uma dificuldade já que pelo celular é só falar que ele mesmo digita. Muitas funções de serviços, até as mais simples, hoje só podem ser exercidas se a pessoa tiver conectada com a outra. É uma bola de neve que vai ser formando, tanto social quanto, no meu caso, do app”, analisa.
Paula Lopes, de 34 anos, é técnica de Enfermagem, mas também trabalha como designer de unhas. Assumidamente viciada em internet, ela afirma que seu trabalho foi quase totalmente comprometido pelo apagão.
“Eu utilizo muito a internet. O apagão afetou demais as pessoas e, no meu caso, que trabalho com a internet e divulgo meus trabalhos pelas redes sociais, senti que fui muito prejudicada. Eu sou manicure e preciso estar em contato com minhas clientes. Além disso, o fato de não conseguir abrir aplicativos de banco ou usar aplicativos de carros de corrida, tudo isso me deixou parada. Eu não consegui usar nada e não fiz nada, já me considero viciada. Ficar sem internet no celular me afeta demais”, conta.
A dependência tecnológica se dá quando não é possível controlar a necessidade de utilizar smartphones, internet ou jogos, como ocorre em um vício. Os riscos e prejuízos são grandes, no entanto, o diagnóstico é difícil de realizar, já que as tecnologias estão inseridas no cotidiano e nas atividades realizadas, tornando difícil de prever quando o uso está excessivo. Conforme a Psicóloga Roberta Rios, as pessoas passaram a ver as tecnologias como um tipo de ‘extensão’ do próprio corpo.
“Hoje, sejam adultos, crianças ou adolescentes, possuem dificuldades de não terem algo na mão, devido às facilidades que a tecnologia pode proporcionar. Mas isso causa inúmeros prejuízos também, como nas relações sociais, emoções, sentimento e convivência com o outro. Esse excesso de tecnologias ao qual todos estamos inseridos nos faz ser imediatistas. Ninguém gosta de esperar para resolver algo, todos buscam aplicativos, sites e outras tecnologias. Então, o nível de ansiedade aumenta, pois essas telas são ansiogênicas”, explica a psicóloga.
Roberta Rios ainda cita o ocorrido no dia do apagão nacional e como as pessoas se mostraram completamente à mercê do aparelho celular. “Nesse dia foi um desespero total. As pessoas demonstraram um enorme despreparo quando se trata de não conseguir ter acesso a um celular e a internet. Já que, sem isso, ninguém consegue se locomover, pedir um alimento, falar com as outras pessoas. Então isso gerou ansiedade, um desânimo, enquanto as pessoas esperavam a conectividade voltar. É como se estivessem sem saber o que fazer”, observa.
Para a Psicóloga, o primeiro passo para aprender a lidar com a dependência tecnológica e superá-la é compreender a existência do problema.
“Quem é adulto precisa ter consciência desse problema. Depois, buscar outras atividades que não precisem do celular, como as feitas ao ar livre, e evitar estar com o aparelho tecnológico em mãos o tempo todo. Quando o problema envolve crianças e adolescentes, a questão passa a ser o monitoramento, tanto na quantidade de tempo, quanto na qualidade. Os adultos são responsáveis por monitorar as crianças e também o próprio comportamento diante das tecnologias”, declara Roberta.
Como identificar possível dependencia de tecnologias?
Alguns sinais que o corpo transmite quando há um problema de uso severo de tecnologias são:
Dificuldade nas interações e desenvolvimento de habilidades sociais;
Imediatismo;
Problemas emocionais ou psicológicos;
Fácil distração;
Dificuldade com o sono;