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Ananindeua tem o primeiro servidor público da etnia Warao

Norberto Nunes é intérprete de Warao e trabalha no CRAS do Distrito Industrial.

Emanuele Correa

Ananindeua está entre os municípios pioneiros a contratar um servidor público da etnia indígena venezuelana Warao. Norberto Nunes, 29 anos, formado em administração, trabalha há 3 meses como tradutor-intérprete em três Centros de Referência e Atendimento Social (CRAS) do município: Distrito Industrial, Curuçambá e Daniel Reis (Levilandia). Ele faz parte do Comitê Intersetorial Municipal de Acolhimento e Atenção à População Indígena Warao (CIMAPIW), da Secretaria Municipal de Cidadania, Assistência Social e Trabalho (SEMCAT). 

Desde 2019, os Warao começaram a migrar para Ananindeua, uma das cidades com maior presença entre os mais de 900 refugiados que estão no Pará. "O CRAS Curuçambá foi o primeiro de Ananindeua a atendê-los, mas em uma ação de entrega de enxovais percebemos que aquela mãe não estava entendendo o que estávamos falando. Em conversa com o prefeito, decidimos contratar um intérprete para incluí-los de verdade, e chegamos no Noberto para a função", disse a secretária municipal de assistência social, Marisa Lima.


Atualmente, 215 indígenas Warao moram em Ananindeua. Destes, 30 famílias, com 117 pessoas, moram no bairro do Curuçambá; no Distrito Industrial,18 famílias com 69 pessoas e no bairro Levilandia, residem 12 famílias, integrando 29 pessoas. Norberto atua junto a essa população, traduzindo as conversas entre sociedade civil e órgãos públicos. Também auxilia na garantia dos direitos e atendimentos necessários. Ele comenta que é um exemplo para os demais Warao que moram no Pará, especificamente, em Ananindeua.

"Eu fico muito feliz em estar trabalhando e servir de exemplo aos meus colegas Warao. E, também, em poder ajudar na tradução, para que eles consigam os atendimentos, tenham mais dignidade", disse o servidor.

A secretária de Assistência Social de Ananindeua explica como funciona o atendimento e as estratégias de inclusão dos Warao no município e os planos a longo prazo. "A SEMCAT é responsável por dez CRAS. Eles atendem por territorialidade. Temos três CRAS atendendo os Warao, que moram nos respectivos bairros do: Distrito, Curuçambá e Levilândia. Esta moradia é provisória, pois após audiência pública, consultando os Warao com a ajuda do Norberto, a Prefeitura levantou que a melhor moradia seria nas ilhas. A primeira ilha a receber os moradores será a 'Sassunema'. A princípio, para a ilha, irão as famílias que moram no bairro do Curuçambá. Atualmente as moradias estão em fase de planejamento", detalha.

Troca de experiência é rico intercâmbio cultural

As tradições Warao continuam vivas em território paraense. Noberto relatou que o Cacique Warao reúne as famílias que moram nos três bairros para realizar encontros com danças, comidas e também praticar esportes. Norberto, que mora desde 2020 com a esposa e seus dois filhos, no bairro Levilândia, relata a importância desses encontros e o respeito com a cultura Warao.

"A cultura sempre vamos levar para qualquer parte do mundo, em nosso coração. Meus familiares e eu, em casa, falamos 'warao' para que nossos filhos não percam o idioma. Ensinamos o que nós fazíamos na Venezuela. Cuidamos da nossa dança. Nós compartilhamos momentos juntos, para dançar e cantar. Para essa cultura permanecer e buscar melhorias", pontuou Norberto.

Norberto contou à redação integrada de O Liberal que tem uma mensagem para os Waraos e para os paraenses. "Nós, Warao, temos que buscar as melhorias, trabalhar e aprender, para que os brasileiros possam nos ver como pessoas boas. E os brasileiros, nós desejamos fazer esse intercâmbio, desejamos respeito a nosso povo e a nossa cultura, que nos aceitem como parte, pois eu já me sinto morador de Ananindeua. Creio que vou fazer minha vida com minha família aqui", finalizou Norberto.

Belém