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Projeto ‘Casa Palafita’ da UFPA valoriza arquitetura amazônica e saberes tradicionais

Modelo sustentável de uma casa de palafita foi construído por alunos da Faculdade de Arquitetura da UFPA em parceria com instituições internacionais

Andréia Santana | Especial para O Liberal

Visando valorizar os saberes arquitetônicos tradicionais da Amazônia e das populações ribeirinhas, que constroem moradias adaptadas às cheias e vazantes dos rios, o projeto Casa de Palafita ergueu uma casa de 35 metros quadrados em frente à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal do Pará (UFPA). A estrutura foi construída com madeira certificada de reflorestamento e incorpora elementos sustentáveis inspirados nas práticas construtivas amazônicas.

A palafita é resultado de uma parceria entre a UFPA, a École Nationale Supérieure d’Architecture de Paris-Belleville (Ensa-PB), a Ordem dos Arquitetos da França e o Laboratório da Cidade, sediado em Belém. Uma das responsáveis pela orientação dos alunos participantes foi a professora Monique Bentes, que destacou a importância do estudo das palafitas, consideradas expressões arquitetônicas baseadas nos saberes tradicionais dos povos ribeirinhos.

“Palafitas são construções suspensas do solo. O termo está relacionado à elevação que protege da umidade e à convivência com a água. Aqui na Amazônia, elas aparecem nas áreas de várzea, influenciadas pela cheia e pela maré. É uma forma de sobrevivência e uma alternativa de moradia para quem vive em regiões alagadas”, explicou a professora.

“Elas existem nas ilhas próximas à universidade, como a Ilha do Combu e a Ilha das Onças, como habitações tradicionais, mas também há palafitas urbanas nas baixadas. O estudo dessas construções é importante até para pensar em soluções de habitação de interesse social, especialmente quando a palafita está em condições precárias”, acrescentou.

Com custo estimado em dez mil euros (cerca de R$ 60 mil), a Casa de Palafita foi idealizada e construída por intercambistas de instituições francesas que vieram a Belém especialmente para participar do projeto, em parceria com cerca de 40 alunos de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPA (FAU), entre eles Thiago Monteiro, Hélvio Arruda e Wesley Martins, sob a coordenação do professor José Júlio Lima. A iniciativa também contou com a participação e orientação de mestres carpinteiros, moradores das ilhas próximas à universidade, com ampla experiência na construção de palafitas.

“Os estudantes que vieram do exterior trouxeram algumas ideias, mas queriam que completássemos e construíssemos juntos. Esta palafita não é só dos intercambistas nem só dos alunos da FAU. É um conjunto de ideias que resultou no que vemos hoje”, contou Thiago.

“Os mestres carpinteiros residentes das ilhas, Anderson e Val, nos auxiliaram o tempo todo, porque eles têm a técnica e o saber fazer, que é ancestral”, completou Hélvio.

Além da madeira certificada de reflorestamento, alunos e intercambistas utilizaram materiais tradicionais e recicláveis, como folhas, argila, bambu e até garrafas PET, unindo técnicas sustentáveis e saberes regionais.

“Tudo isso contribui para a sustentabilidade e para a reutilização dos materiais. Também priorizamos o conforto térmico, sem precisar de refrigeração artificial”, explicou Thiago.

“Além da sustentabilidade dos materiais, como a madeira, usamos itens comuns, como garrafas PET, que foram cortadas e adaptadas para abrigar vegetação”, acrescentou Wesley Martins.

A construção da casa levou um mês para ser concluída e foi inaugurada em julho. Novos projetos ainda estão sendo planejados para complementar a estrutura e o espaço ao redor.

“Além do que já foi construído, vamos fazer uma passarela, que seria uma estiva ligando os fundos da palafita à passarela da Faculdade de Arquitetura, garantindo melhor acesso e unificando o jardim em uma área de convívio para os alunos”, explicou a professora Monique Bentes.

A permanência da casa em frente ao prédio da FAU ainda é indefinida. Segundo a professora Louise Pontes, que também participou do projeto, a ideia é desmontar e remontar a construção em outros locais, permitindo que mais pessoas conheçam a palafita.

“O protótipo foi montado aqui e depois deve ser desmontado e remontado em outro lugar. Esse destino ainda não foi definido, mas a intenção é que ele continue contribuindo em outros cenários”, contou.

“Enquanto estiver aqui, a casa estará à disposição dos estudantes e deve ser incorporada na rotina da faculdade, em aulas e atividades do dia a dia”, completou Louise.

COP 30

Com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), que será realizada em Belém de 10 a 21 de novembro, a Casa de Palafita fará parte da programação do evento, oferecendo exposições e visitação ao público.

“Este ano é o Ano Brasil-França, então a Casa de Palafita integra as atividades da COP. Ela será aberta para visitação e contará com uma exposição. Também há um projeto para complementar as divisórias, estudadas com diferentes materiais e tipos de abertura, e essa complementação estará disponível ao público durante o evento, junto com a exposição organizada pelos alunos”, finalizou a professora Monique Bentes.