Projeto ‘Casa Palafita’ da UFPA valoriza arquitetura amazônica e saberes tradicionais
Modelo sustentável de uma casa de palafita foi construído por alunos da Faculdade de Arquitetura da UFPA em parceria com instituições internacionais
Visando valorizar os saberes arquitetônicos tradicionais da Amazônia e das populações ribeirinhas, que constroem moradias adaptadas às cheias e vazantes dos rios, o projeto Casa de Palafita ergueu uma casa de 35 metros quadrados em frente à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da Universidade Federal do Pará (UFPA). A estrutura foi construída com madeira certificada de reflorestamento e incorpora elementos sustentáveis inspirados nas práticas construtivas amazônicas.
A palafita é resultado de uma parceria entre a UFPA, a École Nationale Supérieure d’Architecture de Paris-Belleville (Ensa-PB), a Ordem dos Arquitetos da França e o Laboratório da Cidade, sediado em Belém. Uma das responsáveis pela orientação dos alunos participantes foi a professora Monique Bentes, que destacou a importância do estudo das palafitas, consideradas expressões arquitetônicas baseadas nos saberes tradicionais dos povos ribeirinhos.
“Palafitas são construções suspensas do solo. O termo está relacionado à elevação que protege da umidade e à convivência com a água. Aqui na Amazônia, elas aparecem nas áreas de várzea, influenciadas pela cheia e pela maré. É uma forma de sobrevivência e uma alternativa de moradia para quem vive em regiões alagadas”, explicou a professora.
“Elas existem nas ilhas próximas à universidade, como a Ilha do Combu e a Ilha das Onças, como habitações tradicionais, mas também há palafitas urbanas nas baixadas. O estudo dessas construções é importante até para pensar em soluções de habitação de interesse social, especialmente quando a palafita está em condições precárias”, acrescentou.
Com custo estimado em dez mil euros (cerca de R$ 60 mil), a Casa de Palafita foi idealizada e construída por intercambistas de instituições francesas que vieram a Belém especialmente para participar do projeto, em parceria com cerca de 40 alunos de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPA (FAU), entre eles Thiago Monteiro, Hélvio Arruda e Wesley Martins, sob a coordenação do professor José Júlio Lima. A iniciativa também contou com a participação e orientação de mestres carpinteiros, moradores das ilhas próximas à universidade, com ampla experiência na construção de palafitas.
“Os estudantes que vieram do exterior trouxeram algumas ideias, mas queriam que completássemos e construíssemos juntos. Esta palafita não é só dos intercambistas nem só dos alunos da FAU. É um conjunto de ideias que resultou no que vemos hoje”, contou Thiago.
“Os mestres carpinteiros residentes das ilhas, Anderson e Val, nos auxiliaram o tempo todo, porque eles têm a técnica e o saber fazer, que é ancestral”, completou Hélvio.
Além da madeira certificada de reflorestamento, alunos e intercambistas utilizaram materiais tradicionais e recicláveis, como folhas, argila, bambu e até garrafas PET, unindo técnicas sustentáveis e saberes regionais.
“Tudo isso contribui para a sustentabilidade e para a reutilização dos materiais. Também priorizamos o conforto térmico, sem precisar de refrigeração artificial”, explicou Thiago.
“Além da sustentabilidade dos materiais, como a madeira, usamos itens comuns, como garrafas PET, que foram cortadas e adaptadas para abrigar vegetação”, acrescentou Wesley Martins.
A construção da casa levou um mês para ser concluída e foi inaugurada em julho. Novos projetos ainda estão sendo planejados para complementar a estrutura e o espaço ao redor.
“Além do que já foi construído, vamos fazer uma passarela, que seria uma estiva ligando os fundos da palafita à passarela da Faculdade de Arquitetura, garantindo melhor acesso e unificando o jardim em uma área de convívio para os alunos”, explicou a professora Monique Bentes.
A permanência da casa em frente ao prédio da FAU ainda é indefinida. Segundo a professora Louise Pontes, que também participou do projeto, a ideia é desmontar e remontar a construção em outros locais, permitindo que mais pessoas conheçam a palafita.
“O protótipo foi montado aqui e depois deve ser desmontado e remontado em outro lugar. Esse destino ainda não foi definido, mas a intenção é que ele continue contribuindo em outros cenários”, contou.
“Enquanto estiver aqui, a casa estará à disposição dos estudantes e deve ser incorporada na rotina da faculdade, em aulas e atividades do dia a dia”, completou Louise.
COP 30
Com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30), que será realizada em Belém de 10 a 21 de novembro, a Casa de Palafita fará parte da programação do evento, oferecendo exposições e visitação ao público.
“Este ano é o Ano Brasil-França, então a Casa de Palafita integra as atividades da COP. Ela será aberta para visitação e contará com uma exposição. Também há um projeto para complementar as divisórias, estudadas com diferentes materiais e tipos de abertura, e essa complementação estará disponível ao público durante o evento, junto com a exposição organizada pelos alunos”, finalizou a professora Monique Bentes.
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