Primeiros sinais do inverno assustam moradores de áreas de enchentes
Devido à pandemia, com aumento de preços de materiais de construção, nem todo mundo conseguiu fazer as reformas preventivas de cada ano
Começou o "inverno amazônico", como aponta o Segundo Distrito do Instituto Nacional de Meteorologia (Disme / Inmet). As recentes chuvas fortes, caindo entre a tarde e a noite, já trouxeram os sinais de um período inteiro de transtornos a quem mora em áreas que, historicamente, enchem ou alagam. Alguns correm para concluir obras preventivas, como subir o nível do piso ou construir barreiras. Só que nem todo mundo conseguiu. Os preços de materiais de construção, durante o pico da pandemia de covid-19, subiram e não voltaram ao normal.
Diolanda Alves mora há 40 ano na passagem São João com a rua Engenheiro Fernando Guilhon, no limite entre os bairros Cremação, Jurunas e Batista Campos. Ao longo dos anos, os alagamentos a cada inverno só pioraram. Nada do que foi feito em obras públicas amenizou o problema. Só mesmo obras próprias, que também não fizeram milagre.
"E tudo ficou mais caro. Acho que já investi mais de R$ 30 mil para reformar a casa. Meu filho agora está construindo a dele e já com piso bem alto. Qualquer chuvinha dá problema e dos últimos dias encheu tudo. Já estamos preocupados", diz Diolanda, que cansou de ver vizinhos perderem tudo e ela mesma perdendo patrimônio conquistado com muito trabalho. Essa obra do filho está saindo muito mais cara pelos preços de material de construção. Ela mesma não vai fazer nenhuma obra nova.
No limite entre os bairros do Marco e da Terra Firme, na travessa Mauriti, várias áreas de entorno alagam, além da própria via. Uma delas é rua Valdir Acatauassu Nunes, onde a família de Rafael Luz tem um prédio comercial. Antes tinham um supermercado lá e precisaram quase construir um prédio novo para conseguir evitar que a água invadisse o imóvel. Hoje, há um inquilino lá.
"Nossa preocupação é de o inquilino ter problemas e resolver sair, porque a rua continua alagando e deixando o prédio ilhado. Eu hoje tenho um pet shop na Mauriti, mas numa área que acredito ser mais segura, só que vai depender da força da chuva. Sou nascido e criado na área e, infelizmente, estou acostumado a saber que época de chuva é isso: prejuízo. Já vimos muitos vizinhos, amigos e funcionários perdendo tudo", lamenta o microempresário.
Nos últimos anos, após o prolongamento da avenida João Paulo II, um ponto crítico de alagamento se formou e que precisa de pouca chuva para encher tudo e quase impossibilitar a mobilidade em algumas vias transversais, como a passagem Matilde. A comerciante Sandra Lopes mora lá e tem um restaurante na João Paulo II, ambos no bairro Curió-Utinga. Quando começa a chuva, não sabe qual local atende primeiro.
"Já perdi muita coisa. Sofá, fogão, máquinas, móveis, tudo estragado. Até teve um cadastro de auxílio de R$ 1,2 mil para pessoas que tiveram prejuízos, mas a entrega não foi para quem realmente foi prejudicado. Algumas pessoas nem tiveram problemas e receberam. E agora a João Paulo II está em obras, supostamente para resolver. E só tem nos prejudicado. Agora, a água, na Matilde, nem seca mais. Fica alagado direto.. São onze anos de medo do inverno", conta Sandra.
A Redação Integrada de O Liberal entrou em contato com a Prefeitura de Belém para saber das medidas preventivas para o inverno deste ano.
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