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Para aliviar ansiedade, uso de chupeta por adultos cresce e acende alerta de especialistas

O comportamento requer cuidado e devida atenção para que as causas - que vêm do emocional - sejam devidamente tratadas da maneira correta

O Liberal

Nos últimos meses, fotos e vídeos de adultos usando chupetas têm viralizado nas redes sociais. Enquanto alguns relatam que o hábito ajuda a reduzir ansiedade e estresse, dentistas e psicólogos alertam para possíveis impactos na saúde bucal e para questões emocionais associadas, como busca por conforto ou regressão a estágios infantis. O comportamento requer cuidado e devida atenção para que as causas - que vêm do emocional - sejam devidamente tratadas da maneira correta.

Já na idade adulta, a psicóloga Rafaela Guedes, de Belém, explica que esse comportamento está associado ao sentimento de conforto, que é experienciado como na infância. “No início da nossa vida, a gente experimenta a primeira forma de satisfação, tanto da necessidade como fonte de prazer. E o nosso primeiro registro psíquico é da satisfação oral, que acontece no processo de amamentação, na troca entre mãe e bebê. E essa volta do uso da chupeta é uma forma de retorno a um período muito arcaico da nossa vida em que a gente era dependente, cuidado, amado e que se recebia esse modo de satisfação oral”, detalha.

“Pelo próprio fato de rememorar essas experiências que ficam gravadas no psiquismo, no corpo, o ato de fazer uso da chupeta traz satisfação temporária. Entretanto, por se tratar da vida adulta, esse comportamento é um paliativo frágil. Na vida adulta, precisamos desenvolver certas habilidades e capacidade de lidar com as nossas angústias, com o sofrimento e com as ansiedades próprias inerentes à vida. Tudo isso também por meio da oralidade, mas por intermédio da fala”, acrescenta a psicóloga.

Sobre o efeito negativo, Rafaela destaca: “Existe sim o risco da pessoa criar dependência desse objeto e se afundar nesse novo modo de vício que não traz absolutamente nenhuma solução para os seus problemas a não ser um micro alívio paliativo imediato”. E, no momento em que esse hábito se torna uma necessidade para que a pessoa possa continuar e seguir com a vida, entramos no campo da patologia, da dependência. E toda a dependência gera uma série de malefícios para a vida do sujeito”, explica Guedes.

Psicoterapia

“A alternativa mais saudável, mais eficaz para se lidar com a ansiedade é fazer a psicoterapia, porque é que se vai descobrir a causa raiz de determinado problema, o que está desencadeando essa ansiedade, essa angústia. E, nesse processo, desenvolver estratégias maduras pela via da palavra, da criação, da criatividade do sujeito. E ainda, formas de lidar com isso que gera ansiedade, estresse e angústia”, lembra a psicóloga sobre a importância do processo terapêutico, muito além de qualquer atitude no dia a dia.

Mas também, lembra a psicóloga, é importante que as pessoas próximas sejam acolhedoras e abordem o assunto sem estigmatizar, caso percebam que o uso está ligado a questões emocionais: “O diálogo é sempre a saída. Pode-se e deve-se abordar a pessoa que você ama, que é querida e que está passando por uma situação de angústia e ansiedade que está recorrendo a esse quesito. O ideal é abordar de forma gentil, acolhedora, delicada e indicar que você está percebendo que está havendo um problema, mas que há uma saída, uma cura melhor e mais efetiva através da terapia”.

Saúde bucal

Por conta do uso da chupeta, os efeitos também podem ser sentidos na saúde bucal. De acordo com a odontóloga Andréa Fontany, especialista em ortodontia, podem haver alterações. “O principal risco é basicamente o mesmo que se observa na infância, só que em proporções menores. Isso porque, na infância, o ser humano ainda está se desenvolvendo, classificando os ossos. Mas, na fase adulta, a mordida errada, tanto mordida aberta quanto cruzada, por conta da fricção na chupeta, pode causar um desgaste", comenta.

"E ainda, sobrecarrega a articulação do paciente, principalmente quando usado durante a noite, porque são muitas horas em que a boca está aberta em uma posição errada. E também a questão da fala. Por conta da mordida aberta e da mordida cruzada, o uso da chupeta pode gerar uma dificuldade na fala. Para falar algumas sílabas, precisa que a nossa língua encoste no dente da frente. E se a mordida está aberta, o dente está um pouco mais para frente, acaba que a língua não encosta e isso pode prejudicar a fala. Não que o paciente não vai conseguir falar, mas que algumas pronúncias ele não vai mais conseguir falar tão certinhas", alerta Andréa.

Entre os efeitos, o desalinhamento dos dentes também pode ser uma consequência, como enfatiza a dentista. E até mesmo pode indicar que algo não vai bem. “Os sinais [de que a saúde bucal está comprometida] são justamente o aspecto de mordida aberta e o desalinhamento, quando o paciente observa que os dentes estão um pouco mais para frente, além de dores na articulação”, lembra, ainda, a especialista ao pontuar que ao perceber esses problemas um profissional deve ser procurado.