'O Liberal' é o legado de um visionário
Empresário construiu grupo de comunicação e deixou sua marca na história da imprensa brasileira
"Comprar O LIBERAL não foi o ato de maior ousadia de Romulo Maiorana, mas o primeiro e corajoso passo de um homem de visão". Com essas palavras, em novembro de 2018, na edição especial do aniversário de 72 anos do jornal O LIBERAL, o saudoso jornalista, professor e escritor paraense João Carlos Pereira citou parte do legado do empresário que entrou para a história do jornalismo no Brasil. Hoje, na edição comemorativa dos 74 anos de fundação deste informativo impresso, as palavras de João são reforçadas para brindar mais um ano de sucesso, credibilidade e modernidade, que são resultados do investimento feito em 1966, quando Romulo Maiorana se tornou proprietário do jornal, mostrando todo o amor que sentia pela comunicação.
O divisor de águas veio numa data simbólica, na tarde de 1º de maio de 1966, feriado nacional do Dia do Trabalhador, quando O LIBERAL passou a circular sob nova direção. A reestreia se deu em um dia de importância especial, tal como o lançamento, 20 anos antes, em 15 de novembro de 1946, Dia da Proclamação da República. Os leitores do jornalista Romulo Maiorana nem tiveram muito tempo para sentir saudade de quando ele era colunista do jornal “Folha do Norte”, de onde se despediu no final de abril de 1966. Foi um ressurgimento com mais espaço para informação de qualidade.
Nas descrições de João Carlos Pereira, a mudança de direção foi explicada como impactante porque o jornal estava tão desacreditado quanto sem leitores em 1966. A situação era difícil porque a minúscula tiragem de 300 exemplares era o sinal de que o veículo agonizava. Ao assumir um título praticamente morto, precisava estar absolutamente seguro dos riscos que corria e confiante em seu projeto.
Seis meses depois, segundo contou a João o jornalista Rubens Onetti, o jornal já vendia mais que a “Folha do Norte”, “A Província do Pará” e “O Imparcial”. Após três anos, o “Vespertino da Amazônia” havia multiplicado por seis a quantidade de linotipos - de dois passou para doze - e rodava na impressora plana “Walter Scott”, que imprimia o título em azul. A equipe não parava de crescer. Ele trouxe para o investimento alguns dos maiores nomes do jornalismo local.
No quesito modernização, outro momento que foi marcante nessa história se deu em 1º de maio de 1972 - data do aniversário de O LIBERAL, nas mãos de Romulo Maiorana. Foi quando os leitores conheceram a beleza da impressão em off-set. Na véspera, transbordando felicidade, “Seu Romulo”, como todos os chamavam, abriu a porta de casa, levando o primeiro exemplar com nova feição. Ele entrou no quarto e acordou a esposa, Lucidéa Maiorana, para mostrar a novidade. Chegou até a esfregar os cadernos no lençol branco da cama, para provar que ficavam para trás os dias da impressão a quente, deixava excesso de tinta no papel.
E uma outra mudança estrutural desafiadora veio em 1974, quando Romulo Maiorana comprou a “Folha do Norte” e transferiu O LIBERAL para o prédio da rua Gaspar Viana, em Belém, onde tantas vezes havia entrado, na condição de empregado. A modernidade se instalou imediatamente no jornal, pois as máquinas de escrever foram substituídas por computadores e novos processos de composição e edição chegaram em um ritmo surpreendente. Em 1993, a edição de domingo começou a trazer fotos coloridas. Não demorou muito para todo jornal ser impresso a cores.
Romulo Maiorana nasceu em 20 de outubro de 1922, em Recife, Pernambuco. A história de vida do jornalista e empreendedor que deixou uma marca consolidada na região Norte e no Brasil teve sua despedida em 23 de abril de 1986, em São Paulo. Dona Lucidéa Maiorana assumiu o controle da empresa. Nessa época, O LIBERAL já era o mais importante jornal da Amazônia e um dos mais respeitados do país, conforme frisou o professor João Carlos Pereira. Hoje, essa posição de vitória continua sendo celebrada pela família, pelos amigos e pelos colaboradores, que ajudam a dar seguimento no trabalho de um visionário.