Muros do Museu Goeldi viram galeria de arte urbana; veja como será a inauguração
19 artistas do Museu de Arte Urbana de Belém realizaram intervenções artísticas no Parque Zoobotânico e no Campus de Pesquisa do Museu Goeldi
Os muros históricos do Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi ganharam novas cores com a primeira grande intervenção artística após 130 anos de existência. O espaço é o palco da 3ª edição do Museu de Arte Urbana de Belém (MAUB), que selecionou 19 artistas brasileiros, principalmente paraenses, para pintar 19 murais no Museu Goeldi, unindo arte, cultura e ciência. A inauguração será no domingo (28), às 9h, na Av. Magalhães Barata, com shows, feira gastronômica e muitas atividades. No dia 3 de outubro, o Museu reabre após parada para reformas internas.
São 19 obras que incluem pintura muralista, grafite e outras propostas experimentais de arte urbana, sendo 17 murais no Parque Zoobotânico, no bairro de São Brás, e dois no Campus de Pesquisa, no bairro da Terra Firme. Os artistas começaram a pintar no dia 16 de setembro e finalizam um dia antes da inauguração, em 27 de setembro.
O diretor do Museu, Nilson Gabas Júnior, explicou que a ideia de transformar o espaço em uma galeria de arte urbana a céu aberto surgiu após ele ir à intervenção realizada pelo MAUB no Complexo Ver-o-Rio, em 2023. Em seguida, os diretores das duas instituições alinharam uma parceria e lançaram um edital para a inscrição de artistas. “Procuramos fazer um edital específico com temáticas amazônicas importantes ao Museu Goeldi, que tem uma interação entre ciência, cultura e educação ambiental”, explica Nilson Gabas.
O projeto é realizado pela Sonique Produções e Oito Quatro Produções, aprovado na Lei Federal de Incentivo à Cultura, e conta com o patrocínio da Vale, por meio da Lei Rouanet, com a chancela do Governo Federal e do Ministério da Cultura. O Iphan aprovou a intervenção artística no Museu Goeldi.
Artistas passaram por imersão com o Museu Goeldi
Os artistas selecionados tiveram uma preparação e imersão com representantes do Museu antes de começarem a pintar as obras, com o objetivo de conhecer mais sobre o espaço. A ideia é de que os murais transmitam o que há dentro do Museu. “Tivemos um diálogo com os representantes do Museu. Vimos um pouco do acervo e da pesquisa deles para, a partir disso, podermos criar algo que fizesse sentido para o que o Museu representa”, conta Dedéh Farias, artista visual paraense que participa do MAUB pela primeira vez.
Com base na preparação, Dedéh Farias escolheu retratar a arqueologia amazônica, representando a cerâmica de povos originários e pinturas rupestres, com o intuito de estimular o público a conhecer a história amazônica. “Vejo que muitas pessoas não sabem que têm pinturas rupestres aqui, então acho importante trazer esse olhar”, afirma.
A artista muralista paraense Dudi Rodrigues também destaca a importância das artes em despertar no público uma consciência ambiental. “O que tentamos passar é a importância de tudo o que compõe o Museu e a Amazônia. Quem passa e observa tem curiosidade de saber o que é cada elemento que está nas pinturas. Então, acredito que desperta um olhar mais atencioso à Amazônia, que é a minha intenção”, defende.
O mural de Dudi Rodrigues fala sobre o mangue de aninga, muitas espécies da fauna, como arraia, borboleta olho-de-coruja e aranha-caranguejeira, além de remeter ao grafismo Kayapó. “Estou muito feliz de retratar a minha vivência, incluindo vários seres da Amazônia”, relata.
Artistas de outros estados também fizeram arte no Museu Goeldi, como Wes Gama, artista muralista goiano, que pesquisa sobre a cultura nortista e viu uma oportunidade de juntar o tema que costuma trabalhar com a proposta do projeto. “Meu trabalho permeia a vida dos caboclos, das pessoas da mata, de quem trabalha no meio rural e tem um conhecimento ancestral. Aqui foi uma oportunidade de juntar a parte da natureza com as pessoas que se identificam com o trabalho”, explica.
Além de 12 paraenses, também há artistas do Amazonas, de São Paulo, do Distrito Federal e de Goiás. Confira a lista completa:
- Alessandro Hipz (AM) – Autodidata, o artista manauara une influências do hip-hop, HQs e da cultura amazônica, criando murais poéticos sobre a mulher amazônica e crenças populares
- And Santtos (PA) – Nascido em São Caetano de Odivelas, criou o movimento “Odivelismo”, que mistura realismo e surrealismo para retratar a identidade cultural amazônica
- Cely Feliz (PA) – Pioneira do “Caboclofuturismo”, transforma grafismos marajoaras e narrativas ribeirinhas em murais-rituais, afirmando-se como artista-pajé urbana
- Kekel (PA) – Marajoara, destaca-se pelo reaproveitamento de madeira de barcos em esculturas, letras e peças únicas, conectando tradição e sustentabilidade
- Graf (PA) – Natural de Belém, iniciou na pixação em 2002 e hoje valoriza ancestralidade afro-indígena em murais que retratam fauna e flora amazônicas
- Wira Tini (AM) – Kokama de Manaus, fundadora do Graffiti Queens, conecta saberes ancestrais e cultura urbana em obras que dialogam com meio ambiente e identidade indígena
- Deco Treco (SP) – Paulistano, cria universos pop surrealistas cheios de humor e nonsense, com murais que já circularam pelo Brasil, Europa e América do Sul
- Wes Gama (GO) – Autodidata, trabalha com o conceito de “Caipira Futurista”, refletindo sobre relações raciais, ambientais e a ancestralidade por meio de murais poéticos
- Ayala (PA) – Paraense, dedica-se ao string art e ao muralismo, criando obras autorais inspiradas na estética amazônica e em memórias afetivas regionais
- João Nove – Digital Orgânico (SP) – Une natureza e tecnologia em murais de grande escala, com destaque para obras no Brasil, EUA, Europa e Canadá
- Éder Oliveira (PA) – Reconhecido por retratos que refletem identidade e violência social, o paraense é referência nacional com obras de forte impacto crítico
- Chico Ribeiro (AP/PA) – Jovem artista amapaense radicado no Pará, pesquisa pintura em contextos periféricos, trazendo retratos sensíveis do cotidiano amazônico
- Alex Senna (SP) – Com sua estética em preto e branco, já levou seus murais poéticos para 24 países, abordando afeto, amor e vida urbana
- Lenu (PA) – Paraense, há mais de 15 anos desenvolve obras que transitam entre surrealismo amazônico e educação artística, valorizando pertencimento e identidade
- Dudi Rodrigues (PA) – Muralista autodidata de Belém, iniciou profissionalmente em 2022 e expressa vivências e crenças em obras acessíveis e transformadoras
- Dedéh Farias (PA) – Artista da periferia de Belém, atua desde 2009 no muralismo e artes visuais, destacando cores vibrantes e o imaginário amazônico em obras de grande escala.
- Amanda Nunes (DF/CE) – Nascida na Ceilândia, explora arte sacra e surrealismo, com obras já exibidas na SPFW e acervo da Pinacoteca Estadual do Ceará
- Dannoelly Cardoso (PA) – Bragantina, muralista e educadora, retrata memórias ribeirinhas e rostos amazônidas em diálogo entre realismo e contemporaneidade
- Gabz & Tsssrex (PA) – Dupla paraense, com experiências no graffiti desde 2004, unem juventude e maturidade em murais vibrantes que reafirmam identidade e resistência.
Inauguração dos murais será feita com grande festa
A inauguração dos murais do MAUB no Museu Goeldi será no domingo (28), a partir das 9h, em frente ao Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi, na Av. Magalhães Barata, que será fechada. O evento é gratuito e terá uma programação com música ao vivo, oficinas, atividade infantil, feira criativa e gastronômica. A parte interna estará fechada, pois o Museu reabre apenas no dia 3 de outubro.
A inauguração começa às 9h com brinquedos para crianças, praça de alimentação, feirinha criativa e Naiá e Benny – Entre rios e rabiscos. Às 10h, terá contação de história com Otânia. A oficina infantil é às 11h e a oficina de bolha de sabão será às 15h.
Entre as atrações, estão Baile do Mestre Cupijó, Ver o Brass, banda Reggaetown (com participação da cantora Layse) e DJ The Black. A programação terá volume controlado em respeito à fauna e flora do Parque e uma curadoria voltada à valorização da arte e da cultura amazônica.
“Convidamos desde já a todos para essa celebração da interligação entre ciência, arte e cultura”, disse o diretor Nilson Gabas Júnior.
Confira a programação completa:
- 9h – Naiá e Benny – Entre rios e rabiscos, brinquedos de criança (pula-pula, escorrega), mini rampa de skate com a Ziani Ramp, praça de alimentação e feirinha criativa
- 10h – DJ The Black
- 10h – Contação de história “Causos de Dona Cotia”, com Otânia Freire
- 11h – Oficina infantil Reciclando e Fazendo Arte, com o grafiteiro Santo
- 12h às 13h30 – DJ The Black
- 13h30 – Show com Ver o Brass
- Intervalo – DJ The Black
- 15h – Oficina de bolha de sabão com Pedro Bolhas
- 15h30 – Baile do Mestre Cupijó
- Intervalo – DJ The Black
- 17h30 – Show da banda Reggaetown, que recebe a cantora Layse para uma performance especial
- 19h – DJ The Black até o encerramento
Museu Goeldi reabrirá em 3 de outubro
A reabertura do Museu Goeldi será no dia 3 de outubro, após ser fechado para reformas que começaram em 18 de agosto. Os serviços feitos foram de limpeza, manutenção e preparação de cinco recintos de animais e sete prédios do Parque Zoobotânico, com o objetivo de deixar o espaço pronto para ser ocupado durante a COP 30, visto que o Museu receberá delegações e eventos paralelos.
Os recintos que passaram por obras foram os da onça-pintada (Panthera onca), da ariranha (Pteronura brasiliensis), da tartaruga-da-amazônia (Podocnemis expansa), do jacaré-açu (Melanosuchus niger) e o Lago do Pirarucu (Arapaima gigas). Entre as mudanças, destaca-se a troca e recuperação de gradis, corrimãos e parapeitos.
Os prédios receberam limpeza, pintura, pequenos reparos na estrutura, nas esquadrias e nas instalações elétricas e hidráulicas, além da adequação dos banheiros. Entre os prédios que passaram por manutenção, estão quatro chalés históricos (Andreas Goeldi, Rodolfo Siqueira Rodrigues, João Batista de Sá e o da esquina da Nove de Janeiro com a Magalhães Barata), o prédio da Biblioteca Clara Maria Galvão, o Auditório Alexandre Rodrigues Ferreira, o pavilhão expositivo Rocinha, além da portaria da bilheteria do local.
Após a COP 30, o Museu Goeldi passará por uma segunda etapa de reformas, quando os prédios históricos passarão por obras maiores de infraestrutura, incluindo reforma dos telhados e reforços estruturais, entre outros serviços. Os elementos arquitetônicos, como molduras e pinturas artísticas, também serão reformados.
Os recursos estão garantidos e são da ordem de R$ 20 milhões. O Museu Goeldi articulou junto ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que viabilizou o recurso via Finep. A previsão de entrega é em 2026, a fim de celebrar os 160 anos de fundação.
Serviço
Inauguração dos murais do MAUB – Edição Especial Museu Goeldi
Data: Domingo, 28 de setembro.
Horário: A partir das 9h.
Local: Av. Magalhães Barata (em frente ao Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi).
Entrada: gratuita.
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