Mural na UFPA une arte indígena, ancestralidade e denúncia ambiental com argila e carvão
Painel de 80 metros reúne artistas indígenas, urbanos e quilombolas em Belém para alertar sobre as queimadas e homenagear os saberes ancestrais
Painel de 80 metros reúne artistas indígenas, urbanos e quilombolas em Belém para alertar sobre as queimadas e homenagear os saberes ancestrais
No muro do portão 1 da Universidade Federal do Pará (UFPA), no bairro do Guamá, em Belém, um grupo de artistas transforma a dor em arte: Um mural coletivo de 80 metros, intitulado “A solução somos nós”, é pintado com argilas das ilhas de Cotijuba e Caratateua e carvão de florestas consumidas pelo fogo. A iniciativa é mais que uma obra visual: é um manifesto ambiental em antecipação à COP 30, que será realizada em novembro, na capital paraense. O trabalho, que começou na segunda-feira (19) e será entregue nesta sexta-feira (23), é assinado por oito artistas - três deles indígenas - e também conta com a participação de artistas da comunidade local.
Ao longo do painel são retratadas imagens de lideranças indígenas como Auricelia Arapiun, Julia Anambé, liderança feminina do território Anambé. Além da professora Zélia Amador, símbolo da luta antirracista na UFPA. E o mestre Jorge, da comunidade “África”, no município de Moju. Encantados da espiritualidade indígena e referências aos saberes ancestrais também ocupam o espaço.
Parte do pigmento é feito com cinzas das queimadas de 2024 que devastaram 40 mil hectares da Terra Indígena Anambé, no Pará. Mundano, artista visual e fundador do movimento “Megafone Ativismo”, um dos grupos convidados para integrar o projeto, destaca a importância dos materiais utilizados, coletados na própria região.
“Usamos pigmentos extraídos aqui na região de Belém: a argila, por exemplo, é de Cotijuba: Usamos terra do fundo do rio e as cinzas de um carvão das queimadas que ocorreram no estado. Então são esses materiais coletados que usamos como base da nossa pintura. Nesse sentido, trata-se de um resgate dos pigmentos mais antigos da humanidade que caíram em desuso mas que são super potentes.”, ressalta.
O mural também funciona como uma contagem regressiva simbólica para a COP 30. Situado em um ponto estratégico da cidade, o painel chama atenção para o papel da arte como ferramenta de denúncia, educação ambiental e valorização dos povos originários.
Cely Feliz (40) é uma das artistas visuais que integra o projeto e comenta os impactos das mudanças climáticas sentidas no dia a dia. “A gente quer chamar atenção mesmo para o desmatamento, para as questões ambientais. Nós que somos grafiteiros, artistas de rua, sentimos na pele esse aumento da temperatura. A gente sabe a falta que faz uma árvore para dar sombra. Então, a gente não está só deixando o muro mais bonito, mas discutindo essa problemáticas também.”, destaca
Para a artista visual Tai, a intervenção contribui com a lembrança de que é possível reverter os efeitos das mudanças climáticas: “Esse muro está falando da degradação que a natureza vem sofrendo, mas também da esperança. Mas isso só será possível se tiver a participação de todos.”, afirma
O grafite será entregue nesta sexta-feira (23) , durante uma cerimônia que será realizada a partir das 10h, próximo ao portão 1 da Universidade. A programação deve contar com a participação de membros da UFPA, comunidade local e artistas visuais integrantes do projeto.