Motociclistas de Belém apontam imprudências no trânsito; número de mortes em sinistros cresceu
Maior instrução de condutores e mais fiscalizações são essenciais para diminuir os sinistros
Motociclistas já respondem por 39% das mortes no trânsito no Brasil, segundo nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O número de óbitos envolvendo esse público saltou de 792 para 13.521 entre 1996 e 2023, um aumento de 1.603%, ou 17 vezes mais. Os dados, extraídos do Datasus, mostram que os motociclistas passaram de 3% das vítimas mortas em sinistros de trânsito para quase quatro em cada dez mortes no país.
O aumento acompanha a forte expansão da frota nacional. Entre 1998 e 2024, o número de motocicletas e motonetas registradas no Brasil cresceu de 2.700.000 para 34.500.000, alta de 1.185%, equivalente a 12 vezes mais, segundo a Senatran, do Ministério dos Transportes.
Belém segue essa tendência nacional, uma vez que as motos se consolidaram como um dos principais meios de transporte da capital paraense, utilizadas tanto para deslocamento diário quanto para atividades profissionais, como entregas e mototáxi. Com o aumento da circulação, também cresceram os sinistros, muitos deles com mortes, cenário que reforça a vulnerabilidade de quem utiliza motocicletas na cidade.
O Ipea reforça, na nota técnica “Mortalidade e morbidade das motocicletas e os riscos da implantação do mototáxi no Brasil”, a necessidade de discutir as fragilidades e problemas associados ao crescimento acelerado das motocicletas no país. A análise aponta que o uso da moto se tornou uma alternativa aos transportes públicos precários e às longas distâncias urbanas, mas trouxe consigo uma elevação significativa no número de feridos e mortos.
Perfil das vítimas
O perfil das vítimas, segundo o Datasus (2025), também revela padrões claros. Entre 2005 e 2024, mais de um terço (35,8%) das mortes envolveram jovens de 20 a 29 anos (75.245 pessoas). Em seguida aparecem os motociclistas de 30 a 39 anos, com 22,8% das vítimas (48.483 mortes). Já condutores com mais de 60 anos representam apenas 5,6% das mortes, um total de 11.930.
A escolaridade também é um indicador de vulnerabilidade. No recorte de 2004 a 2023, 71,4% das vítimas tinham no máximo o ensino médio completo. Apenas 5,9% estavam cursando ou haviam concluído uma graduação. Outros 22,8% dos registros não informavam nível de escolaridade. Para o Ipea, esses dados sugerem que a maior parte das vítimas pertence aos estratos sociais mais baixos.
Como diminuir os sinistros
Um ponto essencial para reduzir o número de sinistros e mortes em sinistros de motociclistas é a melhoria da formação desse condutor. “O motociclista precisa ter uma formação muito maior, mais intensa e mais exigente, principalmente no quesito pilotagem defensiva”, defende Benedito Luis de França.
Outro fator importante é a existência da fiscalização de trânsito, principalmente presencial, por agentes de trânsito, com apoio da Polícia Militar, da Guarda Municipal e até da Polícia Rodoviária Federal. “Fazer constantemente operações, barreiras, fiscalizações de documentos e parar os motociclistas”, detalha o especialista em trânsito.
Motociclistas relatam imprudências
A promotora de vendas Ediene Cunha dirige motocicleta há 10 anos e relata que toma uma série de cuidados para evitar sinistros, até os fatais. “Nós somos o nosso para-choque. Tenho todo o cuidado. Dirijo olhando para os retrovisores, deixo a distância adequada para o outro veículo, não costumo andar em corredor”.
A respeito dos sinistros, sejam fatais ou não, o ótico Jeter Carvalho destaca a imprudência de muitos motociclistas. “Tem condutores de motocicleta que são bem precavidos. Mas tem outros condutores que são muito imprudentes, não respeitam os outros veículos e, assim, acontecem acidentes”, afirma.
No caso de Eduardo Cascaes, ele trabalha como mototaxista há quase 30 anos e alerta para os perigos de trabalhar como motorista, principalmente para os mais jovens. “A profissão que exercemos é de alto risco, pois hoje ninguém tem mais educação e falta sinalização. Os mais jovens que estão tirando carteira para ser motorista de aplicativo precisam triplicar a atenção, porque a maioria anda olhando para o celular”.
Palavras-chave