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Horta em casa: saiba como cultivar hortaliças para uma alimentação saudável e bem-estar

O cultivo caseiro possibilita vantagens econômicas, sociais, ambientais e até mesmo psicológicas para quem cultiva

Bruno Roberto | Especial para O Liberal e Ayla Ferreira*

O cultivo de hortaliças em casa é uma prática que proporciona o consumo de alimentos saudáveis, sem uso de agrotóxicos, com baixa ou nula degradação ao meio ambiente e bem-estar para quem pratica, servindo como uma atividade terapêutica. Ao mesmo tempo, ter uma horta em casa requer disciplina e dedicação, pois demanda cuidados do morador, como regar e nutrir as plantas.

Cultivar uma horta em casa traz vantagens econômicas, sociais, ambientais e até mesmo psicológicas para as pessoas que cultivam. Como o plantio é feito em pouca quantidade, não há degradação nem geração de excesso de resíduos para o meio ambiente. Além disso, a horta doméstica ajuda a economizar na feira e no supermercado, já que é possível ter plantas aromáticas, medicinais e condimentares em casa.

Um exemplo de quem tem essa iniciativa é a professora Merize Américo, que cultiva mais de 600 plantas em casa. Moradora de Ananindeua, bairro do Coqueiro, na Região Metropolitana de Belém, ela mantém uma horta, um jardim interno, canteiros externos e outros espaços verdes - mesmo morando em um condomínio. Merize conta que o interesse por plantas surgiu ainda na infância. “Eu sou filha de roceiro. Nasci ribeirinha e minha infância foi na zona rural. Me criei vendo meus pais plantarem para comermos. Então, não me vejo em lugar nenhum sem planta”, afirma Merize, que ainda cultiva mais espécies em Mosqueiro e Breves.

O espaço da horta da professora fica em frente à pia da cozinha, um local estratégico para colher as hortaliças e usá-las no preparo de alimentos. A professora possui cebolinha, alfavaca, chicória, couve, hortelã, boldo, cominho e cidreira, além de árvores frutíferas como coqueiro e açaizeiro. A ideia de Merize é aumentar o espaço da horta e plantar tudo o que se consome no dia a dia.

Entre os benefícios, Merize Americo destaca que o cultivo em casa ajudou com a saúde mental em um momento pessoal difícil. “Se eu não tivesse as minhas plantas, em determinado momento da minha vida eu teria ‘sucumbido’. Eu passei por várias perdas em um período só e não tinha tempo para fazer terapia. Eu me recuperei cuidando das minhas plantas”, conta.

Outro benefício de ter uma área verde em casa é em relação ao clima. Segundo a professora, o calor é amenizado no dia a dia, com mais ventilação e bem-estar. “Não sofro com calor dentro de casa. Não é só por ser um espaço ventilado, mas as plantas propiciam isso. Se eu quiser dormir sem ventilador, eu durmo”, relata.

Os cuidados diários que a professora toma estão relacionados a regar as plantas pelo menos duas vezes, nutrir com adubos e ficar atenta aos fungos. No caso de hortaliças, Merize ressalta ainda que fica atenta aos animais domésticos, que podem comer os alimentos.

A respeito dos nutrientes de que a horta e outras plantas precisam, a professora guarda restos de vegetação em uma caixa d’água, junto com caroços de açaí, cascas de ovos e terra natural, para produzir um adubo caseiro.

O maior desafio para Merize é ter tempo suficiente para cuidar da horta e do jardim, por conta dos afazeres profissionais, pessoais e domésticos. Para isso, a estudante Caroline Américo, filha de Merize, ajuda nos cuidados diários, regando as plantas.

Vantagens

Cultivar uma horta em casa traz vantagens econômicas, sociais, ambientais e até mesmo psicológicas para as pessoas que cultivam. Como o plantio é feito em pouca quantidade, não há degradação e nem geração de excesso de resíduos para o meio ambiente. Além disso, a horta doméstica ajuda a economizar na feira e no supermercado, já que é possível ter plantas aromáticas, medicinais e condimentares em casa. Quem explica é o agrônomo Silvio Araújo, analista de transferência da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

“Os benefícios estão relacionados primeiro à questão alimentar, já que você tem uma produção de hortaliças e sabe como foram produzidas. Você sabe o adubo que foi colocado, a quantidade de água e também que o resíduo que foi colocado ali vai ter uma destinação adequeada”, detalha o agrônomo. Silvio destaca a economia, já que ao invés de ir na feira ou no supermercado, é possível produzir os alimentos em casa.

“Os alimentos vão ajudar na questão da saúde mental adequada e equilibrada, porque você vai estar cuidando de uma vida. Se alguém consegue cuidar de uma planta, ela também tem mais afinidade com as pessoas pelo fato de cuidar daquela vida”, afirma Silvio. 

Em uma cidade como Belém, que possui um clima tropical úmido, as hortaliças mais indicadas para o tipo de cultivo são alface, couve, almeirão, rúcula, cebolinha e coentro — condimentos muito utilizados no dia a dia para pratos diversos. Plantas de grande porte, como repolho e acelga, não são indicadas para espaços pequenos. “As plantas menores são mais fáceis de produzir. O próprio repolho, o tomate. Outras plantas como o morango, que não é da nossa região, necessitam de uma diferença de temperatura e é mais difícil”, diz Silvio.

Plantio

Para o cultivo de hortaliças na cidade, o ideal é investir em vasos, de acordo com o agrônomo. Ele explica que a maior parte da terra da cidade já está contaminada com esgoto doméstico, tanto das águas cinzas, como é o caso de pias e banheiros, quanto de águas negras, advindas do vaso sanitário. Há também o risco da presença de ratos e outros animais, que podem provocar doenças. Nos vasos, o cultivo se torna mais simples, reduzindo o risco de contaminação por pragas. 

No caso da escolha por plantio em terra vegetal, a compostagem pode se tornar uma grande aliada. Isso porque o processo reproduz a decomposição de resíduos na natureza dentro de uma caixa, onde são utilizadas frutas, verduras e outros restos de alimentos. O resultado é um material rico em hormônio do crescimento e outros que favorecem o crescimento adequado das plantas, e também ajuda com a problemática do descarte de resíduos orgânicos que iriam para o lixo comum.

 “A gente faz uma mistura 1:1 de terra com o composto orgânico e faz também uma adubação com calcário, para acrescentar outros micronutrientes que podem não estar presentes no composto orgânico e na terra, como cálcio e magnésio. E a partir daí você planta”, informa Silvio. O composto orgânico gera chorume, que também pode ser utilizado na rega na proporção de 1:19 (uma quantidade de chorume para 19 de água). 

Além do cultivo na terra, as plantas podem ser beneficiadas também pelo sistema de hidroponia, crescendo apenas em água misturada com solução nutritiva, feita com nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, cálcio e magnésio. Esse modelo de plantio utiliza uma bomba de aquário e também pode ser feito em casa.

Independentemente da escolha por terra ou hidroponia, todas as plantas necessitam de sol para a fotossíntese. “As plantas precisam ficar em um lugar ensolarado, que pegue o sol da manhã, mas não pegue o sol da tarde. Caso não tenha, você coloca uma lâmpada fluorescente, que gaste pouca luz, e dá pelo menos 12 horas de luz para as plantas. Dessa forma, elas também vão crescer e produzir rapidamente”, indica o agrônomo.

Algumas pragas são comuns em hortas caseiras, como cochonilhas e pulgões. No entanto, como a produção é em pequena escala, o controle se torna mais fácil. “A gente não recomenda o uso de produtos químicos e qualquer outro tipo de produto, por conta do risco de usar uma grande concentração e acabar matando a planta. Só com um pano molhado é possível retirar os insetos, lembrando que a concentração deles em vasos e na hidroponia é menor do que o cultivo no quintal e áreas maiores”, destaca Silvio Araújo.

*Ayla Ferreira (estagiária sob supervisão de João Thiago Dias, coordenador do núcleo de Atualidades)