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Presépios fazem parte da tradição de famílias e paróquias no Natal

O presépio é uma representação fundamental da encarnação e do nascimento do Verbo de Deus

Andreza Dias (Especial para O Liberal) e Bruna Lima

Os presépios natalinos fazem parte da tradição do Natal e estão presentes em muitas casas e paróquias como um dos principais símbolos da celebração. Montados em salas, varandas ou espaços especiais da residência, eles integram a decoração natalina e ajudam a contar a história do nascimento de Jesus Cristo. Em Belém, famílias mantêm essa tradição com o presépio montado na sala de casa.

Tradição em família

Para a família de Eduardo Benigno, 45 anos, chef de cozinha, a tradição do presépio em sua família começou há 80 anos, quando a sua avó, que trabalhava como zeladora do Cemitério Santa Isabel (PA) montava presépios feitos com figuras de papel. Ele conta que, na época, as imagens vinham nos jornais e eram recortadas e fincadas em terra branca.

Segundo Eduardo, a tradição permanece como um símbolo central da fé da família. “Então, pra nós, da minha família, meu irmão, minha irmã e meu tio. Pra gente é importante, porque nós somos católicos e a gente considera o nascimento de Cristo o maior símbolo do Natal. É pra ele, exclusivamente pra ele, pra gente lembrar, lembrar da família porque ali também é o nascimento da família, da importância da família”, conta.

Desde 1994 todos os anos, Eduardo dedica-se à montagem do presépio e a contar de formas diferentes a narrativa do nascimento do menino Jesus na manjedoura. “É pra minha casa, assim, encher de graça, e as pessoas saírem de lá com o coração, lembrando que a importância do Natal é o nascimento de Cristo”, conclui.

Presépios na Paróquia de São Miguel da Cremação

A Paróquia de São Miguel da Cremação, que possui dois tipos de presépio, o tradicional e o temático, segue a tradição iniciada por José de Anchieta em 1552, que introduziu elementos regionais brasileiros no presépio, como caboclos e índios. "Além do presépio tradicional, anualmente criamos uma cena temática. Este ano, estamos celebrando o 'Ano da Esperança', com uma cena que retrata os setores missionários da paróquia", explicou o cônego José Gonçalo, atual pároco da Paróquia de São Miguel da Cremação.

Em 2025, a paróquia comemora 60 anos de criação, e o presépio temático reflete essa data significativa. "Os coordenadores das pastorais da paróquia representam os pastores, que, assim como aqueles que anunciaram o nascimento de Jesus, hoje levam a Boa Nova aos outros", concluiu o pároco de São Miguel. Ele ainda fez questão de enfatizar a beleza de quem, como os pastores, tem a missão de anunciar a alegria do nascimento do Senhor: "Como são belos os pés de quem anuncia a Boa Nova do Reino de Deus", acrescenta.

O cônego explica ainda a importância histórica e espiritual do presépio para a Igreja Católica. Segundo ele, a tradição do presépio tem início no ano de 1223, quando São Francisco de Assis idealizou a primeira representação do nascimento de Jesus como uma forma de catequese e espiritualidade. "São Francisco, ao organizar o primeiro presépio, queria transmitir a misericórdia e a bondade de um Deus que, para nos salvar, se fez homem e nasceu na simplicidade", afirmou.


O presépio, para o Cônego José Gonçalo, é uma representação fundamental da encarnação e do nascimento do Verbo de Deus. Ele destacou que, por meio das imagens, a Igreja transmite a mensagem do Salvador que chega com humildade e simplicidade, na pobreza de uma manjedoura, entre animais. "No presépio, encontramos a Sagrada Família, Jesus, Maria e José, a cena dos pastores, homens humildes que foram os primeiros a contemplar a misericórdia de Deus, e a presença dos anjos, que proclamam a boa nova", explicou. Além disso, ele enfatizou a presença dos reis magos, que, ao visitarem o recém-nascido, trazem presentes simbólicos: ouro, incenso e mirra.

"A beleza do presépio está na representação de um Deus que é amor e que congrega todos os seus filhos e filhas, de todos os cantos, em Belém, a casa do pão", completou o padre.

História do presépio

O teólogo Mário Tito, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), conta que a tradição dos presépios em Belém remontam os primeiros missionários que vieram junto com os portugueses, já com essa ideia muito mais forte de trazer as representatividades, as iconografias, os quadros e as representações bíblicas como catequese.

Um aspecto marcante das celebrações natalinas no Brasil é a incorporação de elementos regionais aos presépios. De acordo com Mário Tito, com o passar do tempo, passaram a aparecer nos cenários personagens e características próprias de cada região, como indígenas e ribeirinhos.

“Para nós, aqui na Amazônia, é comum pensar em um Jesus que nasce à beira de um rio ou de um igarapé, embaixo de árvores, com os animais próprios da nossa fauna e da nossa flora. Na medida em que se amplia a presença do presépio na catequese, também cresce a presença desses regionalismos”, afirma o teólogo.

Ainda segundo Mário Tito, a ideia do presépio sempre esteve ligada à catequese. Além de ouvir as pregações e a leitura do Evangelho sobre a noite de Natal, as pessoas também podiam visualizar a cena, com os animais e os personagens bíblicos.

Ele destaca o papel de Francisco de Assis nesse processo. Considerado o santo da criação, Francisco entendeu que o presépio expressava a ideia de que Deus veio para transformar toda a criação. “Por isso ele coloca lá o boi, o burrinho, os reis magos, os pastores, José, Maria, o anjo, e ele cria um ambiente”, comenta.