Especialistas recomendam monitoramento de conteúdos audiovisuais para crianças
Cineasta e psicopedagoga destacam a importância da classificação indicativa e os impactos que conteúdos sensíveis podem gerar em públicos muito jovens
A responsabilidade dos pais no acesso a conteúdos audiovisuais e a classificação indicativa deste produtos, estão, novamente em evidência, após a repercussão de um vídeo do deputado estadual do Ceará criticando o filme “Como se tornar o pior aluno da escola”. Apesar da classificação indicativa de 14 anos, este e outros filmes estão disponíveis em plataformas de streaming para acesso irrestrito de crianças e adolescentes. A cineasta Jorane Castro, professora de cinema e audiovisual da Universidade Federal do Pará (UFPA) e a psicopedagoga e orientadora de pais Larissa Lagreca falam sobre a importância da classificação indicativa e os impactos que conteúdos sensíveis podem gerar em públicos muito jovens.
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Para Jorane é muito importante o mecanismo da classificação indicativa. Ela explica que todos os filmes, séries, novelas, todos os produtos audiovisuais brasileiros precisam passar pela classificação identificativa, que é administrada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP).
Os produtores de cinema registram seus filmes e o MJSP permite as classificações: Livre, 12 anos, 14 anos, 16 anos e 18 anos. Estas informações são visíveis ao público e pais e responsáveis podem consultar no site, antes de permitir o acesso por crianças e adolescentes, explica.
"É importante que as pessoas tenham consciência de como é feito o pedido de classificação indicativa. Qualquer pessoa que quiser olhar a classificação, é só acessar o site que na primeira página já aparece e pode buscar pelo nome do filme ou novela. É um serviço gratuito. Se uma mãe, por exemplo, quer entender porque aquele filme tem classificação 12 anos, ou aquele filme tem 16 anos. Pode acessar o site e saber a justificativa para isso", ressaltou.
"Um filme que tem a classificação de 12 anos, por exemplo, pode conter cena de nudez, utilização de drogas lícitas como a cerveja ou cigarro. Quando é uma classificação mais pesada, é porque tem cenas de violência ou sexo explicito ou também cenas com drogas ilícitas, como cocaína. Se você tem cenas com essas em filmes, elas são indicativas de uma idade maior, não é aconselhável para uma criança de 10 ou 12 anos assistir cena de violência ou extrema violência ou de utilização de drogas, tráfico de drogas. Cada classificação é explicada em cada produto, em cada situação no MJSP", completou.
Classificação indicativa regula o conteúdo para cada faixa etária
A cineasta destaca o rigor que os produtores brasileiros, com destaques aos paraenses, têm em suas produções. "Nenhum produto audiovisual vai para uma sala de cinema ou festivais, sem antes passar pela Classificação Indicativa", diz. No entanto, Jorane afirma que o mesmo não acontece nas plataformas de streaming, onde o controle seria menor.
"É um sistema muito sério. Nós que somos produtores de cinema levamos muito a sério. O streaming chegou no Brasil, chegou e não existem regras. Todos esses conteúdos não tem regras de funcionamento, não existe regulamentação para funcionar, pagam pouco impostos, tem poucas obrigações com a sociedade brasileira. Eles não têm essa obrigação de transparência. Por isso, aconselho sempre aos pais buscarem o site do ministério da Justiça para saber a classificação dos filmes", observou.
"É importante que haja uma cumplicidade entre pais e filhos na escolha desses conteúdos. O audiovisual gera profundas marcas culturais nas crianças, o conteúdo americano de super heróis onde todo mundo mata alguém ou morre, onde tem o bom e o ruim, é um conteúdo de pensamento hegemônico... O cinema é formador, a literatura é formadora. Ajuda a formar a sociedade. Temos que chamar os pais para essa responsabilidade. É uma problemática que tem relação com a educação, saber quais cidadãos querem para sociedade?", finalizou.
Pais devem ficar atentos mesmo em plataformas indicadas para crianças
A orientadora de pais Larissa Lagreca explica que as crianças não percebem no momento em que assistem algo inadequado para a idade, que aquilo não é apropriado. Mas aquela sequência de fatos começa a se fixar na cabeça da criança, que naturaliza a situação.
"A criança vendo aquilo, ela acha que é normal. Aquele filme 'Como se tornar o pior aluno da escola' tem classificação de 14 anos, mas por estar em um streaming uma criança de 9 anos poderá ter acesso. A recomendação aos pais é fazer o controle parental por aplicativo, antes mesmo de passar para as crianças. O que é aquilo que essas crianças estão assistindo? Se pode ou não ser um conteúdo para as crianças", ponderou.
O impacto que as crianças recebem é devido ao espelhamento e a normalização para fatos que não são próprios para a idade, aponta Larissa. "Se os pais permitem as crianças assistirem, deixam porque acham que não tem nada demais assistir um filme de super -herói da Marvel. Só que tem cena de sexo, linguagem obscena. As crianças gostam de ver o personagem, mas elas têm acesso ao todo do filme. Os pais permitem, negligenciam com o uso de telas ilimitadas. No meu conceito o YouTube Kids é a pior ferramenta para que a criança tenha acesso. Muitas vezes a plataforma não consegue filtrar o conteúdo e as crianças pequenas acessam vídeos com palavras e cenas inadequadas", finalizou.
Serviço - acesse ao site do MJSP para saber a classificação indicativa
Plataforma: https://www.gov.br/mj/pt-br/assuntos/seus-direitos/classificacao-1
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