É Natal! Gestos de solidariedade reacendem a esperança e o amor ao próximo
Comportamentos empáticos ganham força no período natalino e impactam positivamente a saúde emocional e o bem-estar
Nas primeiras horas da terça-feira, 23 de dezembro, antevéspera de Natal, as calçadas da Rua Diogo Moia, entre a Avenida Alcindo Cacela e a Travessa 14 de Abril, no bairro do Umarizal, já estavam ocupadas por pessoas de diversas localidades da Grande Belém. Elas aguardavam para pegar uma senha para a tradicional distribuição de cestas básicas de Natal da Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia.
Liderada pela funcionária pública Marise Melo dos Santos, de 66 anos, a casa de umbanda doa 450 cestas básicas, somando cerca de 4 toneladas de alimentos, entre arroz, feijão, macarrão, café, farinha de mandioca, mortadela, sal, açúcar, leite e bolacha. Às 9h da terça-feira, a religiosa iniciou a distribuição das senhas para a entrega das cestas, que ocorre na manhã desta quarta-feira (24).
A ação social acontece há 79 anos, tradição iniciada pelo avô de Marise, mantida pela avó e pela mãe, e hoje levada adiante pela funcionária pública. Durante a distribuição das senhas, ela não conteve a emoção. “Fomos criados em uma família muito unida. Meu avô, minha avó e minha mãe sempre tiveram a missão de fazer essa doação. Para mim, esse é um trabalho que não tem pagamento; eu faço de coração”, disse.
“Essa ação faz a alegria do povo que vem aqui. Muitos chegam a dormir na rua para receber a cesta. É uma gratificação enorme estar aqui e poder proporcionar um Natal melhor para eles”, conta. “Hoje eu chorei distribuindo as senhas, vendo as pessoas agradecendo porque vão poder ter alimento em casa. Isso também é manter viva a memória do meu avô e da minha avó. Enquanto eu estiver viva e tiver forças, vou continuar fazendo”.
Os beneficiados são moradores de bairros periféricos próximos ao centro, como Fátima, Pedreira e Barreiro, mas também de áreas mais distantes, como Benguí, Tapanã e até Icoaraci. “Eles dizem: ‘agradeço porque vou ter um Natal melhor, com alimento na mesa’. Há pessoas que vêm todos os anos e já contam com isso no fim do ano.”
Além das cestas básicas, a casa também realiza doação de roupas e sorteio de redes. Para a arrecadação dos itens, Marise conta com a solidariedade de contribuintes, visitantes e membros da casa.
“Uma data comemorativa não é feita apenas de ganhar presentes, mas de exercer solidariedade com o próximo. Saber que existem tantas pessoas que não têm condições e poder ajudá-las com o alimento, que é o mais importante, é um prazer muito grande para mim, como foi para minha mãe, minha avó e meu pai. É uma emoção enorme.”
O sentimento de solidariedade e amor ao próximo descrito por Marise é compartilhado por milhares de pessoas em todo o mundo - o chamado “espírito natalino”. Segundo o psicólogo Fabrício Carvalho, o período natalino potencializa emoções positivas por meio de comportamentos solidários, que têm impacto direto na saúde mental. “Ajudar o próximo traz um senso de propósito e significado à vida, o que é benéfico para a resiliência psicológica”.
Ele explica que a prática da generosidade estimula a produção de neurotransmissores ligados à sensação de felicidade e prazer, fortalece vínculos emocionais, a autoestima e ajuda a criar um senso de pertencimento à comunidade, aspectos essenciais ao bem-estar humano. “Tudo isso traz, de alguma maneira, esperança de dias melhores de forma mais ampla, estimulando a empatia e podendo gerar hábitos comportamentais mais saudáveis nos diversos vínculos”.
Comportamentos solidários combatem desgastes emocionais
De acordo com o especialista, esses comportamentos solidários também ajudam a combater o isolamento social e a solidão, que podem se intensificar durante o período festivo, além de reduzir os níveis de estresse e ansiedade. Isso porque, durante o mês de dezembro, são comuns sentimentos de tristeza, solidão, vazio, frustração, cansaço emocional e ansiedade, popularmente chamados de “dezembrite”.
“Existe um aumento da vulnerabilidade emocional provocado por fatores como cobranças sociais, balanços de vida, frustrações acumuladas e expectativas não alcançadas. O termo ‘dezembrite’ surgiu de forma popular para nomear esse conjunto de sentimentos comuns nesse período”, explica. “Datas comemorativas tendem a evidenciar ausências, seja pela perda de pessoas queridas, afastamentos familiares ou mudanças significativas na vida”.
Embora seja comum sentir-se mais sensível nessa época, Fabrício Carvalho alerta para sinais que indicam a necessidade de cuidado. “Quando a tristeza é persistente e vem acompanhada de falta de energia, alterações no sono, isolamento social ou perda de interesse por atividades que antes davam prazer, é importante procurar ajuda profissional”.
Para o psicólogo, o mais importante é lembrar que ninguém precisa enfrentar esse momento sozinho. “Sentir tristeza no fim do ano não é sinal de fraqueza. Buscar apoio psicológico é um ato de cuidado consigo mesmo e pode fazer toda a diferença para iniciar o novo ano de forma mais saudável”, conclui.
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