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Dormir virou desafio: o que a ciência diz sobre melatonina, insônia e os novos tratamentos

A melatonina virou queridinha nas farmácias e nas redes sociais.

Bruna Lima

“A melatonina não é o hormônio do sono. Ela sinaliza que é noite, mas não induz o sono diretamente.” O alerta da médica Maria Claudia Oliveira, especialista em Medicina do Sono, de Belém, expõe um dos principais equívocos em torno da substância que se tornou a “queridinha” das farmácias e das redes sociais. Enquanto o consumo cresce de forma descontrolada no Brasil — em um cenário onde cerca de 30% da população adulta enfrenta distúrbios do sono, especialmente insônia e apneia obstrutiva, segundo a Academia Brasileira do Sono — especialistas reforçam a necessidade de cautela, diagnóstico individualizado e alternativas que vão muito além da automedicação.

Produzida pela glândula pineal, sua principal função é regular o ritmo circadiano, o relógio biológico que organiza os ciclos de vigília e sono. Sua eficácia é comprovada apenas em casos específicos, como em idosos com baixa produção do hormônio, pessoas cegas, autistas ou com distúrbios de ritmo biológico.

No entanto, por ser classificada como suplemento e não como medicamento, não é fiscalizada pela Anvisa. Estudos apontam variações de até 800% na dosagem real em relação ao rótulo. 

O caso do jornalista Mateus Freire ilustra o caminho tortuoso de quem busca dormir bem sem orientação médica. Aos 17 anos, ele passou a virar noites em claro por causa do uso excessivo do celular. Com o tempo, a insônia virou problema crônico, interferindo na vida pessoal e profissional.

“Eu já perdi trabalhos por não conseguir acordar a tempo. Teve até um episódio com meu pai, que me ligou antes de falecer e eu perdi a ligação porque estava dormindo. Isso me marca até hoje”, relata.

Na tentativa de resolver o problema, Mateus começou a tomar Dramin, indicado para enjoo, mas popularmente conhecido por causar sonolência. A automedicação o deixava grogue no dia seguinte. Foi então que trocou o fármaco pela melatonina, incentivado por uma amiga. Desde então, dorme melhor, mas se declara dependente da substância.

“Hoje, se eu esqueço de levar minha melatonina pra algum lugar, entro em pânico. Já tive que comprar em viagem porque não consigo dormir sem”.

Mateus nunca procurou um especialista. E esse é um dos maiores riscos, a banalização do uso de substâncias para dormir, mesmo aquelas aparentemente inofensivas.

O novo remédio e os tratamentos reais

A recente aprovação do lemborexanto pela Anvisa, uma nova opção para insônia com menor risco de dependência, reacende o debate sobre o uso racional de medicamentos do sono. Mas para Maria Claudia, mesmo as novas drogas não devem ser vistas como soluções mágicas.

“O tratamento da insônia precisa ser individualizado. Sempre que possível, sem depender apenas de remédios. A base deve ser a terapia cognitivo-comportamental, aliada à mudanças no estilo de vida e boa higiene do sono”, defende.

Já a apneia do sono, que afeta principalmente pessoas com sobrepeso, exige diagnóstico detalhado e abordagem personalizada. Pode envolver desde uso de aparelhos para manter as vias aéreas abertas até cirurgias, quando há fatores anatômicos envolvidos.

A ideia de que dormir bem começa à noite está ultrapassada. Para a médica, a qualidade do sono começa logo ao acordar. Expor-se à luz natural, manter horários regulares, praticar atividade física e reduzir estímulos artificiais à noite são ações essenciais.

“O corpo precisa entender que está de dia ou de noite. Quando usamos telas à noite, por exemplo, bloqueamos até 80% da produção natural de melatonina”, alerta.

Até mesmo os cochilos têm regras, podem ser aliados valiosos se realizados logo após o almoço e não durarem mais de 40 minutos. Cochilos longos ou muito tardios tendem a prejudicar ainda mais o sono noturno. 

O medicamento

Lemborexant (Dayvigo) é um medicamento aprovado pela Anvisa no Brasil para o tratamento da insônia, que funciona bloqueando os receptores da orexina, um neurotransmissor que mantém o estado de vigília. Ele age mais rapidamente do que alguns outros medicamentos da mesma classe e é considerado promissor por ter um baixo risco de dependência e efeitos colaterais diurnos reduzidos. O tratamento da insônia deve sempre priorizar abordagens não farmacológicas e deve ser acompanhado por um médico, que definirá a dose e a duração do uso do medicamento.

10 DICAS PARA MELHORAR A QUALIDADE DO SEU SONO

1. Exponha-se ao sol logo cedo

 

2. Tenha horário fixo para acordar e dormir

 

3. Evite cafeína após as 14h

 

4. Pratique exercícios físicos. mas não à noite

 

5. Reduza luzes artificiais à noite

 

6. Cuidado com o uso de telas na cama

 

7. Cochilos? Sim, mas com moderação

 

8. Faça refeições leves à noite

 

9. Use o quarto apenas para dormir

 

10. Procure ajuda especializada

 

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