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Em Belém, Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência celebra a reabilitação

Celebrar o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência é reconhecer que a luta pela igualdade de direitos precisa ser diária e coletiva

Bruna Lima

Em Belém, o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, celebrado em 21 de setembro, é celebrado com clima de conscientização por usuários do Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), que é referência no Pará na assistência de média e alta complexidade às pessoas com Deficiência (PCDs) visual, física, auditiva e intelectual. Para muitos deles, a semana dessa data reforça a necessidade de conexão entre reabilitação, acessibilidade e oportunidades com inclusão e respeito.

Yan Cássio de Lima Nunes, de 17 anos, tem paralisia cerebral, usa cadeira de rodas e se prepara para apostar na licenciatura e nos treinos de bocha, esporte que combina precisão e estratégia, desafiando os jogadores a rolarem suas bolas o mais próximo possível de uma bola alvo. Durante seu momento de reabilitação no CIIR, ele detalhou esses planos.

“Até hoje eu não sabia que tinha esse dia. Descobri agora e achei muito importante. As pessoas precisam se conscientizar, porque viver com deficiência é bem difícil”, diz Yan. Cássio mora em Irituia, no interior do Pará, e se desloca de madrugada até Belém para tratamento e reabilitação. Estudante do 3º ano do ensino médio, ele sonha em cursar História e ser professor. Nas horas vagas, treina bocha paralímpico e já vislumbra o futuro: “Desejo me profissionalizar. Quem sabe nas Paralimpíadas de 2028?”, observa.

O acesso a espaços públicos e políticas de inclusão ainda é limitado, especialmente para quem vive longe dos grandes centros urbanos. Quem avalia é Jussiane Monteiro, agente de portaria, mãe de Maria Alice, criança com paralisia cerebral, autismo e TDAH, e que também é usuária do CIIR. Para a mãe, a data é uma forma de dar voz às famílias e reconhecer o trabalho de profissionais da saúde e da educação.

“É um dia muito importante. A luta é nossa, das mães, dos cuidadores, dos profissionais. E também das crianças. Muitas vezes o diagnóstico vem tarde porque as pessoas não procuram ajuda cedo, acham que é tolice. Quando é tratado desde cedo, a criança pode ter uma vida muito melhor.”, afirma Jussiane.

A autodescrição

Para muitas pessoas, viver com deficiência não é apenas enfrentar barreiras físicas, mas também lidar com o julgamento alheio. Situações de constrangimento e desinformação ainda são comuns, mesmo em ambientes que deveriam promover acolhimento. Recentemente, um episódio envolvendo o uso da audiodescrição durante uma peça de teatro ganhou repercussão nas redes sociais. Rodolfo, jovem com baixa visão, relatou ter sido constrangido pela atriz Claudia Raia durante uma apresentação do espetáculo Cenas da Menopausa, em cartaz no Teatro Claro Mais SP, em São Paulo.

Segundo ele, enquanto utilizava fones de ouvido para acompanhar a audiodescrição, recurso de acessibilidade disponível no local, a atriz o apontou e pediu que retirasse os fones, acreditando que ele estivesse desatento à apresentação. “Ela achou que eu estava sendo desrespeitoso por estar com o celular na mão. Os olhares de julgamento foram imediatos. Depois, o ator Jarbas Homem de Mello explicou que se tratava de audiodescrição.”, contou Rodolfo nas redes sociais.

Após o ocorrido, Claudia Raia entrou em contato pessoalmente com o jovem para pedir desculpas e, em seguida, fez uma retratação pública em seu Instagram. O caso gerou debates sobre o desconhecimento de parte do público, e até de profissionais da arte, sobre os recursos de acessibilidade nos espetáculos culturais.

O episódio também reacendeu a discussão sobre a importância da autodescrição nos ambientes públicos e nas mídias. Ferramenta essencial para promover a inclusão de pessoas cegas ou com baixa visão, a autodescrição permite que o público forme imagens mentais sobre quem está falando, suas expressões e seu contexto.

Bruno Cruz, coordenador do setor de Reabilitação do Centro Integrado de Inclusão e Reabilitação (CIIR), explica que a autodescrição tem o objetivo fornecer à pessoa com deficiência visual, seja com baixa visão ou cegueira total, uma compreensão de como é o ambiente em que ela se encontra. “Quantas pessoas estão no espaço, como estão vestidas, se há área verde, imagens na parede ou em uma televisão. Tudo isso contribui para que essa pessoa se sinta parte daquele ambiente.”, pontua.

Embora ainda não exista uma lei específica que obrigue o uso da autodescrição em eventos, a prática é respaldada pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência. “A gente tem a Lei da Pessoa com Deficiência, que apoia e incentiva que esse tipo de recurso seja usado, mesmo que não exista ainda uma legislação exclusiva sobre isso”, comenta Bruno.

Acessibilidade

A acessibilidade vai muito além de rampas ou elevadores. Ela envolve atitudes, escuta e empatia. Celebrar o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência é reconhecer que a luta pela igualdade de direitos precisa ser diária e coletiva.

Para isso, Bruno destaca a importância da data como forma de mobilizar a sociedade: “Esse dia é essencial para que a gente possa favorecer o processo de inclusão. A pessoa com deficiência precisa se sentir pertencente aos espaços, à sociedade. Elas têm muito a contribuir, com acessibilidade, com trocas, com melhorias. Garantir o direito dessas pessoas é um dever de todos nós.”, finaliza.

Serviço:

O CIIR é um órgão do Governo do Pará, administrado pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Social e Humano (INDSH), em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa). O CIIR está localizado na Rodovia Arthur Bernardes, nº 1000, também na capital paraense. Mais informações: (91) 4042-2157/58/59.

Os usuários podem ter acesso aos serviços do espaço por meio de encaminhamento das unidades de saúde, acolhidos pela Central de Regulação de cada município, que por sua vez encaminha à Regulação Estadual. O pedido é analisado conforme o perfil do usuário pelo Sistema de Regulação Estadual (SRE).