Dia do Ciclista: Belém amplia ciclovias, mas segurança ainda preocupa usuários
De janeiro a julho deste ano, mais de 45 quilômetros de sinalização foram implementados ou reforçados, de acordo com a Segbel
Belém tem atualmente 164 quilômetros de malha cicloviária, como apontam dados da Secretaria de Segurança, Ordem Pública e Mobilidade de Belém (Segbel). De janeiro a julho deste ano, mais de 45 quilômetros de sinalização foram implementados ou reforçados, ainda de acordo com a Segbel. O assunto ganha destaque nesta terça-feira (19), quando é celebrado o Dia do Ciclista. No dia a dia, quem depende da bike para se locomover relata a experiência e os desafios desse meio de transporte.
Um levantamento de 2024 feito pela Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike) ainda mostrou que Belém é a sexta capital do país com a maior rede de ciclovias e ciclofaixas. Até outubro do ano passado, a capital paraense contava com um total de 150,58 km de faixas exclusivas para circulação de bicicletas. O balanço da associação também indicou que Belém registrou um dos maiores crescimentos percentuais na implantação de ciclovias e ciclofaixas entre 2023 e 2024, com um aumento de 29,2% em um ano, passando de 116,5 km para 150,58 km.
Artista independente, Vitor Pamplona começou a pedalar ainda na adolescência, usando a bicicleta como lazer no bairro onde morava. Com o tempo, percebeu que poderia fazer mais do que brincar, poderia usar o transporte como um elo com a cidade.
“A bicicleta foi ganhando esse papel de conexão com a cidade. Eu via que aproveitava melhor o caminho, observava mais, entendia o trânsito e percebia como a bicicleta era invisibilizada”, reflete Vitor.
Sua companheira inseparável, a bicicleta batizada de “Odila”, o acompanhava diariamente em trajetos por Belém. Ele relata que já sofreu acidentes e presenciou situações perigosas no trânsito. “É uma guerra. Carros e motos invadem a ciclofaixa, desrespeitam o Código de Trânsito. Já sofri acidentes, tenho marcas. A gente é invisível. Parece que atrapalha só por existir na rua”.
Mesmo diante dos riscos, Vitor defende o uso da bicicleta por seus inúmeros benefícios. “Tem a sustentabilidade, o esporte, a saúde, a economia. A bicicleta é 100% útil. Pra ir ao supermercado, à galeria de arte, comprar pão. É mais rápido e mais barato. Chego até antes do meu chefe no trabalho”.
A bicicleta como economia e sobrevivência
Já Ailton dos Santos Barbosa, servente de pedreiro de 29 anos, encontrou na bicicleta uma aliada para driblar o custo das passagens de ônibus e o estresse do transporte coletivo lotado. Ele mora em frente ao Mangueirão, pedala diariamente até o trabalho e calcula que economiza até R$ 300 por mês.
“Uma passagem é R$ 4,60. Se eu for e voltar todo dia, no mês dá quase trezentos reais. Eu uso esse dinheiro para outras coisas. E além disso, é um exercício físico. Saio todo dia às seis da manhã, pedalo tranquilo”, comenta o ciclista.
Apesar de nunca ter sofrido acidentes, ele admite que o medo existe, tanto pela segurança no trânsito quanto pelo risco de assaltos. “Tem que ter cuidado sempre. Aqui em Belém não tem muito espaço próprio. A gente vai com Deus na frente. Tem medo, mas vai”.
Ailton também comenta que algumas empresas não permitem que funcionários cheguem de bicicleta, por medo de acidentes. “Já trabalhei em lugares que só podia ir de ônibus. A empresa não se responsabiliza se acontecer algo com a gente na bicicleta”.
Para Ana Beatriz Ferreira, de 28 anos, a bicicleta representa mais do que um meio de transporte, é uma ferramenta de autonomia. Acadêmica de psicologia, ela pedala diariamente em Belém, usando a bike como principal forma de deslocamento desde 2021. Há cerca de um ano, passou a utilizar uma bicicleta fixa, modalidade que exige maior controle e contato direto com a bicicleta e a cidade.
“É um outro tipo de relação com a cidade. Com a bike fixa, sinto que tenho mais autonomia. Mas também enfrento muitas dificuldades”, relata. Entre os principais desafios, Ana destaca a ausência de infraestrutura adequada para ciclistas, a falta de sinalização e de consciência por parte dos motoristas. Além disso, ela ressalta um problema que atinge especialmente mulheres ciclistas: o assédio.
“Não me sinto segura pedalando à noite. Às vezes, evito um trajeto de bicicleta por medo. Mas, quando opto por um carro por aplicativo, também estou exposta a riscos. A bicicleta, nesse sentido, me dá uma sensação maior de segurança e liberdade”, afirma.
Ana acredita que a cidade precisa ser pensada para atender a todos, com equidade no trânsito. “Gostaria muito de uma cidade mais inclusiva, onde cada um pudesse circular respeitando seu espaço. Não só ciclistas, mas todos os usuários do trânsito”, pontua.
Os ciclistas reforçam a necessidade de mais estrutura e respeito no trânsito. Em uma cidade quente, plana e populosa como Belém, a bicicleta poderia ser uma solução eficiente, se houvesse investimento real. Segundo eles, a falta de sinalização, a ausência de ciclovias contínuas e a falta de empatia dos motoristas tornam o ato de pedalar um desafio diário.
Capitais com a maior rede de ciclovias e ciclofaixas em 2024
1- São Paulo (SP): 710,9 km
2- Distrito Federal: 551,51 km
3- Fortaleza (CE): 443,1 km
4- Rio de Janeiro (RJ): 316,56 km
5- Salvador (BA): 308,59 km
6- Belém (PA): 150,58 km
7- Curitiba (PR): 146,4 km
8- Florianópolis (SC): 142,32 km
9- Recife (PE): 128,75 km
10- Belo Horizonte (MG): 114,85 km
Maiores crescimentos percentuais em ciclovias e ciclofaixas implantadas – de 2023 a 2024
1 – Goiânia (GO): 66% (47 km para 78,2 km)
2 – Palmas (TO): 35,7% (68,5 km para 93 km)
3 – Belém (PA): 29,2% (116,5 km para 150,58 km)
4 – Maceió (AL): 27,6% (53,4 km para 68,13 km)
5 – Cuiabá (MT): 19,35% (58,1 km para 69,4 km)
6 – Boa Vista (RR): 10,8% (43,14 km para 47,8 km)
7 – Porto Alegre (RS): 10,11% (73,23km para 80,63 km)
8 – Distrito Federal: 10,02% (501,28km para 551,51 km)
9 – Belo Horizonte (MG): 8,57% (105,78km para 114,85 km)
10 – Curitiba (PR): 8,28% (135,2 km para 146,4 km)
Fonte: Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike)
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