Década do Oceano: UFPA mobiliza ações em prol dos oceanos com olhar amazônico
Não só a vida marinha é beneficiada nesta Década; discute-se também a segurança humana. Pesquisadora paraense é embaixadora das iniciativas
Desde o lançamento da "Década do Oceano", pela Organizações das Nações Unidas (ONU), em abril deste ano, mobilizações ocorrem no Brasil e no mundo, em prol dos objetivos da "Década da Ciência Oceânica para o desenvolvimento sustentável". A política pede urgência da proteção do maior bioma do planeta que, apesar de cobrir 71% da superfície da Terra, é pouco conhecido e preservado. As metas da Década estão alinhadas a pelo menos dois dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030: Água Potável e Saneamento (objetivo 6) e Vida na Água (objetivo 14).
A década foi idealizada ainda em 2017, em uma convenção da ONU, e mobiliza cientistas, gestores, políticos e a sociedade civil. A paraense Raqueline Monteiro, pesquisadora de doutorado em Ecologia Aquática e Pesca (NEAP-UFPA), foi escolhida como embaixadora brasileira em um programa internacional de Jovens Embaixadores do Oceano Atlântico para promover o desenvolvimento sustentável do Atlântico.
"Represento o Brasil no projeto internacional chamado 'Projeto Cooperação de Todo o Atlântico para Pesquisa Oceânica e Inovação' [AANChOR, da sigla em inglês] que tem a participação de países da União Europeia, África do Sul, Argentina, Cabo Verde e outros, com o objetivo de fortalecer a cooperação para o desenvolvimento de ciência, tecnologia e inovação pelos países do oceano Atlântico em prol de ações e politicas onde as decisões sejam tomadas com base científica para uma gestão sustentável", explica Raqueline.
Sobre as metas, a pesquisadora destaca que cada uma delas se relaciona de forma diferente com cada região: "na região amazônica, por exemplo, a presença do oceano pode ser percebida pelas nossas marés, por meio dos nossos manguezais e praias, através da nossa alimentação. Quando comemos aquele peixinho frito como a 'gurijuba' ou 'gó', deveríamos saber que ele viveu em um ambiente que se relaciona diretamente com o oceano, que são os nossos estuários [encontro do rio com oceano, ligado aos manguezais].", disse a pesquisadora.
A embaixadora da Década reitera a importância do Oceano para o equilíbrio do meio ambiente, pois além de ser o responsável por mais de 50% do oxigênio que se respira, contribui para amenizar as temperaturas da região: "ele contribui para amenizar a quentura na nossa região tropical, através da redistribuição de calor para os polos pelas correntes marinhas, contribui para a formação de chuvas, papel crucial no ciclo da água, contribuindo por exemplo, para os reservatórios de água de uso humano. Dentre tantos motivos, esses são apenas alguns para exemplificar a sua importância e valor", pontuou ela.
Ensino e extensão alinhados à agenda em prol da Década Oceânica
Na Faculdade de Oceanografia da UFPA, professores e alunos mobilizam seus pares e convocam mais pesquisadores de outras áreas e de todo o Brasil a pensarem sobre a Década do Oceano. Sury Monteiro, diretora da Faculdade, é coordenadora do grupo de pesquisa e extensão "Conecta Década", que reúne alunos da graduação de todo o país que querem pensar sobre essas mudanças.
A aluna Glendha Carvalho, membro do Projeto Conecta Década e estudante da graduação em Oceanografia da UFPA, comenta: "o 'Conecta Década' estruturou uma rede multidisciplinar para conectar estudantes e profissionais de diferentes formações para atuarmos em ações da Década do Oceano na Região Amazônica. Já atuamos há um ano e envolvemos principalmente estudantes. Ao longo desse ano fortalecemos algumas conexões com a meteorologia, direito, economia, comunicação, artes, biotecnologia", relembrou.
As pesquisas na Região Norte, sobretudo na Amazônia brasileira, são muito importantes, explica Glendha: "o desenvolvimento de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento na costa amazônica permite reconhecer, monitorar, mitigar e propor soluções para o uso equilibrado do ambiente pelos diferentes grupos sociais que compõem essa região. Muitos temas são abordados em pesquisas desenvolvidas pela Faculdade de Oceanografia na costa amazônica. Estas pesquisas integradas visam além do entendimento do ambiente, promover o compartilhamento de informações para os diversos setores da sociedade, incluindo gestores públicos, para auxiliar no uso eficiente de recursos e no desenvolvimento sustentável da Região Norte", reforçou a estudante.
Uma década para minimizar os impactos no bioma Oceano
O lançamento oficial da Década Oceânica no Brasil contou com diversos eventos propondo diálogo e reflexão sobre o tema. "O evento foi realizado online e contou com a participação de 120 pessoas divididas em 7 grupos de trabalham que correspondem aos 7 resultados da Década. A partir dessa oficina, surgiu o Grupo de Mobilização para a Década Oceânica da região Norte (GAM Norte). Formado com o intuito de promover a década na nossa região por meio da ótica amazônica. Atualmente, o GAM Norte está se estruturando para dar prosseguir às próximas etapas, como a abertura de uma chamada para novos integrantes", disse Raqueline Monteiro, Jovem Embaixadora do Oceano Atlântico.
O objetivo do grupo é regionalizar o debate, que é global, e compreender as peculiaridades da "Amazônia": "importante destacar que existem diferentes 'amazônias', dentro da Amazônia. Temos os manguezais, as ilhas, os rios, as cidades, os quilombos, as aldeias formados por diferentes pessoas, povos, culturas e saberes. Desse modo, as contribuições que a Amazônia têm para a década parte de diferentes pontos de vista, desde o conhecimento gerado pelas universidade aos 'laboratórios' a céu aberto vivenciados pelas comunidades tradicionais", reforçou Raqueline.
"O oceano que temos hoje na Amazônia é um lugar onde as atividades humanas estão impactando diretamente os nossos ambientes de forma predatória, que atingem de forma diferente cada população. Precisamos entender qual oceano temos na Amazônia, para dialogar entre todas as 'amazônias' para então traçar as nossas metas para 'o oceano que queremos em 2030', argumentou a pesquisadora.
Na região Amazônica a embaixadora fala sobre o risco iminente da extração de petróleo na foz do rio Amazonas. "Um vazamento de petróleo na região norte coloca em risco o recém descoberto recife de algas calcárias e esponjas, de 56 mil km², na foz do rio Amazonas que ainda pouco se conhece acerca da sua importância para a Amazônia e o Atlântico. Espécies em risco de extinção como o peixe-boi-marinho e a ariranha também podem ser diretamente impactadas. Impactos sociais, uma vez que a região é a principal fonte de renda e alimentação para muitas famílias de pescadores artesanais, observou.
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