Canteiros agroecológicos melhoram qualidade de vida e preservam o meio ambiente urbano
A iniciativa de cultivar alimentos saudáveis em canteiros agroecológicos visa melhorar a qualidade de vida das comunidades
A agroecologia é uma alternativa viável ao modelo de agricultura convencional, que frequentemente utiliza pesticidas e outros produtos químicos prejudiciais tanto à saúde humana quanto ao meio ambiente. Em Belém, o assunto ganha força com grupos que se compartilham sobre os cuidados com os chamados canteiros ecológicos. Ao promover o cultivo de plantas saudáveis e o uso de técnicas agrícolas que respeitam o ecossistema local, a atividade busca não apenas melhorar a qualidade de vida das pessoas envolvidas, mas também contribuir para a preservação do meio ambiente urbano.
Essa orientações entre os diálogos e práticas do Coletivo Instituto Via Amazônia, que tem se dedicado a promover a conscientização sobre a importância da soberania alimentar - ou seja, o direito de todos a alimentos saudáveis, produzidos de maneira sustentável e acessível. Segundo Mattheus Silva, membro do coletivo, a iniciativa de cultivar alimentos saudáveis em canteiros agroecológicos visa não apenas melhorar a qualidade de vida das comunidades, mas também criar um espaço de aprendizado coletivo e fortalecimento de laços sociais.
No último dia 8 de novembro, por exemplo, uma oficina com parceria do coletivo foi realizada na praça Dorothy Stang, no bairro da Sacramenta. Durante a ação, Mattheus Silva compartilhou como cuidar desses espaços verdes.
"O que estamos fazendo hoje com as oficinas de jardins agroecológicos é justamente plantar aquilo que sabemos que é saudável consumir. Estamos cultivando alimentos que nutrem não apenas o corpo, mas também a mente e o senso coletivo", afirmou Mattheus. Ele destacou ainda a importância de se distanciar dos alimentos ultraprocessados, ricos em substâncias químicas e agrotóxicos, e de investir em práticas agrícolas que respeitem o equilíbrio da natureza e a saúde das pessoas.
Com mais de 30 voluntários envolvidos no processo, a oficina se tornou um espaço de troca de experiências e memórias, com participantes que começaram a trabalhar desde as 7h da manhã, plantando e cultivando mais de 900 mudas e sementes de diversas espécies. A maior parte das plantas cultivadas é voltada para as "pancs" - ou seja, plantas não convencionais, muitas das quais são comestíveis e podem trazer benefícios nutricionais significativos.
Jardim vivo de solidariedade
A proposta de criar um "jardim vivo de solidariedade" foi outro ponto enfatizado por Mattheus, que vê o trabalho coletivo como uma forma de resistir às pressões ambientais e sociais que afetam a Amazônia. "São ações como essas que ajudam a criar vínculos e fortalecer o senso comunitário", explicou. De acordo com ele, o objetivo da oficina vai além do simples cultivo de plantas: trata-se de cultivar um ambiente de solidariedade, onde as pessoas compartilham conhecimento, trocam experiências e, acima de tudo, se fortalecem mutuamente.
Além das atividades de plantio, o coletivo também se dedica a outras iniciativas culturais, como o videomapping e o muralismo, que serão realizados no próximo fim de semana. Essas atividades têm como objetivo não só embelezar a praça, mas também homenagear figuras históricas da luta em defesa da Amazônia, como Dorothy Stang e Chico Mendes. Ao celebrar essas personalidades, o coletivo pretende reforçar a importância de manter viva a memória de quem tombou pela causa ambiental.
Restauração ambiental
O professor Seidel Santos, coordenador do curso de Engenharia Florestal da Universidade do Estado do Pará (UEPA), participou da oficina e aproveitou para destacar a importância da restauração ambiental e o uso de espécies nativas na recuperação de áreas degradadas. Segundo ele, a restauração não precisa ser realizada em grandes áreas; ela pode ser feita em pequenos espaços, como quintais e terrenos urbanos, através do plantio de árvores e vegetação nativa.
"É fundamental trazer a planta, esse componente arbóreo, para melhorar o ambiente urbano. A presença de árvores nativas é crucial para a saúde dos ecossistemas urbanos", afirmou Santos. O professor destacou que muitas áreas de Belém ainda carecem de vegetação nativa e que a falta dessas árvores tem um impacto negativo tanto para o meio ambiente quanto para a saúde das pessoas. Ele mencionou, por exemplo, a falta de exemplares de árvores tradicionais da Amazônia, como a castanheira e a andirobeira, que são essenciais para a manutenção da biodiversidade local.
Seidel também comentou sobre a importância de se utilizar espécies que possuem valor cultural e simbólico, lembrando que muitas crianças hoje em dia não reconhecem as árvores típicas da Amazônia, como o pau-brasil, que deu nome à famosa Praça Brasil. "Quando falamos em restauração, não estamos nos referindo apenas a grandes áreas, mas a qualquer espaço que possa ser transformado em um ambiente mais verde e saudável", explicou o professor.
Modelo de residência sustentável
Cláudia Kahwage, bióloga e coordenadora do Festival de Cinema Dorothy Stang, comentou sobre as diversas tecnologias sociais adotadas no espaço da Morada Encantada, um projeto comunitário que integra práticas sustentáveis e de baixo custo. Kahwage explicou que o objetivo é criar um modelo de residência sustentável, que possa servir de exemplo para outras famílias da vizinhança. A Morada Encantada utiliza tecnologias como a captação de água da chuva, o ciclo das bananeiras, que aproveita a água da pia para irrigar as plantas, e a geração de energia solar, o que ajuda a reduzir o impacto ambiental e a poluição.
"Trabalhamos com tecnologias que são de fácil adoção e baixo custo, para que qualquer pessoa ou família possa implementar em sua casa. Estamos mostrando que é possível viver de forma mais sustentável, sem depender de grandes investimentos", disse Cláudia. Ela também mencionou a instalação de uma mandala de hortas, feita com material reciclado, que se tornou um símbolo de reutilização e de produção sustentável no local.
Além das oficinas de agroecologia, o Festival de Cinema Dorothy Stang contará com outras atividades culturais, como a criação de um mural em homenagem aos defensores da Amazônia, como Dorothy Stang, Chico Mendes, entre outros, e a exibição de filmes sobre direitos humanos e justiça climática. A intenção é usar o cinema como uma ferramenta de luta e conscientização sobre questões que afetam diretamente a Amazônia e seus habitantes.
A oficina comunitária dedicada à instalação de canteiros agroecológicos ocorreu, nos dias 8 e 9 de novembro, na Praça Dorothy Stang, e reuniu moradores locais, artistas, ambientalistas e outros agentes da sociedade civil em uma ação coletiva voltada para o cuidado com a terra e o espaço urbano. A atividade foi conduzida pelos experientes instrutores Luciney Vieira e Riviane Amorim, representantes da Ecovila Iandê, um coletivo comprometido com a promoção de práticas sustentáveis e autossustentáveis.
A ação fez parte da programação do Festival de Cinema Dorothy Stang: Direitos Humanos e Justiça Climática, que busca articular agroecologia, cultura e participação popular em um território histórico e simbólico, marcado pela luta e resistência em defesa da Amazônia e da memória da missionária Dorothy Stang, que foi brutalmente assassinada em 2005 por sua atuação em prol da preservação da floresta e dos direitos dos trabalhadores rurais. O festival, com apoio da Lei Aldir Blanc e da Secretaria de Cultura, é uma oportunidade para discutir e divulgar temas cruciais para a região amazônica, como o enfrentamento das mudanças climáticas e a luta por direitos humanos.
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