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Arraial do Pavulagem leva cultura e diversão no penúltimo cortejo em Belém; veja fotos

Brincantes compareceram em peso ao tradicional evento junino

Natália Mello

Milhares de pessoas foram às ruas de Belém mais uma vez neste domingo (26), para participar de mais um cortejo do Arrastão do Pavulagem. Paz, cultura, tradição e alegria foram algumas das palavras escolhidas pelos participantes para descrever a sensação de estar vivendo a manifestação cultural após dois anos de pandemia. E o Batalhão da Estrela, como é carinhosamente apelidado o grupo formado por músicos, dançarinos, artistas circenses e brincantes, vibraram entoando cânticos e dançando as toadas, ganha mais seguidores a cada semana. O próximo domingo (3) é o último da programação deste ano.

O engenheiro de minas Sandro Freitas, de 45 anos, veio com a família participar, pela primeira vez, do cortejo. Acompanhado da filha, irmãos, sobrinhos, ele, que é morador de Canaã dos Carajás, localizado na região sudeste do Pará, atribuiu a alcunha de “São João da Amazônia” à manifestação. “É muito diferente do resto do país. Tudo aqui mexe com a gente, e essa é mais uma procissão paraense, paraense adora procissão, cortejo, música. E esse batuque, esse ritmo é muito nosso”, avaliou.

Os apaixonados pelo Boi Pavulagem, que é o responsável por guiar os brincantes, não têm idade. Elisete Rosa, de 75 anos, é professora aposentada e há 17 anos participa do cortejo. Hoje empunhando um estandarte com a imagem de São João, ela explica o porquê de ter aderido à manifestação. “Porque o Pavulagem é vida, é alegria, e a vida é como o vento, vai passando e eu quero aproveitar. Estou há 10 anos como estandarte, mas sempre acompanhei, porque sou feliz aqui”, finaliza.

A microempresária Josiane Silva, de 44 anos, também é uma brincante raiz, como se autointitulou para descrever o tempo que acompanha o Boi: 12 anos. Junto com as amigas que considera irmãs, Franci e Mari Lima, administradoras de 41 e 40 anos, ela frequentava o início do que viria a se tornar uma das maiores manifestações culturais paraenses. “A gente ia quando era só no coreto da Praça da República que eles se reuniam. Era raiz mesmo. A nossa cultura é muito forte, assim como essa paixão pelo boi, por todo esse colorido que envolve a gente, emociona. E isso aqui é paz. Nesse mundo de gente continua a tranquilidade, a não vê uma confusão, está todo mundo se divertindo”, explica.

A professora de educação física Catarina Lobo, de 49 anos, foi junto com o marido, Luiz Lobo, que é funcionário público, levar a irmã, Cláudia, de 41, para participar do cortejo. A família ficou em um cordão de integrantes da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae). Diagnosticada com paralisia cerebral ainda criança, a irmã de Catarina encontrou na manifestação mais um lugar para se divertir.

“Ela mora comigo, minha família adotou desde criança e sempre tive vontade de trazer ela, agora ela pode ficar nesse espaço aqui e ela tá muito feliz. Estamos aproveitando muito, e é ainda melhor depois de uma pandemia. Isso não tem preço, essa sensação de acolhimento que temos aqui. Eu estou muito feliz por trazer ela, que é muito alegre e gosta de estar no meio das pessoas”, comenta.

O Batalhão da Estrela

O grupo, atualmente, é formado por 850 pessoas, entre estandartes, cavalinhos – conduzidos pelas crianças, vaqueiros e bois, percussão e dança, e pernaltas, além da banda. Em 2022, o Instituto Arraial do Pavulagem, que oferece oficinas dessas atividades que permitem que o brincante integre o movimento, bateu o recorde de inscrições, por isso tamanha a participação popular no cortejo. Lucélia Oliveira é uma dessas apaixonadas pelo Boi Pavulagem. Aos 39, ela conta que acompanha a manifestação desde os seis anos.

“Eu toco maraca, mas como eu estou em crise de coluna, eu estou para cá com os cavalinhos hoje, mas sempre estou no batalhão. A gente está vendo que não está diminuindo o público, pelo contrário, só aumenta. E a expectativa nossa é de muita gente, de muita alegria, muita cor, muita felicidade por onde a gente passa. São dois anos sem a manifestação, então é uma sensação de misto de tranquilidade e alegria, tranquilidade porque a gente sabe que a cultura está resistindo e alegria porque o popular já é alegria em si”, pontua.

Ronaldo Silva, presidente do Instituto Arraial do Pavulagem, reafirma a alegria de poder voltar às ruas com o boi, e classificou esse momento como um reencontro de amizade e das pessoas com a cidade. “Mas também o reencontro com o planeta Terra, existe uma aura de muita insegurança para a vida no planeta, e o respeito à natureza, nós esquecemos disso, e nós nascemos nesse lugar que está encarnado na floresta, e a gente tem muita esperança de que essa romaria de São João Batista possa ser vista pelo mundo inteiro como uma atitude dos povos da floresta. Os tambores da cultura popular nunca deixaram de rufar”, declarou,

O músico, compositor e mestre da cultura popular reitera que a manifestação é uma forma de dar um alerta de que é preciso respeito com as comunidades tradicionais, os indígenas, os quilombolas, e que todos devem tomar essa missão para si. Tudo sob a proteção de São João Batista. “Ele não é padroeiro só no Brasil, ele é padroeiro na Europa, e é superlegal porque é um santo casamenteiro, foi um santo rígido demais, por isso foi decapitado, mas a luz dele está na bandeira brasileira. Ele é o nosso guia, e confio muito que é a luz dele que está fazendo a gente revigorar as energias e torcer pelo Brasil”, concluiu.

O cortejo deste domingo é o penúltimo. O primeiro, segundo estimativa da organização, levou 100 mil pessoas às ruas. Veja imagens da programação:

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