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Após restauração, embarcação histórica achada na Nova Doca passa por vistoria antes de ser exposta

A inspeção é feita após a restauração completa da peça, concluída em julho, que envolveu um trabalho de conservação iniciado em fevereiro deste ano

Gabriel Pires

A embarcação encontrada durante as escavações das obras do Parque Linear da Nova Doca, em Belém, passa por um processo de vistoria detalhada para identificar eventuais ajustes e retoques no revestimento. A inspeção é feita após a restauração completa da peça, concluída em julho, que envolveu um trabalho de conservação iniciado em fevereiro deste ano. Depois de resgatada em três etapas, a embarcação foi levada para um laboratório instalado ao lado do Porto Futuro I, onde futuramente ficará exposta ao público. 

As etapas de limpeza e restauração mobilizaram arquitetos, engenheiros, arqueólogos, museólogos, conservadores-restauradores e profissionais da construção civil. Diversos testes foram realizados para definir as estratégias de restauro. O artefato, associado ao Ciclo da Borracha, deve revelar novas informações sobre a história urbana e econômica da capital paraense.

A arquiteta responsável pela conservação da peça, Tainá Arruda, explica que a maior dificuldade da restauração foi pela fragilidade de algumas áreas da embarcação. Isso porque a estrutura ficou soterrada por muitos anos em ambiente úmido, o que causou o avanço da corrosão. “É necessária uma delicadeza com o próprio material em si, pois suas propriedades ficam expostas ao ar livre. Outro grande desafio foi montar uma estrutura acima do nível do solo onde aconteceria o restauro, devido ao grande peso da embarcação”, explica.

Valor histórico

Com 22 metros de comprimento, o barco foi um dos principais achados arqueológicos do projeto do Parque Linear da Nova Doca. Durante as escavações, também foram localizados fragmentos de louças e garrafas. “Esses artefatos são parte da história da cidade de Belém. Eles datam pelo menos entre 200 e 300 anos, inseridos no contexto da colonização, do Império e início da República”, acrescenta o arqueólogo Kelton Mendes.

Após a identificação do objeto, os achados são registrados, e os relatórios são publicados no sistema do Iphan, incluindo não apenas a embarcação, mas também outros artefatos encontrados no local. As pesquisas estão 60% concluídas.

A embarcação deve oferecer novas informações sobre a formação urbana de Belém e as transformações na relação da sociedade com rios e igarapés, antes usados como vias de circulação. O achado ocorreu em uma área que foi entreposto econômico e hoje é um bairro comercial e residencial, distante de sua origem portuária.

“As características físicas da embarcação apontam para um possível exemplar de origem europeia ou americana, construído entre meados do século XIX e início do XX. Nesse período, auge do Ciclo da Borracha, começaram a circular embarcações com casco metálico, mais resistentes e capazes de transportar grandes volumes. Elas conectavam Belém a cidades ribeirinhas e seringais, integravam mercados e impulsionaram o escoamento de produtos como borracha, cacau, castanha e madeira, desempenhando papel central na economia da região”, detalha Tainá Arruda.

Confira a linha do tempo das principais ações relacionadas ao barco do século XIX:

12/08/2024: A descoberta do barco

A embarcação foi encontrada a cerca de 1 metro de profundidade, em uma área próxima ao antigo Igarapé das Almas, no trecho do canal da Doca. Segundo Kelton Mendes, arqueólogo que monitora o resgate, os segmentos encontrados pertencem à proa e à parte mesial (meio) da embarcação, que pode ter sido usada para transporte de mercadorias ou pessoas no final do século XIX e início do século XX.

11/12/2024: Resgate da proa do barco
A primeira etapa do resgate foi concluída com a retirada do fragmento da proa, que passou a ser tratado no estacionamento de uma universidade particular, onde foi montado um laboratório de conservação e restauro para análise detalhada da estrutura.

10/01/2025: Resgate do segundo segmento
A equipe de arqueologia conseguiu retirar o segundo fragmento, também da parte mesial da embarcação. Esse segmento foi transferido para o mesmo local do primeiro, onde ambos aguardavam o início do processo de restauração.

27/01/2025: Resgate do terceiro segmento
O resgate da terceira parte da embarcação, também da área mesial, foi no dia 27 de janeiro. Ao longo de cinco meses, com o acompanhamento da Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop) e o Iphan, o achado arqueológico passou por minuciosos procedimentos de escavação e içamento para que sofresse o mínimo de intervenção, mantendo as suas características.

Fevereiro de 2025: Início da restauração
A restauração da embarcação começou em fevereiro de 2025 e foi finalizada basicamente em julho. O que está sendo feito no momento são algumas observações e alguns retoques.