Apesar da volta à normalidade, muitas pessoas ainda mantêm o isolamento social
E fazem atividades em casa para cuidar da saúde mental
Muita gente está se comportando como se a pandemia do novo coronavírus tivesse acabado. São pessoas que não estão adotando os devidos cuidados sanitários. No entanto, ainda há muitos que fazem um esforço grande para manter o isolamento social. É o caso da professora Caroline Barroso, para quem o mais difícil nesse momento é, ao sair de casa, ter de conviver com pessoas que relaxaram nas medidas de prevenção à covid-19.
“O mais complicado é, ao sair, ter que lidar com as pessoas que estão por aí sem cumprir o mínimo [uso de máscara e distanciamento social], o que, para mim, é muito simples, mas aparentemente é muito difícil para outras pessoas", desabafa a professora. "Lidar com os outros na rua tem sido bem estressante. Eu fico chamando a atenção das pessoas para não me colocar em risco e elas não se colocarem em risco também. Pra mim, isso tem sido mais difícil do que ficar em casa”, conta.
A rotina de Caroline, nesse período de flexibilização, começou quando ela teve que sair para cumprir horário na escola. “Eu moro em Castanhal e leciono em Santa Maria. Então, eu meio que fui obrigada por conta dessa volta a cumprir horário na escola”, detalha.
“O mais complicado é, ao sair, ter que lidar com as pessoas que estão por aí sem cumprir o mínimo [uso de máscara e distanciamento social]. Lidar com os outros na rua tem sido bem estressante. Eu fico chamando a atenção das pessoas para não me colocar em risco e elas não se colocarem em risco também. Pra mim, isso tem sido mais difícil do que ficar em casa”, conta a professora Caroline Barroso
Cuidados para proteger todos ao redor
Caroline disse que adota todas os cuidados necessários para se proteger, proteger o noivo (Diego Jorge Oliveira) e proteger a família dela. “Como eu moro em uma cidade e trabalho em outra, eu pegava ônibus para ir trabalhar antes da pandemia. Aí, tive que comprar um carro para poder tentar me proteger mais”.
A professora ficou de março a julho sem ver a mãe, que mora em Ananindeua. “Em julho, tivemos que ir para Belém comprar um carro. A gente teve que comprar esse veículo para tentar manter mais segurança”, disse.
“A gente pegava muita van para ir trabalhar, porque os ônibus não são regulares entre os municípios. O carro entrou como uma proteção a mais, já que só eu e meu noivo andamos nele”, lembra a professora.
'Chamo mesmo a atenção das pessoas: é minha saúde'
“Os outros cuidados são os mesmos: a gente troca de roupa toda vez, anda com álcool em gel, lavo o tempo todo as mãos, ando com sabonete líquido na bolsa, tenho spray que tem álcool e água sanitária que espirro na mochila e bolsa. Ao chegar em casa, molho pé em bacia de água sanitária com água e lavo também os objetos”, lista a professora.
Caroline também sempre sai de face shield, que havia comprado para usar na volta às aulas. “As aulas não voltaram, mas a gente está tendo que ir para as escolas. Quando eu percebi que as pessoas não estavam usando máscaras e nem mantendo o distanciamento social, eu comecei a usar a face shield toda vez que tenho que sair. E só saio realmente quando é extremamente necessário”, afirma.
“Quando tenho que sair para locais públicos, locais onde vou interagir com outras pessoas, tenho que ficar pedindo para as pessoas se manterem distante de mim, manterem o distanciamento, porque, para essas pessoas, aparentemente acabou a pandemia. E eu chamo mesmo a atenção das pessoas, porque é a minha saúde, do meu noivo, da minha família. Minha mãe e avó são do grupo de risco”.
“Até agora, tem dado certo. Ninguém pegou. Faz três semanas que estou tendo que cumprir horário”, disse. “Tenho acesso à informação, sei da importância de ser manter o isolamento social, o uso de máscara e quando sair o distanciamento das pessoas. Entendo que é uma responsabilidade social agir assim em prol do bem coletivo da minha família e sociedade como um todo”.
Para manter a saúde mental, Caroline disse que, nesse período de pandemia, lê muito, até porque finalizou a dissertação na metade de agosto, faz Yoga, assiste filmes e séries e faz vídeo chamadas com amigas.
“Quando tenho que sair para locais públicos, locais onde vou interagir com outras pessoas, tenho que ficar pedindo para as pessoas se manterem distante de mim, manterem o distanciamento, porque, para essas pessoas, aparentemente acabou a pandemia. E eu chamo mesmo a atenção das pessoas, porque é a minha saúde, do meu noivo, da minha família. Minha mãe e avó são do grupo de risco”
'As pessoas se comportam como se a pandemia tivesse acabado'
Durante a pandemia, o trabalho da professora de artes Rose Tuñas foi interrompido. “Agora o trabalho voltou, mas no formato on line. Então tudo que eu estou fazendo está sendo realizado pelas redes sociais. Só saio realmente se for necessário. Eu continuo mantendo o distanciamento. Continuo mantendo os cuidados dentro e fora de casa, usando máscara e me prevenindo”, lembra.
“Mas a gente vê muitas pessoas na rua sem máscaras. Os estabelecimentos também não estão cumprindo algumas regras. Muitas lojas e bares em geral se descuidaram e não oferecem mais nem álcool em gel na entrada e, ainda, a capacidade de pessoas dentro dos estabelecimentos ultrapassa o limite permitido”, pondera Rose.
Segundo a professora, isso é muito ruim. “As pessoas estão desinformadas e estão se descuidando cada vez mais dessa higienização que a gente precisa ter, porque é a única forma de prevenção à covid-19”, diz.
Para ela as pessoas se comportam como a se pandemia tivesse terminado e não procuram se cuidar mais. "Andam sem máscaras e não mantêm mais o distanciamento”.
Para manter a saúde mental, Rose Tuñas tenta se distrair com programas de televisão (missas e entrevistas) e canal de YouTube. “Tenho feito muita ginástica e leio muitas revistas E jornais. E tenho feito também muita oração, porque a gente não pode deixar de perder a fé nunca em Deus”.
"A gente vê muitas pessoas na rua sem máscaras. Os estabelecimentos também não estão cumprindo algumas regras. Muitas lojas e bares em geral se descuidaram e não oferecem mais nem álcool em gel na entrada e, ainda, a capacidade de pessoas dentro dos estabelecimentos ultrapassa o limite permitido”, pondera a professora Rose Tuñas
Leitura e música podem ser aliados no isolamento, diz psicóloga
A psicóloga Lohana Macedo diz que existe uma parcela da população que continua em isolamento social. “E é importante que essas pessoas tentem não se comparar com a forma que as outras pessoas estão vivendo na pandemia, pois cada pessoa tem seu próprio contexto social e recursos [externos e emocionais] para lidar com essa vivência”, afirmou.
Para a profissional de saúde, seguir no caminho inverso pode ser mais saudável. "Ou seja, que a pessoa possa olhar mais para si e busque se conectar mais com o motivo pelo qual ela optou por seguir em isolamento e que ela está fazendo aquilo que pode no momento e o que acha ser o mais adequado. É importante buscar se acolher e se fortalecer diante desse contexto”.
Lohana Macedo lembra o quanto o contato interpessoal se faz necessário nesse processo. "As redes sociais, internet e celular podem ser grandes aliados para a manutenção das relações com amigos, familiares e até mesmo permitindo em muitos casos a possibilidade de trabalhar e estudar em casa”, explica.
Segundo a psicóloga, os recursos lúdicos de jogos, leitura, escrita, desenhos, costura, música, entre outras possibilidades, podem ser grandes aliados no isolamento social e no fortalecimento das relações familiares dentro de casa, pois são atividades que estimulam o aspecto cognitivo, a socialização e a expressão das emoções dos sujeitos.
"É importante que essas pessoas tentem não se comparar com a forma que as outras pessoas estão vivendo na pandemia, pois cada pessoa tem seu próprio contexto social e recursos para lidar com essa vivência”, afirma a psicóloga Lohana Macedo. “A atividade física, sempre com orientação de profissionais da área, também é essencial”
“A atividade física, sempre com orientação de profissionais da área, também é essencial para a melhora da saúde física e mental, pois, mesmo em isolamento social, as pessoas podem continuar se movimentando e se cuidando”, diz Lohana. “Procure o suporte psicológico quando necessário, isolamento social não significa que você precisa lidar com tudo sozinho, e muitos psicólogos seguem realizando atendimento psicólogo on-line”, aconselha.
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