Acne: doença causa incômodos físicos e estéticos; tratamento exige dedicação
Entre os motivos que podem causar ou agravar a acne, destacam-se a aplicação de cosméticos oleosos, o calor e o consumo de alimentos com alto índice glicêmico.
Além de ser uma doença crônica que afeta os poros da pele, a acne tem o poder de atingir o bem-estar e a autoestima de pessoas em diferentes faixas etárias, ao impactar a vida social e emocional. Os motivos que levam ao aparecimento ou agravamento da acne no corpo são diversos, como o uso de certos cosméticos e medicamentos, a ingestão de alguns alimentos e até a temperatura do ambiente, segundo a médica dermatologista Caroline Palheta. Para quem busca se livrar do problema, o processo pode exigir comprometimento e sacrifícios.
A acne é provocada por dois fatores: o aumento da produção sebácea e a obstrução dos poros, de acordo com a dermatologista. Caroline explica que esses fatores podem ser desencadeados por diferentes motivos, dependendo, por exemplo, do tipo de pele da pessoa. A doença pode se apresentar de diferentes formas, desde casos mais leves até mais graves.
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Entre os principais tipos, estão a acne comedogênica, que forma cravos pretos ou brancos, e a inflamatória, quando há pequenos caroços vermelhos com pus, ou nódulos ou cistos. “Além delas, há também a acne cística, que é mais profunda, dolorosa e geralmente deixa cicatrizes. A acne hormonal é outro tipo comum em mulheres adultas, especialmente no queixo e mandíbula”, explica a médica.
Uma das principais causas é a aplicação de cosméticos oleosos, que podem obstruir os poros. “A acne pode ser causada por produtos aplicados na pele, quando a pessoa usa cosméticos oleosos, incluindo cremes de limpeza, umectantes e protetores solares comedogênicos, ou seja, que obstruem os poros, levando à formação de cravos e espinhas”, explica a dermatologista.
A temperatura do ambiente também pode influenciar no surgimento da acne, pois o calor aumenta a secreção sebácea da pele. Por conta disso, Caroline Palheta aconselha lavar o rosto ao longo do dia, mas sem exageros, os quais podem agravar o problema. “Deve-se lavar o rosto pelo menos duas vezes ao dia e as mulheres devem retirar toda a maquiagem da pele ao deitar. Porém, deve-se evitar a lavagem mais de três vezes ao dia, pois o excesso irrita a pele e aumenta a produção sebácea, por um efeito rebote”, orienta a médica.
Além dos cosméticos e da temperatura, a especialista ressalta que o uso de medicamentos que contenham vitaminas do tipo B e corticoides pode causar espinhas no rosto e no tronco. No caso da ingestão de alimentos com alto índice glicêmico, como leite e derivados, pode haver agravamento da acne.
“O fator emocional também tem um papel importante. Situações de estresse, ansiedade e até privação de sono podem desregular hormônios, como o cortisol, que afetam diretamente a produção de óleo pela pele e aumentam a inflamação. Isso pode agravar quadros de acne, especialmente em pessoas predispostas”, destaca Caroline.
Acne gera incômodos físicos e estéticos
Assim como muitas pessoas, o designer gráfico Felipe Barros, de 20 anos, começou a notar a presença de acne aos 12 anos de idade, embora não fosse muito frequente no início. Contudo, o problema começou a incomodar quando a quantidade de espinhas aumentou em várias partes do corpo, além do rosto. “Com o tempo, começou a me incomodar, porque crescia nas minhas costas, braços e até na minha perna”, relata.
O incômodo, por vezes, era com a pressão estética que as pessoas costumam sentir, o que resultava em momentos de baixa autoestima. “Teve períodos que davam várias espinhas no meu rosto e isso acabava me incomodando. Existe certa pressão em estar bonito, arrumado e sem espinhas no rosto, então, às vezes, eu tinha baixa autoestima, mas nunca foi o maior problema”, relata.
O principal problema que o jovem destaca é que as espinhas causavam dores, atrapalhando o seu bem-estar. “Me incomodava de diversas maneiras, não só por conta da questão estética, mas também pela dor. Às vezes, crescia perto da minha boca e doía quando eu falava”, conta Felipe.
Uso de produtos dermatológicos deve ter orientação médica
No início, incomodado pela acne, o designer Felipe Barros procurou solucionar o problema por conta própria, comprando produtos para cuidados com a pele. Porém, a acne voltava após um curto período. “Passava sabão que fosse ajudar a minha pele ou usava aqueles adesivos para espinhas. Mas sempre acabavam voltando”, afirma. Para uma solução definitiva, Felipe Barros procurou uma dermatologista, que receitou um medicamento para tratar a acne. No caso do designer, o tratamento está previsto para durar oito meses.
Nas redes sociais, conteúdos de cuidados com a pele vêm ganhando a atenção do público, com o aumento de visualizações em vídeos curtos relacionados ao tema e até mesmo indicações de produtos por influenciadores, com a premissa de tratamento da acne. Alguns cosméticos, como retinol, niacinamida, entre outros, podem ser utilizados, desde que haja orientação médica.
“O retinol, o retinal e a niacinamida são ingredientes ativos que agem de formas diferentes na pele: o retinol e o retinal, por exemplo, ajudam na renovação celular e são indicados para tratar acne, manchas e até sinais de envelhecimento. Já a niacinamida tem ação anti-inflamatória e calmante, sendo boa para peles mais sensíveis”, informa Caroline.
Segundo a médica, o problema está no uso incorreto dos produtos, como aplicar sem saber o tipo de pele, ou misturar com outros produtos, o que pode levar à irritação, ressecamento e até mesmo piora da acne. “É fundamental procurar um dermatologista antes de iniciar qualquer tratamento com ácidos, mesmo que pareçam "inofensivos" por serem muito falados nas redes sociais”.
A orientação também vale para insumos tradicionais da região amazônica, como a andiroba, babosa e a copaíba, por exemplo. “A Amazônia tem uma riqueza imensa de ativos naturais, e muitos deles de fato têm propriedades medicinais comprovadas. A babosa, por exemplo, tem efeito calmante e cicatrizante; a copaíba tem ação anti-inflamatória; e a andiroba pode ajudar em processos regenerativos”, destaca Caroline.
O fato dos produtos serem naturais não significa que são isentos de efeitos colaterais. De acordo com a médica, o ideal é que os produtos passem por controle de qualidade e aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ela afirma, ainda, que o uso caseiro, sem preparo adequado ou diluição correta, pode causar irritação e reações adversas. “O ideal é utilizar produtos dermatológicos formulados com esses ativos”, defende.
O processo de tratamento exige resiliência e dedicação
O tratamento da acne exige comprometimento e dedicação por parte do paciente, devido aos efeitos causados pelo medicamento e à quantidade de produtos que precisam ser aplicados como complemento. Para Felipe, o ressecamento é a parte mais difícil do processo. “O mais difícil é lidar com o ressecamento. No primeiro mês de tratamento, a minha boca ressecava muito, chegando a sangrar. Além dos produtos, é preciso beber bastante água. Eu tomo cerca de três litros por dia”, afirma.
A rotina de tratamento do designer envolve cinco produtos que precisam ser usados diariamente. O principal é o medicamento, ingerido durante o almoço, além do sabonete facial e do protetor solar facial. Para aliviar o ressecamento da pele, da boca e dos olhos, ele utiliza hidratante corporal, hidratante labial e colírio, respectivamente.
Veja como prevenir a acne
- Lavar o rosto duas vezes ao dia com sabonete adequado ao seu tipo de pele.
- Evitar espremer cravos e espinhas, pois isso pode causar manchas e cicatrizes.
- Usar produtos “oil free” e não comedogênicos, ou seja, que não entopem os poros.
- Retirar a maquiagem antes de dormir.
- Evitar o excesso de sol e usar protetor solar apropriado para peles acneicas.
- Ter uma alimentação equilibrada, evitando excesso de açúcar e alimentos ultraprocessados.
- Manter o cabelo limpo e longe do rosto, especialmente se for oleoso.
- Evitar tocar o rosto com as mãos sujas.
- Controlar o estresse com práticas como meditação, exercícios ou terapias.
- Procurar um dermatologista ao primeiro sinal de acne persistente ou inflamada.
Fonte: Caroline Palheta, médica dermatologista
*Ayla Ferreira, estagiária de Jornalismo, sob supervisão de Fabiana Batista, coordenadora do Núcleo de Atualidades
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