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Abandono no Trapiche de Icoaraci expõe descaso da Prefeitura de Belém

O local não possui saneamento básico, cobertura para proteção contra sol e chuva, limpeza adequada, nem estrutura para comportar o intenso fluxo de passageiros e barqueiros

O Liberal

O trapiche de Icoaraci, um dos principais pontos de embarque e desembarque para diversas ilhas de Belém, sofre com a falta de manutenção e infraestrutura. O local não possui saneamento básico, cobertura para proteção contra sol e chuva, limpeza adequada, nem estrutura para comportar o intenso fluxo de passageiros e barqueiros, que aumenta significativamente durante o mês de julho, especialmente com o aumento da procura por viagens para ilha de Cotijuba.

A vendedora de café Jaqueline Santos Leal, de 37 anos, trabalha no trapiche há mais de 20 anos e reclama do abandono. "Está faltando tudo. A manutenção é muito precária. Nós, que trabalhamos com alimentos, não temos boas condições. Somos cobrados pela Sefin para termos alvará e todas as exigências legais, mas não temos suporte. O banheiro é precário e sequer podemos utilizá-lo. Deveria estar tudo organizado", desabafa.

Segundo ela, as únicas ações da prefeitura se limitam à varrição esporádica do espaço e à capinagem mensal. "O movimento aqui é grande. Se houvesse mais suporte, teríamos como trabalhar melhor. Falta uma reforma completa do espaço", afirma.

Jaqueline ainda relata que, mesmo com a promessa da prefeitura sobre a construção de um novo trapiche com mais estrutura, não há informações sobre prazos ou início das obras. "Eu levo e trago tudo para trabalhar. É muito sacrifica​nte. Todo dia temos que colocar e tirar a lona por causa do sol e dos pombos", conta.

Outro problema grave é a ausência de água tratada. Jaqueline precisa comprar quatro garrafões de água por dia para trabalhar com segurança na manipulação de alimentos. Ela também cobra também a realização de capacitações que foram prometidas pela prefeitura. “A gente foi chamada pela Secon [Secretaria Municipal de Economia]. Disseram que teríamos curso de atendimento bilíngue. Até hoje, nunca mais fomos chamadas. Não fomos preparadas para receber ninguém”, critica.

Carla Suelen Mendes, de 34 anos, trabalha com Jaqueline há três anos. Próximo ao local onde atuam, parte do trapiche cedeu e desabou sobre a faixa de areia. Além disso, o local não possui parapeitos de segurança. Carla relata que já contraiu micoses nos pés devido à água suja que escorre pelo trapiche em dias de chuva.

Ao lado do trapiche, há um pequeno porto ainda mais precário, onde atracam barcos particulares, rabetas e pequenos veículos que transportam famílias e mercadorias para as ilhas vizinhas.

O estivador Thiago Navegantes, de 36 anos, trabalha há vários anos carregando e descarregando mercadorias. Ele denuncia o abandono por parte da administração municipal. "Parte do trapiche cedeu, e fomos nós, trabalhadores, que aterramos o espaço para tapar os buracos. A gente faz por nossas próprias forças, quando consegue", relata.

Enquanto aguardava a chegada da família para embarcar rumo a Cotijuba, a psicóloga Thainy Feitosa, de 28 anos, criticou as condições do local. "Não há estrutura adequada. Falta acessibilidade. Não sei como pessoas com mobilidade reduzida conseguem passar por aqui. Também falta segurança. É evidente que o espaço está abandonado pelo poder público, o que é lamentável", afirma. "É um local público sem manutenção. Quem ainda mantém algo funcionando são os próprios trabalhadores", observa.

Thainy expressa preocupação com a imagem que o local pode transmitir aos turistas. "Não sei qual será a referência que eles levarão daqui. Isso cria uma perspectiva negativa para Belém, especialmente em relação à segurança e à organização", conclui.

A Prefeitura de Belém, por meio da Subprefeitura de Icoaraci, informa que já possui um levantamento das melhorias necessárias para o local e, em breve, fará ajustes emergenciais por meio da Secretaria Municipal de Zeladoria e Conservação Urbana (Sezel).