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46% dos brasileiros já deixam de comer carne, por vontade própria, pelo menos uma vez na semana

Alimentação vegetariana pode ser mais barata que aquela de origem animal; tudo depende da escolha dos ingredientes

Dilson Pimentel

Um cardápio semanal para um casal vegetariano custa, em média, em torno de R$ 60, em Belém. Isso derruba um dos principais mitos em relação à alimentação que não tem origem animal, a de que essa é uma refeição cara.

O cálculo é feito pelo assistente jurídico Rodrigo Martins, 29 anos, e sua noiva, a correspondente imobiliária Carolina Machado Mendes, 27, ambos vegetarianos. Ele, há dois anos. Ela, há sete. O casal prepara as refeições em casa, o que barateia o valor dos alimentos.

Em todas as regiões brasileiras e independente da faixa etária, 46% dos brasileiros já deixam de comer carne, por vontade própria, pelo menos uma vez na semana. É o que revelou, em 2021, pesquisa que a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) encomendou ao Ipec (Inteligência em Pesquisa e Consultoria - o antigo Ibope Inteligência aqui no Brasil).

Com isso, a oferta de restaurantes e lanchonetes com opções veganas tem aumentado rapidamente nos últimos anos buscando atender essa parcela significativa da população - de acordo com o Ipec, um terço dos brasileiros busca opções veganas nos cardápios, ainda segundo a SVB.

Francisco Gomes é dono do Govinda, tradicional restaurante vegetariano vegano localizado em Belém. Ele disse que uma refeição vegetariana pode ser mais barata que a alimentação tradicional. “Depende das escolhas que você faz”, afirmou.

“Se adquirir produtos da época certamente vai sair mais barato. Agora se você, de repente, vai buscar coisas pré-feitas, enlatados, embutidos, mesmo vegetarianos, a tendência é de que realmente eleve um pouco o custo dessa refeição. É uma questão de você saber fazer a escolha dos seus ingredientes”, afirmou. Francisco disse que as pessoas podem ter uma alimentação saudável, saborosa e sem gastar muito como muitas pessoas imaginam.

Sobre esse aspecto, diz o assistente jurídico Rodrigo Martins: “Levando em consideração a realidade do nosso Estado e da nossa cidade, infelizmente ainda não são extensas as opções de restaurantes vegetarianos ou veganos, o que acreditamos (pela lógica do mercado de ‘oferta x demanda’) tornar ainda um pouco caro se alimentar em restaurantes”.

Refeição preparada em casa custa bem menos, diz assistente jurídico

Ele acrescentou: “Mas, hoje, já temos alguns estabelecimentos com diversas faixas de preço. Pro famoso ‘PF’ do dia a dia, os preços giram em torno de R$ 15 a R$ 20 uma boa refeição. Há restaurantes em que há pratos em torno de R$ 60/R$ 70, sendo alguns servindo mais de uma pessoa, o que não fugiria tanto do valor pago a uma refeição com proteína/derivados de animais”, afirmou.

Rodrigo disse que a refeição vegetariana preparada em casa apresenta custo infinitamente menor. “Nossas marmitas semanais nos custam aproximadamente de R$ 6 a R$ 8 por dia, visto que cozinhamos em maior quantidade e refrigeramos aquilo que não será consumido tão imediatamente”, afirmou.

Ainda segundo ele, a alimentação vegetariana possui “combinações-chave” que, obedecidas, garantem um valor nutricional alto e variado. O que não pode faltar na alimentação de Rodrigo e Carolina são cereais integrais, como arroz integral, macarrão, quinoa, por exemplo, combinados com leguminosas - feijão, ervilha, grão-de-bico.

“E completamos com legumes como tomate, batata-doce, berinjela, abobrinha, cenoura, beterraba e com folhas/hortaliças, como alface, acelga, agrião, espinafre, couve, dentre outros. Sem falar nas frutas que geralmente lanchamos: goiaba, banana, abacate, uva e por aí vai. Esse cardápio semanal para nós dois custa em média, uns R$ 50 a R$ 60”, disse Rodrigo.

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Alimentação melhorou qualidade de vida de psicóloga

Enquanto almoçava naquele restaurante vegetariano vegano, na Batista Campos, a psicóloga Andrea Mendes, 52, contou que, a partir dos 40 anos, modificou a alimentação dela. “Pela questão da saúde, pelas pessoas, pelos animais, pelo planeta, a questão da sustentabilidade também”, afirmou.

Ela disse ser um mito que esse tipo de alimentação não é gostosa. “É muito saborosa”, afirmou. “O que dá sabor para os alimentos, além dos alimentos em si, são os temperos”, disse. Aos domingos, quando tem mais tempo, Andrea prepara sua refeição em casa.

“Eu sou ovovegetariano. Aos sábados, vou à feira orgânica, na praça Batista Campos, e compro ovo orgânico de galinhas caipiras. Galinhas criadas soltas. E aí eu faço uma omelete com bastante vegetais e arroz integral. Faço uma saladinha com feijão cozido também”, contou. Em termos financeiros, disse que essa alimentação é mais em conta que as refeições de origem animal.

Andrea Mendes comentou como a opção vegana faz bem à saúde dela. “Eu tenho hipotireoidismo (um problema na tireoide (glândula que regula a função de órgãos importantes como o coração, o cérebro, o fígado e os rins) há dez anos. Então o metabolismo é mais lento. E, com a idade, ainda tem a questão realmente do envelhecimento de do organismo trabalhar num modo mais desacelerado”, disse. “Acredito que, se eu não tivesse essa alimentação, eu estaria muito acima do peso, por exemplo, e com patologias associadas, como, por exemplo, a obesidade”, afirmou.

O advogado Thiago Coral, 33 anos, também almoçava naquele restaurante. Ele contou que consome essa alimentação uma vez ao mês. “É uma alimentação mais leve e faz com que a gente tenha um dia a dia mais saudável. Você sai para trabalhar e não fica pesado”, contou. Thiago continua consumindo alimentos de origem animal. “Mas, de vez em quando, opto por um dia sem carne”, afirmou. “Aqui, tem um preço bem em conta, abaixo da média dos restaurantes comuns”, disse. Ele afirmou que são comidas saborosas, destacando a maniçoba vegana, melhor, em sua opinião, do que a tradicional.

Em um, dois, três ou vários dias por semana, os brasileiros optam por fazer refeições vegetarianas ou veganas

Presidente da Sociedade Vegetariana Brasileira, Ricardo Laurino diz que, ao contrário do que muitos podem pensar, para incluir pratos veganos no cardápio, os restaurantes não precisam fazer investimentos, comprar novos equipamentos ou aplicar novas técnicas. Podem optar por combinações simples e tradicionais, utilizando ingredientes facilmente disponíveis no restaurante. Dessa forma, é possível atender ao consumidor, que está cada vez mais consciente e ávido por algo que seja saboroso, faça bem ao planeta e seja acessível.

O que acontece é que, além da parcela vegetariana da população, cresce muito rapidamente a parcela que procura reduzir o seu consumo de carnes e derivados. Em um, dois, três ou vários dias por semana, os brasileiros têm optado por fazer refeições vegetarianas ou veganas - e pelos mais diversos motivos, como melhor qualidade de vida, consciência ambiental ou mesmo respeito aos animais, afirmou.

Uma parte desse universo (de 46% da população geral, independente da idade, segundo o Ipec) são os milhões de adeptos da “Segunda Sem Carne”, campanha mundialmente conhecida pelo seu embaixador Paul McCartney, mas com maior repercussão no Brasil.

A proposta do movimento é convidar as pessoas a trocar, pelo menos uma vez por semana, a proteína animal pela proteína vegetal e a SVB já ajudou a levá-la a refeitórios corporativos, escolas particulares e públicas, restaurantes e outras organizações. A ideia principal da campanha não é tirar algo do prato, mas, sim, acrescentar, afirmou Ricardo Laurino.

Diferença entre veganismo e vegetarianismo:

Veganismo é um movimento em que seus adeptos evitam, na medida do possível e do praticável, excluir todas as formas de exploração e crueldade contra os animais - seja na alimentação, vestuário ou outras esferas do consumo

Já o vegetarianismo é uma escolha alimentar na qual se tira os produtos de origem animal do cardápio.

Mas existem tipos de vegetarianismo? Quais são os principais?

Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.

Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação.

Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação.

Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação.

Alimentação vegana: não utiliza nenhum tipo de produto/insumo de origem animal e que nenhum deles tenha sido testado em animais

Razões para ser vegetariano:

Ética

São abatidos mais de 10 mil animais terrestres por minuto no Brasil para produzir carnes, leite e ovos. A maioria destes animais são frangos, porcos e bois - animais que têm uma complexa capacidade cognitiva e sentem dor, sofrimento e alegria da mesma forma que os cães que temos em casa.

Saúde

Diversos estudos associam efeitos positivos de saúde com a maior utilização de produtos de origem vegetal e restrição de produtos oriundos do reino animal. De acordo com inúmeros estudos científicos, o consumo de carnes está diretamente associado ao risco aumentado de doenças crônicas e degenerativas como diabetes, obesidade, hipertensão e alguns tipos de câncer.

Meio ambiente

Segundo a ONU, o setor pecuário é o maior responsável pela erosão de solos e contaminação de mananciais aqüíferos do mundo. A ONU também estimou que cerca de 14,5% das emissões de gases do efeito estufa oriundas de atividades humanas têm origem no setor pecuário

Fonte: Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB)

 

Belém