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Espírito empreendedor de Romulo Maiorana impôs virada a O Liberal

Apreço pelo jornalismo impulsionou o empresário de sucesso no comércio a investir no mercado editorial

Fabyo Cruz, especial para O Liberal

Reconhecido nacionalmente como o maior e mais importante veículo de comunicação impresso da Amazônia, O Liberal fez 75 anos em 15 de novembro passado. O mérito da conquista de credibilidade na região amazônica, mas sobretudo entre os paraenses, que tornou o jornal um importante instrumento a serviço da democracia, é do espírito empreendedor do empresário Romulo Maiorana, sob a direção do qual a publicação passou por transformações fundamentais.

Antes de se tornar o veículo mais influente do estado nas últimas sete décadas e meia, O Liberal vivia os estertores da imprensa partidária no País, em iminente falência, sob a gestão do tenente Moura Carvalho, que o havia fundado em 1946, como braço político do baratismo. Naquela época, o jornal circulava às 16h, com apenas quatro páginas, para dar suporteà propaganda do também tenente Magalhães Barata, o 13º governador do Pará. 

Com a morte de Barata, em 1959, o periódico retornou à posse do fundador, que, após cinco anos, o venderia ao engenheiro Ocyr Proença. Após quase duas décadas de existência, o jornal amargava a sua pior fase. Sem leitores e anunciantes, não vendia mais que 300 exemplares.

Jornalista e escritor falecido em novembro de 2020, João Carlos Pereira foi colunista de O Liberal quando Romulo Maiorana comandava a empresa e costumava frisar o caráter visionário do empresário, virtude à que atribui a compra e transformação de O Liberal em um dos mais influentes jornais brasileiros.

Comércio


A incursão bem sucedida no ramo editorial foi precedida pelo sucesso do empresário no setor comercial, no qual a cadeia de lojas com as iniciais de seu nome – RM – dispunham de vitrines atrativas, vendedoras treinadas para bem atender os clientes e um espaço para a venda de lanches, uma revolução no conceito de atendimento e padrão na praça – notou o historiador.

Nada mal para um homem que começou a ganhar vida fabricando flâmulas, depois produzindo catálogos telefônicos e placas de paradas de ônibus, em uma cidade praticamente desconhecida. Bem-sucedido nos negócios, o empresário tinha muito apreço pela atividade jornalística e isso o ajudaria a escrever uma nova era para a comunicação amazônica, após a aquisição de O Liberal. 

Romulo Maiorana era dono de um estilo que se tornou a sua marca registrada, telegráfico e preciso, sabia onde encontrar a notícia e cercava-se das mais bem informadas fontes da cidade. O empresário já havia trabalhado no setor comercial do jornal que viria a adquirir e, mais tarde, assumiu duas colunas em “A Folha do Norte”, rival de O Liberal e o maior e mais importante matutino de Belém: “RM Informa” e “Sempre aos domingos”. 

Bem-sucedido nos negócios, o empresário tinha apreço pelo jornalismo. Romulo Maiorana era dono de um estilo que se tornou a sua marca registrada: telegráfico e preciso, sabia onde encontrar a notícia e cercava-se das mais bem informadas fontes da cidade

Pioneirismo em off set


Na tarde de 1º de maio de 1966, o jornal O Liberal circulou com apenas uma chamada de primeira página, com a foto de Romulo Maiorana. A página informava que o periódico acabara de ser vendido, começando naquele dia um novo ciclo para o que viria a ser um dos maiores veículos impressos do país. A partir daquele momento, o empresário ampliou a equipe de profissionais da redação e adquiriu novos equipamentos. As fotos eram transformadas em clichês e preparadas no tamanho em que sairiam impressas. Foi ele que trouxe para Belém o sistema offset, ou a frio, que produzia uma impressão de altíssimo nível, com impressionante nitidez de imagens e de textos e, sobretudo, que poupava o leitor de sujar as mãos com a tinta que se desprendia do papel no sistema anterior.

Sem amarras políticas, o empresário surpreendeu os leitores belenenses com um novo jornal, impresso de forma inovadora, já que poucos noticiários brasileiros tinham a mesma qualidade. De acordo com João Carlos Pereira, no dia em que saiu a primeira impressão offset, Romulo Maiorana fez questão de apreciar o exemplar e celebrar a conquista ao lado da esposa, dona Lucidéa Maiorana, na residência do casal, à travessa Padre Eutíquio, em frente à praça Batista Campos.

Depois da impressão offset, a empresa foi remodelada em Grupo Liberal e já possuía um canal de rádio, com intenções de entrar no ramo da televisão. Sob o comando de Romulo Maiorana, O Liberal adotou uma postura firme, pautada pela liberdade de imprensa. Após adquirir o maior concorrente, a Folha do Norte, instalou a Rádio Liberal e a TV Liberal, emissora consolidada como uma das cinco maiores afiliadas da Rede Globo. Romulo Maiorana faleceu aos 63 anos e deixou como legado um império de comunicação na Amazônia. 

Aniversário