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Patrimônio público perpetua o ideal republicano

Ruas, praças e monumentos paraenses se tornam símbolos do espírito da República

Tainá Cavalcante

O Pará é repleto de símbolos históricos, como os republicanos, e isso não é novidade. Alguns, entretanto, são bem mais conhecidos do que outros, como a avenida 16 de Novembro, que representa a data da cerimônia que marcou o final da monarquia no Estado; a rua imperatriz, que hoje se chama rua 15 de Novembro, dia da Proclamação da República, ou a antiga rua do Imperador, que passou a se chamar Boulevard da República. Os três exemplos são ruas que antes remetiam, de alguma forma, à família imperial e tiveram suas marcas apagadas, com nomes substituídos para passar a imprimir padrões do novo regime político que passara a vigorar.

Além das vielas, há ainda outras grandes marcas espalhadas em Belém. A mais imponente delas é a Praça da República, onde fica o monumento construído para homenagear o novo regime, uma obra de 20 metros de altura que foi idealizada pelo primeiro governador republicano do Estado, Justo Chermont. Nesse monumento, a figura de Marianne talvez seja uma das mais expressivas simbologias do movimento republicano no Estado: representando o povo, Marianne é a figura alegórica de uma mulher que retrata a República da França, mas que foi utilizada também no Brasil.

"As simbologias republicanas poderiam estar numa praça, como o monumento escultórico executado pelo artista italiano Michele Sansebastiano, na Praça da República; no pano-de-boca do Theatro da Paz, pintado pelo cenógrafo Crispim do Amaral ou ainda nas imagens veiculadas nos manuais escolares e álbuns comemorativos", exemplifica o historiador Silvio Rodrigues, doutor em História Social.

Esses símbolos, ruas e monumentos, eram formas de o novo regime distanciar o povo dos antigos ideais imperiais e aproximá-los dos ideais republicanos. "Se prestarmos atenção a nomes de praças, logradouros, monumentos e datas cívicas que existem no Pará, veremos que a memória política da qual somos herdeiros é, em grande parte, republicana", alerta Silvio. De acordo com ele, isso não é por acaso. "Na virada do século 19 para 20 houve um grande investimento na construção de uma identidade para o novo regime. Para isso, contribuíram artistas, escritores, historiadores, jornalistas e outros intelectuais que, de acordo com ideais republicanos, escolheram o que deveria ser lembrado ou esquecido do nosso passado. Assim, multiplicaram-se os lugares de memória da República no Pará, principalmente em Belém", afirma.

Mesmo com o passar do tempo, muitos desses símbolos ainda estão fortemente presentes no cotidiano do paraense. Segundo Silvio, que também é professor da Escola de Aplicação da UFPA, basta passear pelos museus de Belém para ver, em profusão, a presença deles.

"Para onde se quer que olhe na cidade de Belém, e mesmo nas cidades interior do Pará, os emblemas da República estão presentes. Eles nos informam sobre um determinado passado, capaz de lançar luz sobre o presente. Daí a importância de todo esse patrimônio onde há revelações e ocultamentos", declara o historiador.

Conheça alguns símbolos republicanos no Pará:

# Museu de Arte de Belém (Mabe)

A grande tela “Os últimos dias de Carlos Gomes”, de autoria dos pintores italianos Domenico De Angelis e Giovanni Carpanesi, salta aos olhos pela imponência. A obra não é só emblemática por retratar um dos maiores artistas do império em seu leito de morte, mas também por ele estar amparado pelas figuras mais eminente do novo regime, como Lauro Sodré e Antônio Lemos.

# Instituto Histórico e Geográfico do Pará

Datas cívicas como a da Independência do Brasil (7 de setembro de 1822), a da Adesão do Pará à Independência (15 de agosto de 1823), a da Abolição da Escravatura (1888) e a Proclamação da República (15 de novembro de 1889) eram comemorados pelos republicanos com entusiasmo, promovendo debates, festas cívicas e exposições.

Um dos grandes responsáveis por isso foi o Instituto Histórico e Geográfico do Pará, inaugurado em 1900 e, depois de uma pausa de alguns anos, reinstalado em 1917. Ali estavam presentes figuras de destaque dos círculos intelectuais paraenses, como engenheiros Ignácio Moura, Palma Muniz, Henrique Santa-Rosa, o pintor Thedoro Braga e outros.

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