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Há 59 anos Brasília era erguida no meio do nada

Thiago Vilarins

A história da construção da capital de todos os brasileiros passa por questões estratégicas e de encontro com a modernidade. Inaugurada em 21 de abril de 1960, Brasília foi erguida no meio do cerrado, em menos de quatro anos, a partir de uma concepção modernista de urbanismo e arquitetura. Ela foi o ápice do projeto desenvolvimentista do presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira (1956-1961), conhecido pelo lema "Cinquenta anos em cinco".

No entanto, a ideia de transferir a capital para o interior do País e o seu nome são bem mais  antigas. José Bonifácio, o Patriarca da Independência, foi o primeiro a sugerir o nome Brasília para a nova capital do país, em 1823. A primeira constituição republicana, de 1891, previa a mudança da capital do Rio de Janeiro para uma região no Planalto Central. Para isso, foi criada a Comissão Exploradora do Planalto Central (1892-1893), liderada pelo astrônomo belga Luiz Cruls - amigo do imperador Dom Pedro 2º, então no exílio -, que explorou a região.

Em 1954, o governo de Café Filho (1954-1955) nomeou a Comissão de Localização da Nova Capital Federal (1954), comandada pelo marechal José Pessoa, para dar continuidade aos trabalhos. O território que abrigaria a futura capital do País era conhecido como Quadrilátero Cruls, em homenagem a Luiz Cruls. Tinha dimensões de 160 por 90 quilômetros quadrados e situava-se a mil quilômetros de São Paulo e Rio de Janeiro. A justificativa do governo, com a transferência da capital para o cerrado goiano, era explorar as riquezas da região central do país. Além desse argumento ainda pesava o deslocamento do centro político do país para fora do eixo Rio-São Paulo, incentivo ao povoamento do interior quase vazio e melhor posição estratégica e militar da capital, longe do litoral.

O Distrito Federal foi o primeiro passo no sentido de equilibrar as diferenças de um país dividido entre o litoral – populoso, urbanizado e industrializado – e o interior – despovoado, pobre e sem infraestrutura. Vale ressaltar que junto com a capital surgiram estradas cortando o País, como a Belém-Brasília, importante ligação do centro-sul com a região Norte.

O mineiro Juscelino Kubitschek (JK) foi alvo de muitas críticas na época, principalmente por parte de políticos do Rio de Janeiro, que temiam perder influência e poder com a transferência da capital, pois a cidade era capital federal desde a implantação da República, em 1889, e foi capital da colônia desde 1763. Para JK, entretanto, a mudança era também estratégica. O ambiente político da segunda metade dos anos 1950 era permeado pela tensão da Guerra Fria (1945-1989). De um lado, havia o receio de os militares darem um golpe – e, de outro, o de estourar uma revolução comunista como a ocorrida em Cuba, em 1959.

No ano anterior à eleição de JK, Getúlio Vargas se suicidara no Palácio do Catete (sede do governo, no Rio de Janeiro). JK esperava cumprir o mandato estando longe das agitações populares e do clima de instabilidade no Rio de Janeiro. Juscelino defendia a proposta desde 1946, quando era deputado constituinte. E a cidade apareceu como meta de número 31 no Plano de Metas de seu governo. Foi no primeiro comício como candidato da coligação PSD-PTB, cinco dias após deixar o governo do Estado de Minas Gerais para concorrer à Presidência, que JK fez a promessa de construir Brasília. Era 4 de abril de 1955, no município de Jataí, sertão goiano. Após o discurso, um eleitor perguntou se o candidato mudaria a capital, conforme previsto na Constituição. JK respondeu: "Cumprirei na íntegra a Constituição. Durante o meu quinquênio, farei a mudança da sede do governo e construirei a nova capital".

Juscelino Kubitschek foi eleito em 3 de outubro 1955, com 33,82% dos votos. Para cumprir a promessa de campanha de construção de Brasília, escolheu o arquiteto Oscar Niemeyer para projetar as principais edificações da cidade. Niemeyer já era conhecido internacionalmente, e alguns dos projetos arquitetônicos que fez para Brasília tornaram-se símbolos do país, como o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, o Palácio da Alvorada e a Catedral. O segredo da arquitetura de Niemeyer é a sofisticação da obra aliada a um elemento intuitivo, que permite que ela seja apreciada por qualquer pessoa, com base em soluções simples e ricas de detalhes. Para escolher o Projeto Piloto foi realizado um concurso entre 12 e 16 de março de 1957. Foram apresentados 26 projetos e o júri escolheu a planta cujo formato parecia o de um avião, do urbanista e arquiteto Lucio Costa.

Os operários, a maioria formada por nordestinos, acabaram se fixando na cidade. Eles trabalharam dia e noite para erguer, no nada, a capital futurista num prazo recorde de 43 meses. Não se sabe exatamente quanto foi gasto na construção de Brasília. O governo não fez uma estimativa oficial e os custos não foram contabilizados em registros bancários ou comprovantes fiscais. Estima-se, em valores atualizados, que o orçamento seria de US$ 83 bilhões. Para captar recursos, o governo emitiu mais dinheiro e foram feitos empréstimos no exterior. Isso deixou uma conta salgada para o país, na forma de inflação alta e dívida externa.

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