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População cobra assistência social às pessoas em situação de rua no município de Ananindeua

Grande parte dessas pessoas não têm onde morar e acabam utilizando a rua como espaço de moradia e sustento, por caráter temporário ou de forma permanente

Diego Monteiro / Especial para o Ananindeua em Revista

A quantidade de pessoas em situação de rua chama a atenção de quem precisa passar pela praça Tancredo Neves, localizada na Cidade Nova 4, em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém. São homens e mulheres que usam o espaço para dormir, preparar alimentos e até fazer as necessidades fisiológicas.

Maria do Socorro, de 62 anos, é moradora da região. Ela utiliza a praça para praticar exercícios físicos e afirma que, com o passar do tempo, o número dessa população vulnerável tem crescido no local. 

“Eu uso a praça pelo menos umas duas vezes por semana e percebo que, a cada dia que passa, novas pessoas estão por aqui”, afirmou dona Maria. “Eles são tranquilos, mas percebo que muitas das vezes eles não têm assistência necessária”, completou a idosa.

Ao lado da barraca construída para servir de abrigo, há uma cozinha ao ar livre e um fogão improvisado onde se prepara o almoço. Em outros pontos do local é possível encontrar carrinhos usados para carregar entulhos e roupas estendidas nos bancos da praça.

Há relatos ainda de que, próximo dali, nas proximidades da Paróquia de Nossa Senhora do Amparo, um casal e mais duas crianças, uma entre 4 a 5 anos e outra entre um a dois meses, estariam vivendo nas ruas e dependendo de valores dados por moradores.

O motorista Reinaldo Santos disse que já ajudou por diversas vezes a família. “Quando eu tenho, eu ajudo. Pelo menos umas vez na semana eles estão por aqui, pedindo, e como eles sempre estão com essas crianças, acabamos ajudando todos”, contou.

A família já foi vista na rua da Providência, no bairro do Coqueiro. “Eles ficam sentados na calçada. As pessoas levam comida e dinheiro e isso se repete quase todos os dias. O mais preocupante são as crianças que são pequenas”, explicou a comerciante, Íris Ferreira.

No início desta semana, moradores acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) para prestar atendimento a um homem, identificado como “Jaime”, na esquina da WE 47, ainda na Cidade Nova 4. “O mesmo apresentava um ferimento grave no braço e gemia de dores”, afirma uma moradora da área que não quis se identificar.

A equipe da redação do Ananindeua em Revista ouviu diversos moradores. Uma das principais perguntas de quem convive com essa realidade todos os dias é: quem dá assistência necessária para estas pessoas?

O que diz a Prefeitura

Segundo a Secretária de Cidadania, Assistência Social e Trabalho (Semcat), o município conta com o Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro POP), o qual desenvolve ações voltadas para a população em situação de rua, com atendimento especializado, individual ou coletivo, oficinas de atividades de convívio e socialização, buscando ressocializar essas pessoas na  sociedade e resgatar vínculos familiares.

O Centro POP também realiza ações de promoção de acesso aos serviços de saúde e atendimento médico, garantia aos documentos civis e programas sociais, recolocação e inserção no mercado de trabalho, por meio de cursos profissionalizantes, e o enfrentamento ao preconceito e prevenção à violência. Além dos usuários terem um local para guardar seus pertences e receberem kit de higiene pessoal e alimentação. 

Em relação à Praça Tancredo Neves, na Cidade Nova IV (SN 16), a Prefeitura informou que a equipe do Centro POP já realizou várias ações de retirada dessas pessoas em situação de rua do local, encaminhando-as para o centro ou para o posto de saúde mais próximo, quando necessário, porém a retirada das mesmas não pode ser de forma compulsória. 

A Semcat ressalta que de janeiro até setembro já foram atendidas 715 pessoas em situação de rua no Centro POP e foi observado que a maioria delas encontra-se nessas circunstâncias por conta do álcool e drogas. 

O espaço funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na rua Júlia Cordeiro, Bairro Águas Brancas, e o telefone de contato é: 98403-1575.

Pessoas em situação de rua

De acordo com a definição da Secretaria Nacional de Assistência Social (SNAS), a população em situação de rua se caracteriza por ser um grupo populacional heterogêneo, composto por pessoas com diferentes realidades, mas que têm em comum a condição de pobreza absoluta, vínculos interrompidos ou fragilizados.

Segundo a SNAS, a maioria dessas pessoas não têm onde morar, ou seja, acabam utilizando a rua como espaço de moradia e sustento, por caráter temporário ou de forma permanente.

Entre os principais fatores que podem levar as pessoas a irem morar nas ruas estão: ausência de vínculos familiares, perda de algum ente querido, desemprego, violência, perda da autoestima, alcoolismo, uso de drogas e doença mental.

"Famílias desestruturadas, sem um aparato financeiro para se sustentar e até mesmo a falta de instrução, acabam tendo que lutar pela própria sobrevivência e elas vão buscar isso na rua. Um dos maiores problemas é que essas pessoas são mais vulneráveis a sofrer violências”, pontuou a psicóloga, Ana Cláudia Machado.

Há um mês, Kleibe Leônidas da Costa Alves, de 31 anos, foi assassinado a facadas em uma passarela localizada na rodovia BR-316, em Ananindeua. Segundo informações da Polícia Militar, a vítima vivia na rua e usava a passarela para dormir.

Até o momento não há informações oficiais sobre o assassino Kleibe Alves. “Na maioria das vezes essas pessoas são invisíveis para a sociedade e para o poder público. Precisamos de ações mais efetivas ao proporcionar segurança e esperança para que essas pessoas consigam se erguer na vida”, concluiu a psicóloga.

Ações sociais de voluntários

Enquanto as esferas de governo tentam ajustar políticas públicas com a intenção de melhorar o atendimento a essas pessoas sem endereço, grupos de voluntários se organizam e mobilizam a sociedade para ajudar e amenizar as dificuldades de quem vive nas ruas.

Um dos grupos que realiza esse tipo de trabalho é o “Geração de Esperança”. Há três anos, cerca de 25 voluntários se revezam nos finais de semana para levar roupas, comida e momentos de orações para quem está nas ruas. A ação acontece tanto em Belém, como em Ananindeua.

Para Adimilson da Mata, fundador e diretor do projeto, a pandemia elevou o número de pessoas nas ruas. “Se compararmos hoje, com o início do projeto, percebemos que nos lugares que visitamos, a quantidade sempre era maior. Creio que as dificuldades financeiras por conta da pandemia levaram mais pessoas às ruas”, declarou.

A afirmação do Adimilson é com base na quantidade de alimentos produzidos, que aumentou. Isso porque não existem estatísticas oficiais atualizadas sobre o número populacional de pessoas em situação de rua, o que escancara ainda mais as os problemas crônicos para estes grupos.

Os trabalhos do grupo acontecem todos os finais de semana. Aos interessados em participar e ajudar o projeto “Geração de Esperança”, podem obter informações detalhadas pelo telefone (91) 98105-9471 ou 98841-2217.

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