MENU

BUSCA

Dia do professor: docente luta para garantir formação humanista

Em Ananindeua, são 614 professores na Educação Infantil, 2.954 no Ensino Fundamental e 1.323 no Ensino Médio

Luiz Cláudio Fernandes

Nesta sexta-feira comemora-se o Dia do Professor. Segundo o Censo Escolar 2020, em Ananindeua eles são 614 na Educação Infantil, 2.954 no Ensino Fundamental e 1.323 no Ensino Médio. Eles desbravam todos os dias as salas de aula e enfrentam diariamente muitos desafios. Só na rede municipal de ensino de Ananindeua, são 86 escolas e 17 anexos, que atendem 38 mil alunos na Educação Infantil (creche e pré-escola), no ensino Fundamental (1º ao 9º ano) e na Educação de Jovens, Adultos e Idosos (EJA), segundo informações da Secretaria Municipal de Educação (Semed). 

O professor Hélder Bentes é um desses docentes. Ele atuou durante sete anos em Ananindeua e avalia que o Dia dos Professores deve ser comemorado todos os dias, porque todo dia é dia de ensinar e de aprender, e os professores são os mediadores desse processo de ensino/aprendizagem. “Não gosto de pensar uma data específica para isso. Sabemos que isso é para o comércio, não pra gente. É uma estratégia para tirar proveito comercial do reconhecimento que conquistamos de nossos alunos no cotidiano da sala de aula”, avalia.

“Gosto das homenagens, dos presentes e das manifestações de gratidão dos estudantes, mas o que realmente agrada um professor é um presente a longo prazo: ver nosso aluno livre, sendo útil à sociedade, talento descoberto em plena execução, profissional formado, trabalhando, ganhando seu próprio dinheiro”, diz o professor. 

Exemplo de dedicação ao ensino 

Ele é um exemplo de docente que sabe vislumbrar em seus alunos potenciais que podem - e devem - ser lapidados. Ele observou esse potencial em Juliana Fonteles, quando ela foi sua aluna no Ensino Médio e em seguida no cursinho pré-vestibular. Ela se formou, e hoje é sua amiga e advogada, e preside a Comissão de Direitos Humanos da OAB-PA, onde ele participa como colaborador. 

Advogada há 18 anos, Juliana diz que teve o professor Helder como uma referência. “Ele foi uma referência na minha formação. Foi meu professor de Literatura e Língua Portuguesa. Nós sempre comungamos de valores hoje tão escassos no Brasil, lutamos para para a defesa da democracia e dos mais vulneráveis”, diz. 

Hélder conta que os anos se passaram e eles perderam o contato, mas a militância proporcionou o reencontro. “Nos reencontramos anos depois, quando o irmão dela, o vereador Paulinho Fonteles, que também foi meu aluno, faleceu. Aquele momento de luto nos aproximou. Juliana já era presidente da Comissão de Direitos Humanos, convidou-me a integrar a comissão como colaborador voluntário, participou comigo de eventos de incentivo à leitura e de educação para os direitos humanos na escola”, conta o professor.

Formação humanista é escassa

“Eu admiro muito o professor Hélder, vejo que ele é um modelo de docente. Ele desenvolveu um projeto lindo em 2019 de cidadania e educação para direitos humanos que culminou com um circuito de palestras Nós estamos sempre próximos, ele é muito meu amigo”, conta Juliana.  

A advogada sente a necessidade de leis que instituam a obrigatoriedade do ensino de direitos humanos no Ensino Médio e diz que o modelo educacional é carente de formação humanista. “Até eu, que me formei em Direito, nem na faculdade eu vi essa matéria. A formação humanista é muito escassa, embora tão necessária em um momento de crise da democracia, de valores, de propagação da intolerância como este que estamos vivendo. A pauta de direitos humanos é civilizatória, defende a vida, os pobres, os negros, a liberdade religiosa, a igualdade, a justiça social, se posiciona contra o racismo, o feminicidio, a lgbtfobia”, diz. 

Vocação e amor pelo magistério 

Hélder Bentes trabalha na rede estadual de ensino há 13 anos como professor efetivo na educação básica e diz que o cotidiano da vida escolar é fascinante. “É o que nos ensina de fato e atualiza as teorias. Nesses últimos dois anos então, com a pandemia, nós precisamos nos adaptar, reaprender a planejar, executar e avaliar o ensino, porque a educação à distância, que antes era opcional, tornou-se obrigatória por imposição do coronavírus”, destaca.

Ele diz que se incomoda quando pessoas dizem que “professor não trabalha”. “Trabalhamos triplicado nesta pandemia planejando e executando aulas on-line, renovando instrumentos de avaliação, elaborando material didático para ensino remoto, atendendo ao público que tinha tecnologia de informática, elaborando sequências didáticas impressas para quem não tinha TI, aprendendo a manusear app e recursos para EAD. Isso tudo sofrendo as atrocidades da pandemia, doença, morte de parentes e amigos, confinamento”, conta.

Ele explica ainda que os professores vivem um problema histórico. “Os efeitos do exercício da profissão não interessam ao contexto da disputa pelo poder na democracia como não interessavam na ditadura. Só que naquele contexto a repressão era muito mais ostensiva. Nos governos democráticos neoliberais os projetos educacionais são voltados para a formação de proletários e somente nos governos populares é que se pensa a educação como ela de fato deve ser: crítica, libertadora, igualando oportunidades. Então o problema é estrutural. Tem a ver com o sistema econômico, com a política”, diz. 

Helder lembra ainda que ser professor “é um sacerdócio quase voluntário”, afirma. “Quem escolhe a licenciatura precisa realmente ter vocação e amor pelo magistério, senão não sobrevive ao sistema. Todo professor tem que ser antissistêmico, resistente, resiliente, perseverante, estudioso, crítico, consciente e, sobretudo, tem que cuidar de sua formação moral, espiritual e psicológica. Lidamos com um público heterogêneo e humano, diverso, com histórias de vida cheias de conflitos, não podemos ser preconceituosos, egocêntricos, cheios de opinião. Em suma, não somos mais importantes que aquilo que precisamos ensinar para a vida e a cidadania”, finaliza.

Valorização da carreira

Os deputados da Assembleia Legislativa do Pará (Alepa) aprovaram, no último dia 5, o Projeto de Lei nº 346/2021, que determina o ajuste médio de 24% da remuneração para professores da rede estadual de ensino, mas desvincula as correções do piso salarial nacional das gratificações por titularidade.

Por meio do Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará (Sintepp), a categoria diz que há ganho por um lado, mas perdas por outro. O coordenador-geral do Sintepp, Beto Andrade, reforça que o ganho da categoria, em relação ao ajuste do vencimento base, é referente ao excesso de arrecadação do governo do Estado, devido às altas nas tarifas de energia elétrica e combustível, mas retira direitos conquistados historicamente pela categoria e vai prejudicar e muito a classe. “Esse aumento, de R$ 700 para R$ 850 milhões, ainda nem corresponde ao pagamento atrasado do piso nacional. O cálculo que fizeram chegava a 1,4 bilhões de reais. E ainda vai congelar as nossas gratificações de titularidade, por exemplo. É um efeito cascata que vamos perdendo direitos já conquistados. Tudo feito às pressas. Gostaríamos de ter tempo para debater e pensar nas possibilidades”, destacou.

A deputada Marinor Brito protocolou duas emendas pra amenizar as perdas, mas os dois dispositivos foram rejeitados. 

Ananindeua