Parque do Utinga se torna recanto de espécies raras da Amazônia
Unidade de conservação é habitat para exemplares de Ruizterania belemnensis, que não eram encontrados há mais de 100 anos devido ao impacto da urbanização na floresta nativa
Ponto turístico e de lazer para milhares de visitantes que gostam de atividades esportivas e de contato com a natureza, o Parque Estadual do Utinga, em Belém, é também um espaço de referência para a ciência e a conservação da biodiversidade amazônica. Na área de aproximadamente 1,4 milhão de hectares da unidade de conservação, o encanto da floresta nativa está ao alcance do público, mas é mata adentro que se pode encontrar alguns tesouros pouco conhecidos.
No interior do parque, há formações de campinarana, que são áreas florestais semelhantes às savanas, onde há pouca densidade de árvores. Foi em uma região como essa que pesquisadores encontraram a Ruizterania belemnensis, uma flor nativa da Amazônia avistada pela última vez há mais de 100 anos.
O registro ocorreu durante as atividades do projeto “Flora do Utinga”, iniciativa do Museu Paraense Emílio Goeldi em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Pará (Ideflor-Bio), que realiza o levantamento das espécies de plantas e fungos encontrados no Parque do Utinga e na Área de Proteção Ambiental de Belém.
“O primeiro registro dessa espécie foi em 1908, nas vegetações onde hoje existe a cidade de Santa Bárbara. Ela ainda não tinha sido descrita para a ciência. Infelizmente, a vegetação onde a mesma foi encontrada não existe mais. Foi com muita satisfação que encontramos um exemplar no Parque do Utinga, sendo esse o segundo registro dessa espécie para a ciência”, relata Leandro Valle Ferreira, pesquisador do Museu Goeldi e coordenador do projeto.
O achado é um marco, já que ainda há muitas lacunas para o conhecimento da maior floresta tropical do mundo, além de que chama atenção para como o avanço da urbanização compromete o desenvolvimento de iniciativas de preservação e de pesquisa nas florestas remanescentes da região metropolitana de Belém. “A descoberta reforça a importância dos fragmentos de vegetação urbanos para a preservação da biota. Em alguns podemos ainda encontrar novas espécies para a ciência”, ressalta.
Outras descobertas
É do fruto da Vanilla pompona que se extrai o aromatizante de baunilha (Divulgação)
Mas a Ruizterania belemnensis não é a única espécie rara encontrada no Parque do Utinga; Nos últimos anos, a realização de estudos permanentes no espaço têm revelado outras joias da biodiversidade amazônica. Leandro Ferreira lembra que o local também abriga o primeiro exemplar paraense de Vanilla pompona, espécie da família das orquídeas até então não encontrada no estado.
Outro resultado do trabalho foi a descoberta da orquídea Vanilla labelopapillata, descrita para a ciência em 2015. Esse exemplar chama atenção já que trata-se apenas do segundo espécime conhecido da flor registrada há 10 anos na Floresta Nacional de Caxiaunã, no Marajó, a cerca de 400 km de Belém.
“O grande desafio não é conservar somente as espécies raras, mas toda a biota que vive nas vegetações do Parque do Utinga, outras unidades de conservação e fragmentos de vegetação urbanos da região metropolitana de Belém, pois somente assim iremos garantir a sobrevivência em longo prazo do que restou da rica biota dessa região”, frisa o pesquisador.
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