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Rosto paraense reflete diversidade cultural e ancestralidade amazônica

Traços físicos e identidade do povo do Pará revelam heranças indígenas, afrodescendentes e ribeirinhas, marcando presença na história, na cultura e nas novas narrativas da região

Matheus Viggo

O rosto do paraense é múltiplo, profundo e carregado de memória. Muito além da aparência, essa beleza única expressa uma história marcada pela confluência de povos, culturas e resistências. Com traços afroindígenas, pele mestiça, estatura média e olhar firme, o corpo amazônico fala, e carrega consigo a força das origens. Três vozes que vivenciam e refletem sobre essa identidade ajudam a compreender o significado dos traços físicos paraenses: a influenciadora Izabela Nascimento, o criador de conteúdo Patrick Peixoto e o historiador e antropólogo Agenor Sarraf.

Izabela Nascimento cresceu em Marituba, na Região Metropolitana de Belém, e só na universidade começou a ressignificar a própria estética. “Infelizmente, fomos educados a nos enxergar distantes de muitos processos. Os próprios livros didáticos nos colocavam nesse lugar, seja pela cor, seja por sermos da região Norte do país”, relembra. Foi no curso de História da UFPA, especialmente nas disciplinas de História da Amazônia, que Izabela encontrou as bases para transformar a percepção que tinha de si mesma. “Hoje, consigo olhar para a própria ancestralidade amazônica com muito orgulho de onde vim. Nossa herança amazônica é viva, pulsa na música, na fala, no jeito de caminhar, de sonhar, de resistir”, afirma.

Patrick Peixoto compartilha visão semelhante. Criador de conteúdo nas redes sociais, ele destaca que sempre percebeu a estética amazônica como motivo de orgulho. “Sempre a gente é bombardeado por aquele padrão de fora, o tempo todo. Mas eu comecei a entender que nossa aparência conta uma história, nossa origem. Não é só estética: é resistência, é pertencimento”, explica. Para ele, os traços ligados à ancestralidade indígena e ribeirinha ainda sofrem preconceito, mas isso está mudando. “A valorização está crescendo. Eu vejo mais jovens falando disso com orgulho. Era algo que antes muitos escondiam, mas hoje se transformou em força”, completa.

Essa transformação é parte de um processo coletivo de reconstrução de identidade, como aponta o historiador Agenor Sarraf. Para ele, o rosto do paraense não pode ser definido de forma rígida, mas deve ser compreendido como um símbolo das complexas trocas culturais que moldaram o estado. “O paraense agrega, a um só tempo, uma polifonia de etnicidades de grupos nativos, colonizadores, diaspóricos, imigrantes e migrantes. O físico, a fala, a ginga, o conteúdo, a expansividade no processo de comunicação conformam um jeito específico de ser paraense no Brasil”, reflete.

Agenor destaca que indígenas, quilombolas e ribeirinhos não estão apenas nas margens do discurso, mas são o centro da paisagem humana e simbólica do Pará. “Você pode olhar para uma cidade aparentemente cosmopolita como Belém, e encontrará os traços desse rosto indígena, quilombola e ribeirinho. Se não vê no rosto, você vê na performance”, afirma.

O corpo amazônico é reflexo da diversidade histórica e cultural da região. Marcado por memórias ancestrais e heranças de populações tradicionais, ele também representa resistência e pertencimento. “Nossa herança é cabana”, resume Izabela Nascimento, ao destacar a importância de reconhecer essa identidade como parte fundamental do que é ser paraense.

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