Porque o Governo está preocupado com o encontro no Vaticano em pleno mês do Círio
Reunião de bispos da Amazônia com o Papa Francisco estava marcada há dois anos, mas passou a receber atenção especial após a crise internacional das queimadas. Entre os dias 6 e 27 de outubro, os olhos, corações e mentes dos católicos paraenses estarão voltados para a maior festa religiosa do Pará, uma das maiores do mundo.
Enquanto, em Belém, o clima será de Círio, a cúpula da igreja na Amazônia estará reunida no Vaticano com o Papa Francisco sob atenção nervosa do governo brasileiro que teme uma nova enxurrada de críticas internacionais à política antiambientalista.
O encontro é chamado oficialmente de Sínodo para Amazônia e deve reunir cerca de 250 religiosos de todos os países Amazônicos. O Brasil, lógico, será protagonista, principalmente após a crise recente com aumento do desmatamento e queimadas.
Ao pé da letra, Sínodo significa a junção dos termos syn (juntos) e hodos (caminho), ou seja, é um encontro para buscar caminhos. Pode ser convocado para tratar de questões diversas. O Sínodo de outubro já tinha como tema a Amazônia e é importante ressaltar que a convocação foi feita, pelo Papa Francisco, há quase dois anos.
O problema das queimadas, a política ambiental do atual governo e o discurso do presidente Jair Bolsonaro contra a demarcação de terras indígenas deram, porém, à reunião um tom muito mais solene e político. No site, dedicado à pauta e aos documentos preparatórios para o evento, a questão ambiental é apresentada como uma das maiores preocupações do atual Papa. “Desde sua eleição, em 13 de março de 2013, o Santo Padre Francisco sempre demonstrou preocupação pela Amazônia e seus povos. Já em julho daquele mesmo ano, em sua primeira viagem internacional, pisando o solo brasileiro, o Papa quis expressar seu afeto a esta região. Recentemente, em Roma, frisou como prioridades a importância do compromisso a favor da nossa Casa Comum e a atenção os povos indígenas”.
No mesmo site, há uma lista de pessoas apresentadas como “aquelas que deram a vida pela Amazônia”. Dois brasileiros se destacam: o líder seringueiro Chico Mendes e a missionária Dorothy Stang assassinada em Anapú no Pará.
Confira no link os documentos preparatórios
O Papa Francisco e a Amazônia
O momento de total polarização da sociedade brasileira não deixou a Igreja Católica imune e as divergências dentro da instituição também são marcantes. Alas mais conservadoras criticam as pautas do Sínodo, enquanto os mais progressistas vibram com as palavras de Francisco. O clima é tão tenso que, internamente há até campanha velada contra o Sínodo, o que obrigou a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CBB) a criar uma campanha em defesa do encontro.
O presidente da CNBB, Dom Ricardo Hoepers, bispo do Rio Grande do Sul, afirma que “pensar a Amazônia é pensar no homem de maneira integral. É pensar o dom que Deus nos deu. É pensar no quanto somos gratos por este dom que recebemos que é a Amazônia”.
Veja aqui a Campanha da CBB
CNBB lança campanha de sensibilização e informação sobre o Sínodo para a Amazônia
Historicamente ligado à ala mais conservadora da Igreja, o Arcebispo Metropolitano de Belém, Dom Alberto Taveira ainda não se manifestou publicamente sobre a pauta do Sínodo, mas tem falado com entusiasmo do encontro nas missas e artigos que assina na imprensa local.
E o Círio?
Para quem acompanha o Círio todos os anos, a ausência mais sentida será justamente do Arcebispo Metropolitano de Belém e seus auxiliares que estarão, todos, entre os participantes do Sínodo e por isso não poderá comandar os festejos da padroeira dos paraenses. A Arquidiocese de Belém anunciou que os comandos das principais celebrações ficarão por conta do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giovanni d'Aniello.