O Pará e os números da discórdia
Os últimos levantamentos do Imazon e do Instituto de Pesquisas Espaciais colocam o Pará entre os campeões de desmatamento. Os dados estão no centro de mais uma polêmica entre pesquisadores, ambientalistas e o presidente Jair Bolsonaro.
Com metodologias e base de dados distintas, o Instituto do Homem e do Meio Ambiente na Amazônia (Imazon) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) chegam às mesmas conclusões quando analisam imagens de satélite da maior floresta tropical do planeta: o desmatamento segue avançando a passos cada vez mais largos na Amazônia.
Outro ponto de consenso entre os dois institutos é que, entre os Estados da região, o Pará é o que tem perdido a maior parte da cobertura nativa.
Os números que levaram o presidente Jair Bolsonaro a chiar contra o Inpe são referentes a junho deste ano. Eles revelaram que, em apenas um mês, o desmatamento na Amazônia Legal atingiu 920,21 quilômetros quadrados, um aumento de 88% em comparação com o mesmo mês no ano passado. Ainda segundo o Inpe, em junho de 2019 foram registrados 2.903 alertas de desmatamento no sistema Terra Brasilis, e 97% do desmatamento foi registrado em quatro estados: Pará, Amazonas, Mato Grosso e Rondônia. Sozinho, o Pará respondeu por 48,54% dos registros.
Desmatamento na Amazônia em junho é 88% maior do que no mesmo período de 2018
Também em junho, mas com outra metodologia (leia nota explicativa abaixo), o Imazon detectou 801 quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal. Segfundo o Imazom, em junho de 2019, o desmatamento ocorreu no Amazonas (30%), Pará (26%), Rondônia (19%), Mato Grosso (17%), Acre (5%), Roraima (1%), Tocantins (1%) e Amapá (1%). As florestas degradadas na Amazônia Legal somaram 49 quilômetros quadrados em junho de 2019, enquanto que em junho de 2018 a degradação florestal detectada totalizou 40 quilômetros quadrados. Ou seja, houve um aumento de 23% no avanço sobre a floresta.
Boletim do Desmatamento da Amazônia Legal (Junho 2019) SAD
O pesquisador do Imazon, Paulo Amaral explica que alguns fatores têm sido recorrentes para esses resultados.
“Os principais vetores (do desmatamento) continuam sendo a
pecuária extensiva, a expectativa de ocupação e lucro em áreas não destinadas no estado, grilagem de terra, o afrouxamento nas fiscalizações, a sinalização na redução de áreas protegidas por parte do governo federal e, finalmente, a sinalização de
retrocessos no código florestal por parte do governo federal”, afirma.
Confira a entrevista completa com Paulo Amaral
#para entender melhor
Por que o Inpe e o Imazon chegam a dados diferentes?
Os dados do Inpe são baseados no Prodes e os do Imazon, no SAD . O Prodes mede a taxa anual de desmatamento utilizando imagens de satélite do sensor Landsat e CBERS-2/2B.
Oo SAD gera informações de perda de floresta mensal com o objetivo de subsidiar os órgãos de fiscalização nas operações de identificação e punição dos infratores.
Para a estimativa da taxa de desmatamento do Prodes são levados em consideração não somente o aumento da supressão florestal, mas, também, por exemplo, as áreas desmatadas que estavam sob nuvem em anos anteriores.
Por serem sistemas diferentes não é recomendável fazer comparação das medições entre Prodes e sistemas de alertas mensais, tanto metodologicamente quanto do propósito de cada um deles. De qualquer forma, embora ressaltando as diferenças, os pesquisadores explicam que os dois sistemas têm demonstrado reiterados avanços do desmatamento e necessidade de medidas para frear o avanço sobre a floresta.
Com reportagem de Josie Soeiro.