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Aurá: uma bomba relógio

Uma mistura tóxica de lixo está quase enterrada na memória dos paraenses. Mas ainda é um risco vivo e ativo para o meio ambiente e para as pessoas. Um bomba relógio que precisa ser desativada.

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Se nada for feito, a bomba relógio seguirá ativada por pelo menos mais 20 anos


Uma mistura tóxica de lixo, orgânico e não orgânico, está quase enterrada na memória dos paraenses, mas ainda é um risco vivo e ativo para o meio ambiente e para as pessoas. “O lixão do Aurá é uma bomba relógio”, sentencia o pesquisador em saúde pública, Marcelo Lima, do Instituto Evandro Chagas. Ele lidera o projeto do IEC que estuda os impactos ambientais provocados pelo lixão no meio físico, nas águas, sedimentos e, ainda, os efeitos disso para fauna e flora aquática da região.


O lixão funcionou durante 25 anos recebendo o lixo da região metropolitana. Em 2015, teria sido desativado, segundo a prefeitura de Belém. Ocorre que não houve impermeabilização do solo e o chorume que sempre saiu da montanha de lixo, que também nunca recebeu tratamento, continua escoando.


Na produção dessa reportagem, entramos pelo portão da frente do lixão, sem sermos parados pela segurança. Na saída, também não fomos parados ou questionados. A falta de controle de acesso é um retrato do que encontramos lá dentro: um cenário que remete ao abandono, problemas históricos não resolvidos de forma definitiva e empurrados para o futuro.  Encontramos, também, catadores de lixo que fugiram da câmera e da reportagem, atestando a irregularidade do que fazem ali.


Nos vídeos dessa reportagem, além da entrevista com o pesquisador, você pode visualizar o escoamento do chorume não tratado em uma área perigosamente próxima a um dos igarapés da bacia hidrográfica do Aurá. Sabe-se que pelo menos 200 famílias ribeirinhas vivem ao longo do rio Aurá - incluindo a comunidade quilombola do Abacatal -  e que parte dos moradores usam ativamente matapi para capturar camarões que proliferam em abundâncias nas águas.


O impacto do chorume na fauna e na cadeia alimentar está sendo analisado pelo Evandro Chagas. De acordo com o pesquisador Marcelo Lima, além do risco para a cadeia da economia em torno do camarão, depois vendido pelos ribeirinhos, ainda há o problema dos rios e igarapés serem usados pelos ribeirinhos para banho e recreação.








 

 Gases tóxicos no Aurá


Em outro vídeo desta reportagem, o pesquisador fala sobre a combustão espontânea de gás metano que ocorre no Aurá, decorrente da decomposição da matéria orgânica. Não é raro a gente perceber a fumaça naquela região, resultante da combustão.


Na entrevista em vídeo, o pesquisador alerta sobre o risco  cancerígeno dessas combustões. Se nada for feito -  estamos falando de soluções como tratamento de chorume e impermeabilização do solo - a bomba relógio chamada Aurá seguirá ativada por pelo menos mais 20 anos.


Os estudos do IEC, que foram encomendados pelo Ministério Público do Estado, devem ser concluídos este semestre.




 

 O chorume da Guamá


Ainda sobre lixo, o  Instituto Evandro Chagas foi contratado pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado, através da FADESP, para pesquisa de avaliação de risco de exposição humana a contaminantes atmosféricos decorrentes do aterro sanitário da Guamá, em Marituba. Os pesquisadores estão estudando as comunidades que vivem perto do aterro e analisando a exposição delas aos contaminantes.


 



 

Polêmica e Denuncia


Alvo de polêmica no final do ano passado, os dirigentes da Guamá chegaram a ser presos após denúncia do Ministério Público que acusava várias irregularidades no empreendimento. Depois de soltos os dirigentes, o empreendimento seguiu operando normalmente a despeito de todas as irregularidades apontadas.


Questionado sobre qual havia sido o desfecho das denúncias feitas contra a Guamá e quais delas foram corrigidas, o Ministério Público do Estado do Pará preferiu não se manifestar. 


Em nota, a assessoria de imprensa da  Guamá informou que, “além de tratar externamente, a Unidade de Valorização Sustentável (UVS) Guamá – administradora do aterro sanitário de Marituba -  vem aumentando a capacidade interna do seu tratamento com a instalação de novos módulos de osmose reversa, tecnologia de ponta capaz de tratar os efluentes do aterro e, gradativamente, reduzir o chorume estocado nas lagoas do empreendimento. Hoje, a UVS Guamá conta com três plantas de Osmose Reversa para o tratamento de chorume em operação e incluirá mais quatro, totalizando sete máquinas de osmose. Paralelamente, a equipe de especialistas e técnicos da UVS Guamá está fazendo testes de calibração numa planta piloto de MBR, sistema físico-químico biológico que deve aumentar  a capacidade de tratamento de chorume”.


Questionados sobre quantos e quais dos pontos  denunciados pelo Ministério Público foram corrigidos, a  assessoria não quis se pronunciar


Sobre o Lixão do Aurá, a Secretaria Municipal de Saneamento, mandou nota informando que “em junho de 2015, o lixão do Aurá, que já funcionava como aterro controlado, encerrou suas atividades para a deposição de resíduos sólidos domiciliares, passando todo o resíduo gerado no município de Belém para o aterro sanitário da empresa Guamá Tratamento de Resíduos, ficando o Núcleo de Destinação Final do Aurá recebendo apenas resíduos inertes. Atualmente, os resíduos da construção civil, escavações provenientes de obras realizadas pela Prefeitura, bem como os entulhos inertes da limpeza urbana são depositados no Aurá e servem como cobertura para o material anteriormente depositado no lixão. Sobre os catadores que atuavam no local antes do encerramento de descarte de lixo domiciliar, a Prefeitura esclarece que os mesmos tiveram a opção de integrar uma cooperativa que atua na coleta seletiva em Belém. Além disse, muitos receberam qualificação para mudar de atividade.”


Crédito da foto: Danielle Bastos

 

Especial AMZ