Serra Pelada é bomba relógio no coração do Pará
Fechada há quase 30 anos, a principal cava do garimpo de Serra Pelada, na região sudeste do Pará, ainda representa risco para a população local.
A Conexão AMZ conversou com o promotor de Justiça Hélio Rubens Pereira, ex-promotor de Justiça de Curionópolis, município onde está situada a mina, e responsável pelo pedido de intervenção da Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp).
Entre 2012 e 2013, diante da expectativa pela retomada da exploração de ouro em Serra Pelada, o controle da Coomigasp foi alvo de uma disputa violenta entre garimpeiros. “Essa história tem infinitas nuances e envolve vários crimes”, diz Pereira.
Para as populações do entorno, o principal risco seria a contaminação pelo mercúrio presente na água que se acumulou na antiga cava. “É como uma pirâmide de cabeça para baixo. O buraco escavado para retirada do ouro virou um lago com vários tipos de resíduos. A água é toda contaminada com mercúrio”, comenta. Segundo o promotor, durante todo o tempo em que esteve à frente do MP, em Curionópolis, ele não tomou conhecimento de nenhum estudo sobre as condições da água ou os riscos da forma como ela está armazenada. “Desconheço a existência de qualquer estudo sobre o tamanho dos riscos, mas credito que o principal seja de infiltração ou vazamentos, contaminando os mananciais”, explica.
O mercúrio é um metal liquido muito utilizado em garimpos e antigas fábricas de cloro e soda. Nos garimpos, ele é usado para dissolver partículas de ouro que se encontram junto a pedras e areia. Quando absorvido frequentemente, em pequenas quantidades, causa envenenamento crônico, provocando tremores musculares, coceira persistente, sensação de queimação na pele e até mudanças de personalidade.
A classificação da cava de garimpo em Serra Pelada é da Agência Nacional de Mineração (ANM), órgão responsável pela fiscalização de barragens de mineração em todo o Brasil, e consta em um relatório de abril de 2014, mas que só ganhou repercussão após a tragédia de Mariana (MG), em 2015, quando, assim como aconteceu em Brumadinho, também em Minas, uma barragem de rejeitos da Vale se rompeu. A Conexão AMZ procurou a gerencia regional da ANM, em Belém, mas ainda não obteve resposta. A Secretaria de Meio Ambiente do governo do estado também foi procurada para informar a existência de laudos sobre a água retida na cava, mas não havia respondido até a publicação da reportagem.
Desde as primeiras notícias sobre a descoberta do mineral, em março de 1980, Serra Pelada chegou a reunir mais de 80 mil pessoas.