Quem passa em frente ao belo prédio de fachada em tijolinho vermelho aparente, projetado pela equipe do renomado arquiteto Francisco Ramos de Azevedo (1851 - 1928) - responsável, por décadas, por praticamente todos os projetos residenciais da elite paulista e os principais projetos públicos da cidade - não faz ideia das inúmeras histórias de horror vivenciadas naquele lugar...
Ao lado das célebres Sala São Paulo - uma das melhores salas de concerto do mundo - e da Estação Júlio Prestes - antiga estação ferroviária da Estrada de Ferro Sorocabana -, a construção em estilo eclético foi inaugurada em 1914. Ramos de Azevedo, um progressista confesso, mal poderia imaginar que o prédio por ele originalmente concebido para abrigar a administração da então Associação Central teria um função nada nobre. Em 1940, transformou-se na sede do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (Deops/SP), um dos mais relevantes órgãos de controle social e repressão institucionalizada em períodos ditatoriais, como o Estado Novo (1937 a 1946) e o Regime Militar (1964 a 1985), e palco de manifestações de resistência política da sociedade.
História passada a limpo
Em 2009, o passado sombrio, violento e de arbitrariedades deu lugar ao Memorial da Resistência de São Paulo (
memorial da resistência). Criado pelo governo paulista, por meio da Secretaria da Cultura, é um espaço para exposições e ações educativas com a missão de
promover a reflexão sobre Cidadania, Democracia e Direitos Humanos. Com um rico acervo que contém centenas de imagens, vídeos, áudios, arquivos e depoimentos de presos-políticos e documentos mantidos sob sigilo até 1994 (quando foram abertos à consulta pública), o museu relata, em detalhes, os inúmeros, melancólicos e condenáveis episódios reais que ocorreram no interior do Deops/SP.
Na última quarta-feira (27), o Conexão AMZ esteve no Memorial da Resistência de São para revelar um pouco do que o visitante vai encontrar por lá. Entre os registros históricos, as celas onde diversos presos-políticos grafaram, nas paredes, seus nomes, seus dramas e a sua esperança de poder pensar diferente e viver em uma Democracia. Confira na videorreportagem de Rodrigo Vieira.
Serviço
A visita ao Memorial da Resistência de São Paulo é gratuita. Pode ser feita diariamente, das 10h às 17h30, exceto às terças, quando o museu é fechado.