Reciclagem: moradores do Curió-Utinga, em Belém, transformam garrafa PET em vassoura e pneu em arte

Além de fonte de renda, esse trabalho também ajuda a preservar o meio ambiente

Dilson Pimentel

O lixo que vira luxo. É assim que dona Luzia Martins de Jesus, de 59 anos, define o seu trabalho de reciclagem. Morando no Curió-Utinga, em Belém, ela transforma garrafas pet em vassouras ecológicas. Além de gerar renda, esse trabalho também contribui para melhorar o meio ambiente, já que, muitas vezes, esse tipo de material é descartado nas ruas e nos canais em Belém.

Nesta sexta-feira, 17 de maio, no  Dia Mundial da Reciclagem, ela e outros praticantes dessa transformação de materiais têm muitos motivos para reconhecimento. Há 11 anos dona Luzia recolhe o material nas ruas. Algumas pessoas também vão deixar as garrafas pet em sua casa. Ou, então, ela compra esses produtos. Uma garrafa pet de dois litros custa 15 centavos. A maior parte do trabalho é feita manualmente e requer muita atenção e habilidade.

image Dona Luzia Martins de Jesus diz que transforma lixo em luxo, ao fazer vassouras a partir de garrafas pet (Foto: Ivan Duarte/O Liberal)

Ela precisa de 12 garrafas pet para fazer uma vassoura, cuja unidade é vendida a R$ 18, um preço mais em conta do que aquele comercializado nos estabelecimentos comerciais. Dona Luzia vende sua produção no bairro mesmo.

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Primeiro, e usando uma máquina, ela corta o fundo da garrafa pet. Depois lava para tirar o açúcar que fica no recipiente. Depois, também usando uma máquina, ela faz o que chama de "filetar" a garrafa. Em seguida, esse material filetado (desfiado) vai ao forno, para que o nylon fique bem duro. Esse nylon é que vai virar a vassoura (a parte usada para varrer). Esse processo no forno dura 45 minutos.

Dona Luzia disse que compra o cabo da vassoura. O pacote com quatro dúzias de cabo custa R$ 67. Na produção da vassoura ela também usa pregos. Dona Luzia contou que, inclusive, está precisando de um forno novo, pois o seu está muito desgastado. Como não tem onde guardar esse material, os produtos ficam na esquina de sua casa e, por isso, alguns moradores reclamam. Mas dona Luzia disse que, na verdade, está cuidando do meio ambiente. E pede às pessoas que respeitem e valorizem o se trabalho.

image Orlando Serra transforma pneus em peças de arte (Foto: Ivan Duarte/O Liberal)

Orlando transforma pneus em peças de arte

Já o artesão Orlando Serra, 61 anos, faz a reciclagem de pneus, transformando-os no que considera obras de arte. Ele realiza esse trabalho há 11 anos. "Eu transformo os pneus em espécies da nossa fauna e flora amazônica", disse. Ele produz tucanos, araras e papagaios. Mas também faz poltronas, bolsas e cadeiras. "Não uso maquita para não poluir o meio ambiente. Uso faca", contou.

Ele começou a trabalhar com pneu para ajudar a melhorar a renda familiar. Orlando afirmou que recolhe os pneus no meio ambiente. Geralmente os pneus estão cheios de água e, depois, ele os higieniza. “Belém é a nossa casa comunitária e precisa de higiene e de saúde. E, com saúde, nós temos qualidade de vida”, contou. Como já conhecem seu trabalho, muitas pessoas vão até sua casa entregar a ele os pneus. 

Reciclagem: moradores do Curió-Utinga, em Belém, transformam garrafa PET em vassoura e pneu em arte

Especialista explica o que é reciclagem

engenheira sanitarista Miroslawa Luczynski, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, da Universidade da Amazônia (Unama), explica que o processo de reciclagem consiste na recuperação da parte reutilizável de um resíduo que está apto para ser reaproveitado.

"A reciclagem nada mais é do que um processo de transformação desses resíduos sólidos em novos insumos, produtos, matérias-primas, o qual se possa estar devolvendo para o mercado utilizando e/ou reutilizando”, diz.

“Na maioria das vezes você devolve, através da reciclagem, um novo produto com o material reciclado. Mas, se você vai apenas melhorar aquele produto, o que também pode se fazer através da reciclagem, você vai estar reutilizando”, explica.

Qual o índice de reciclagem no Brasil?

A pesquisadora citou um estudo publicado, em 2022, pela Albrepe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), mostrando que o Brasil tinha um índice somente de 4% de reciclagem. É pouco em termos de Brasil. “Se, em nível de Brasil era só 4%, você imagina então Belém”, pontua.

Ela avalia que, em Belém, o número de cooperativas ainda é insuficiente para coletar e transportar esse material e as cooperativas que existem infelizmente não estão totalmente preparadas para realizar esse trabalho. “Elas também têm as suas dificuldades. Seja o transporte para poder estar coletando e buscando o material ou a questão do galpão, que ainda não conseguiu ser legalizado por conta de uma burocracia ou não tem espaço suficiente", afirmou.

E há, ainda, o próprio fator físico: "muitas vezes você não tem o número suficiente de pessoas para trabalhar com esse material, pois mesmo ele tendo sido separado em casa, nas empresas, não deixa de ser lixo”, afirma.

Importância de políticas públicas

Miroslawa Luczynski citou que são necessárias mais políticas públicas, para haver o investimento nas cooperativas e para que a população possa estar cada vez mais informada, para que essa reciclagem de fato aconteça.

A pesquisadora também falou sobre a importância da reciclagem para o meio ambiente: a redução da geração dos resíduos sólidos: “Isso não é um problema que se resolve de um dia para a noite. Há várias outras coisas: existe o consumo consciente de energia e não desperdiçar água, entre outros. Mas, como a gente está falando de reciclagem, é automaticamente direcionado para resíduos sólidos. Então o principal fator e a principal contribuição é a diminuição na produção desses resíduos gerados que iriam obviamente impactar ainda mais o meio ambiente”, finaliza.

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