Faz mal tomar remédio com café? Especialista explica os riscos à saúde ao consumir a combinação
O cafézinho pode parecer inofensivo, mas é preciso cuidado quando está tomando alguma medicação

O café é uma das bebidas mais consumidas no Brasil.
Ele faz parte do dia a dia de milhares de brasileiros, que consideram que o dia só começa depois da primeira xícara de café. Acontece que é preciso ter cuidado ao consumi-lo enquanto se está tomando alguma medicação.
O alerta vem da professora sênior em Prática Farmacêutica da Universidade de Kingston, na Inglaterra, Dipa Kamdar. Ela relata que a cafeína contida no café pode levar a diferentes resultados em relação à medicação prescrita por um médico — desde a inibição e o corte do efeito até mesmo a potencialização dos remédios.
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Vale dizer que alguns chás também contêm cafeína, embora em menor concentração do que o café. Ainda assim, segundo a especialista, é preciso ter cuidado ao consumi-los.
Riscos de consumir café e remédios
A professora Kamdar publicou um artigo no The Conversation explicando os principais riscos ao ingerir café e remédios.
1. Remédio para gripe e resfriado
A cafeína contida em chás e cafés é estimulante. Isso faz com que o sistema nervoso central fique acelerado. Enquanto isso, a pseudoefedrina — presente em alguns descongestionantes prescritos para gripe e resfriados — também é uma substância estimulante. Assim, quando são tomados em conjunto, os efeitos podem ser intensificados e levar ao aumento da frequência cardíaca, inquietação, nervosismo, dores de cabeça e insônia.
Além disso, muitos remédios para resfriado contêm cafeína na composição, o que aumenta os riscos. A especialista explica que alguns estudos também sugerem que a combinação de cafeína com pseudoefedrina pode elevar o nível de açúcar no sangue, bem como a temperatura corporal — duas situações preocupantes para pessoas com diabetes.
Pessoas em tratamento para TDAH com anfetaminas devem manter atenção, já que os mesmos efeitos estimulantes podem ser observados quando combinados com a medicação. O mesmo vale para o tratamento da asma com teofilina, que tem uma composição química semelhante à da cafeína. O uso em conjunto pode aumentar a ocorrência de efeitos colaterais prejudiciais ao tratamento, como batimentos cardíacos acelerados e distúrbios do sono.
2. Tratamento com antidepressivos e antipsicóticos
A saúde mental é uma das grandes preocupações do século XXI. A interação entre a cafeína e medicamentos como antidepressivos e antipsicóticos pode ser mais complexa. Isso porque inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS) — os medicamentos mais prescritos para depressão e ansiedade, como sertralina e citalopram — podem ter sua eficácia reduzida quando consumidos com cafeína.
Estudos laboratoriais demonstraram que a cafeína pode se ligar a esses medicamentos no estômago, reduzindo sua absorção e, consequentemente, sua eficácia.
No caso dos antidepressivos tricíclicos (ADTs) — uma classe mais antiga de antidepressivos, presentes na amitriptilina e na imipramina —, que atuam nos níveis de neurotransmissores no cérebro, a metabolização ocorre por uma enzima hepática que também é responsável por processar a cafeína. Por isso, pode haver uma "competição" entre as substâncias, o que reduz a degradação do medicamento, aumenta os efeitos colaterais ou atrasa a eliminação da cafeína, fazendo com que o paciente se sinta nervoso ou agitado por mais tempo que o normal.
O mesmo ocorre com a clozapina, que também é degradada pela mesma enzima hepática. Um estudo revelou que beber de duas a três xícaras de café pode aumentar os níveis sanguíneos de clozapina em até 97%, causando sonolência, confusão ou até complicações mais graves.
3. Remédios analgésicos
Alguns dos analgésicos mais utilizados pela população contêm cafeína na composição — como aspirina e paracetamol. A combinação desses remédios com café pode acelerar sua absorção, pois o esvaziamento gástrico ocorre mais rapidamente e o ambiente estomacal se torna mais ácido, o que favorece a ação da aspirina.
Apesar dessa aceleração, o ponto negativo é o aumento do risco de efeitos colaterais, como irritação estomacal ou sangramento. Ainda que nenhum caso grave tenha sido relatado, é preciso cautela.
4. Remédios para o coração
A ingestão de cafeína pode causar aumento temporário da frequência cardíaca e da pressão arterial por até quatro horas após o consumo. Com isso, o efeito esperado de medicamentos para pressão arterial pode ser comprometido.
Isso não significa que pessoas com problemas cardíacos não possam tomar café. O importante é monitorar como o corpo reage, especialmente o funcionamento do coração.
5. Medicamentos para tireoide
No tratamento do hipotireoidismo, é comum o uso da levotiroxina. Nesse caso, o café pode atrapalhar os avanços, já que a cafeína pode reduzir em até 50% a absorção do medicamento, segundo alguns estudos. Isso acontece porque a cafeína acelera a motilidade intestinal, diminuindo o tempo de absorção do remédio. Além disso, ela pode se ligar ao medicamento no estômago, dificultando sua absorção.
Dessa forma, o medicamento entra em menor quantidade na corrente sanguínea, comprometendo o tratamento. Isso ocorre com mais frequência com comprimidos de levotiroxina e é menos comum com versões líquidas. Nesse cenário, é possível que os sintomas do hipotireoidismo retornem.
O mesmo vale para o tratamento da osteoporose com substâncias como alendronato e risedronato, presentes nos bifosfonatos.
Como continuar tomando café enquanto está fazendo tratamento?
É preciso lembrar que café e chá contêm cafeína — um composto químico que pode interferir no tratamento de algumas doenças.
No caso do hipotireoidismo e da osteoporose, recomenda-se tomar os medicamentos com o estômago vazio, apenas com água, e aguardar de 30 a 60 minutos antes de consumir cafeína.
Nos demais casos, é fundamental relatar o consumo de café ao médico, para que ele possa adaptar o tratamento.
Outra opção é reduzir a ingestão ou optar por bebidas descafeinadas, principalmente se houver efeitos colaterais. Vale lembrar que cada organismo reage de forma diferente à metabolização da cafeína, por isso é importante observar como o corpo se comporta.
(Escrito por Rafael Lédo, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web de Oliberal.com)
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