Banho de sal grosso: prática popular pode oferecer riscos espirituais? Entenda
Embora popular, o banho de sal grosso deve ser feito com orientação, respeitando a espiritualidade de cada pessoa

Muito popular entre os brasileiros, o banho de sal grosso é amplamente utilizado para afastar energias negativas, inveja e mau-olhado. A crença de que o sal “limpa tudo” é comum, especialmente entre aqueles que relatam se sentir “carregados”. No entanto, para tradições religiosas de matriz africana, essa prática precisa ser encarada com mais cautela.
De acordo com lideranças do Candomblé e da Umbanda, o sal grosso carrega uma energia potente, capaz de limpar, mas também de romper proteções espirituais importantes. O uso indiscriminado pode trazer mais prejuízos do que benefícios, dependendo da ancestralidade, da energia espiritual individual e das ligações sagradas que cada pessoa carrega.
Cada corpo, uma energia
Segundo os ensinamentos dessas religiões, ninguém deve usar elementos naturais de forma genérica. Isso se deve à existência de quizilas — proibições espirituais — que variam conforme o Orí (cabeça espiritual), o Orixá regente e o Odù de cada pessoa. O Odù, comandado por Ọ̀rúnmìlà, é a energia que orienta o destino, os desafios e as potencialidades individuais.
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Por exemplo, quem possui o Odù Ọwọ́nrín costuma ter forte conexão com águas doces e, por isso, deve evitar contato com o mar e, por extensão, com o sal grosso — elemento que remete às águas salgadas. Para essas pessoas, o sal pode não apenas falhar em proteger, como também causar instabilidade emocional ou enfraquecer defesas espirituais.
Situação parecida acontece com filhos do Odù Ìká, cuja energia também exige parcimônia no uso do sal, sob risco de desenvolver vulnerabilidades espirituais. O mesmo cuidado é recomendado para pessoas regidas por Orixás como Oxalá e Jàgún, associados à pureza, serenidade e equilíbrio. Nestes casos, o sal pode agir como um elemento agressivo, desestabilizando o axé.
Rituais personalizados e cuidados essenciais
Outros exemplos incluem pessoas ligadas aos gêmeos Ibéjì, Orixás da infância, que representam leveza e vitalidade, e indivíduos com Orí de Àbìkú, espíritos infantis ligados ao ciclo de nascimentos e mortes precoces. Ambas as energias são extremamente sensíveis a rituais fortes, incluindo banhos de sal, exigindo cuidados e rezas específicas para estabilizar a presença espiritual na Terra.
Além disso, há casos em que restrições vêm de promessas, iniciações ou memórias ancestrais. Por exemplo, descendentes de pescadores que morreram afogados podem carregar quizilas com o mar ou com o sal. São crenças vivas, mantidas e respeitadas em terreiros por todo o país.
Mais do que limpeza: o sal também corta
Lideranças espirituais alertam que o sal grosso tem duplo poder: limpa, mas também pode cortar. Ou seja, além de remover energias negativas, pode também desfazer camadas de proteção construídas por meio de ebós, oferendas ou orações específicas.
“É um erro pensar que tudo se resolve com sal grosso. Às vezes, é necessário combinar o sal com folhas específicas ou com rezas para não desestabilizar o Orí”, explica Pai Paulo de Oxalá do Portal Extra.
Por isso, a recomendação é clara: antes de fazer uso do sal grosso, busque orientação de um guia espiritual ou religioso com conhecimento nas práticas afro-brasileiras. O que pode ser solução para um, pode ser desequilíbrio para outro.
(Riulen Ropan, estagiário de Jornalismo, sob supervisão de Vanessa Pinheiro, editora web de oliberal.com)
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