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Tesouro natural, biodiversidade amazônica impulsiona inovação tecnológica no mercado

Riqueza local oferece um leque de recursos naturais e tem atraído a atenção de cientistas, pesquisadores e empresas

Elisa Vaz

Floresta tropical que abriga uma das maiores biodiversidades do planeta, a Amazônia tem sido reconhecida como uma fonte abundante de possibilidades para impulsionar a inovação tecnológica e abrir novos horizontes para o mercado. A riqueza que oferece um leque de recursos naturais tem atraído a atenção de cientistas, pesquisadores e empresas em busca de soluções sustentáveis e rentáveis. Afinal, as florestas tropicais locais abrigam uma infinidade de espécies vegetais e animais com propriedades únicas e promissoras para a tecnologia.

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A biodiversidade da Amazônia pode ser usada em setores que vão do farmacêutico à indústria de cosméticos, passando pela agricultura e pela energia renovável, e está diretamente ligada com a tecnologia - é o que aponta o coordenador de Prospecção, Transferência e Tecnologia de Negócios da Fundação Guamá, Milksom Campelo. A instituição sem fins lucrativos tem o objetivo de desenvolver, financiar e prestar assistência a pesquisas, ciência, tecnologia, inovação, sustentabilidade e educação.

As soluções tecnológicas, segundo o especialista, surgem como uma forma de utilizar os recursos naturais da região com qualidade e equilíbrio, produzindo mais e de forma segura para o meio ambiente e para a sociedade.

image Dados do IBGE apontam que 15.900 ONGs atuam na Amazônia, de um total de cerca de 400 mil no Brasil (Marcello Casal Jr/Arquivo/Agência Brasil)

“São várias as iniciativas para a Amazônia, que tratam desde tecnologias agronômicas, melhoramento de plantas, reflorestamento, recuperação de áreas, desenvolvimento de novos produtos, até reaproveitamento de resíduos com economia circular. Hoje, a humanidade tem a Amazônia como o maior bioma do planeta, com alto potencial para produção de alimentos, fármacos, biocosméticos, energia, e outros produtos fundamentais para todas as sociedades no globo”, avalia.

A própria Fundação Guamá tem coordenado o apoio a laboratórios e empresas no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, iniciativa do governo do Pará, que apresentam avanços importantes da área de biotecnologia, de acordo com o coordenador, impulsionada por meio de pesquisa, desenvolvimento e inovação. Assim, diz Milksom, pode-se apresentar soluções importantes para a utilização sustentável de recursos naturais, que seguem em duas frentes: a pesquisa básica e entendimento sobre a base natural; e ainda a pesquisa aplicada, para propor soluções a demandas existentes no mercado.

image Brasil assumiu o compromisso de reduzir até 2030 cinquenta por cento das suas emissões de CO2eq (Mario Oliveira / MTUR)

“É possível identificar em nossos produtos mais conhecidos novas possibilidades, antes não exploradas, como a utilização do caroço de açaí, que hoje vai da exportação do fruto até a produção e comercialização de açaí em pó no Pará. Recentemente, por meio de pesquisas do nosso laboratório de análise supercrítica, conseguimos preparar mais de 10 subprodutos diferentes com alto valor de mercado para as indústrias de alimentos e cosméticos, com um valor em gramas que podemos comparar ao do ouro. Conseguimos inseri-los no mercado não apenas vinculando a marca Amazônia, mas agregando produção consciente, sustentável e que tem na sua composição uma enorme carga de conhecimento científico e tecnológico”, enfatiza o especialista.

Inovação

Onde a pesquisa de insumos regionais, com foco no protagonismo local, já tem sido realizada é no Centro de Estudos Avançados da Biodiversidade (Ceabio), um centro estratégico dentro do PCT Guamá que alinha diversas pesquisas biológicas, ambientais e de sustentabilidade biotecnológicas, que, além de serem estudos importantes para a conservação ambiental, podem servir de base para pesquisas aplicadas, assegurando a produção de produtos com potencial de mercado. Segundo a pesquisadora do Ceabio, Renata Noronha, os estudos feitos lá priorizam o conhecimento da população, tradicional e fundamental para o desenvolvimento da região amazônica.

“As pesquisas desenvolvidas pela minha equipe representam uma parte das várias etapas até a chegada do produto para o consumidor, nos hospitais, nos supermercados, farmácias. Os estudos feitos no Ceabio são alinhados a pesquisas biotecnológicas, voltados para testes celulares. As análises celulares trazem respostas científicas que podem assegurar a utilização dos produtos que são colocados no mercado para o consumidor. Essas pesquisas são fundamentais e mostram dados que vão dizer se o óleo ou o extrato ou produto que está sendo estudado é tóxico ou não para as células, e permitem definir dosagens seguras para a população nos mais diversos produtos, como repelentes, cosméticos, medicamentos etc”, explica.

image Parque de Ciência e Tecnologia do Guamá (Divulgação)

Renata acredita que, na Amazônia, a biodiversidade é protagonista quando se fala em soluções tecnológicas para gerar produtos nas categorias acima, incluindo vacinas. Os estudos biológicos da biodiversidade amazônica são fundamentais, na avaliação da pesquisadora. “Hoje, se fala muito em conhecer e preservar as espécies. Mas, o mais importante é que, de forma sustentável, nós possamos conhecer ou saber quais as potencialidades dessas espécies”, diz. Só assim serão descobertas as respostas para o desenvolvimento de produtos que gerem qualidade de vida para as populações.

Desafios

Com o aumento das possibilidades de usos de insumos amazônicos, faz-se necessário intensificar, cada vez mais, a socialização desse conhecimento e das novas tecnologias. Para Milksom, na corrida em busca dos melhores e mais rentáveis produtos, são os amazônidas que têm o conhecimento mais rico, científico e tradicional, acumulado há décadas. Ele diz que existem muitos pesquisadores daqui que, incansavelmente, têm desbravado as várias possibilidades de utilização sustentável da biodiversidade amazônica.

Renata concorda. Segundo ela, são várias as soluções que têm potencial de mercado, citando o óleo da andiroba, mas dizendo que existem outros insumos desse tipo desconhecidos até por cientistas, fazendo parte da rotina apenas da população tradicional. Um deles é o óleo de bicho, extraído da larva do tucumã e que, segundo os populares, tem propriedades anti-inflamatórias e antitumorais. “A partir desses relatos, nós, pesquisadores, podemos fazer as análises científicas que podem confirmar as potencialidades desses produtos, e aí sim podemos colocá-los no mercado”, ressalta.

Na opinião da pesquisadora, é preciso não só preservar o meio ambiente, mas conhecê-lo. E esse conhecimento deve ser científico, associado ao conhecimento popular. “Nós temos a responsabilidade de cuidar dos nossos recursos genéticos e dos conhecimentos tradicionais associados. Quando falamos sobre os produtos regionais, temos que destacar os pesquisadores que estão na Amazônia há anos, trabalhando com a biodiversidade local, e essas pesquisas merecem destaque no cenário mundial”.

Já Milksom acredita que é necessário criar políticas públicas e programas de qualificação e incentivo ao desenvolvimento de projetos e empreendimentos inovadores na Amazônia, fomentando essas iniciativas com recursos para inovação. Isso, de acordo com o coordenador da Fundação Guamá, gera condições favoráveis para a continuidade do desenvolvimento tecnológico a partir da biodiversidade local, mas respeitando a natureza e as comunidades tradicionais.

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