Como a computação quântica pode mudar o Brasil: preparação e riscos no caminho
Especialistas alertam que a nova tecnologia promete avanços inéditos em áreas estratégicas, mas, sem investimentos, o país corre risco de enfrentar grandes ataques cibernéticos

A computação quântica, capaz de processar informações em velocidades exponencialmente superiores às da computação tradicional, vem sendo apontada como uma das maiores revoluções tecnológicas das próximas décadas. O potencial é promissor, com diagnósticos médicos mais rápidos, sistemas financeiros mais seguros e redes elétricas mais estáveis. No entanto, junto à evolução surgem riscos que podem afetar de forma profunda a segurança e a infraestrutura global, e o Brasil ainda não está preparado para enfrentá-los, segundo especialistas.
“Olhando de forma direta, não estamos preparados”, afirma Willy Andersen, diretor operacional da empresa de cibersegurança It Protect, que atua no país inteiro e tem filial em Belém. Ele explica que, no cenário global, governos, universidades e empresas já se organizam para a chamada “era da computação quântica”, com foco no fortalecimento das defesas digitais. No Brasil, entretanto, o tema ainda é pouco debatido, tanto em fóruns técnicos quanto fora deles. “Se a computação quântica surgisse de forma prática hoje, os impactos seriam desastrosos no mundo inteiro, e no Brasil não seria diferente”, alerta.
Willy Andersen, da It Protect (Cristino Martins / O Liberal)
Potencial e riscos
Para Gabriel Gomes de Oliveira, especialista do Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE) e professor colaborador da Unicamp, a computação quântica pode trazer benefícios mesmo para regiões com baixa infraestrutura, desde que haja planejamento. “Quando implementada em regiões mais industrializadas, como o Sudeste, essa tecnologia pode se espalhar e beneficiar outras localidades. Mas tudo dependerá do segmento e das iniciativas aplicadas para potencializar seu impacto”, explica.
O professor destaca que, apesar das vantagens, o uso inadequado pode gerar problemas como falsificação de dados e ataques cibernéticos. Hoje, o risco ainda é limitado, pois a tecnologia está em fase inicial no país. Contudo, a tendência é que seu custo diminua, assim como ocorreu com a Inteligência Artificial (IA), ampliando o acesso e exigindo novas estratégias de segurança.
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Andersen reforça que nenhum setor estará imune aos possíveis ataques habilitados pela computação quântica. “Podemos falar em roubos multimilionários no setor financeiro, vazamento de prontuários médicos, apagões de energia, falta mundial de internet. Seria algo catastrófico, comparável, em escala de infraestrutura, a uma guerra nuclear, mas sem as mortes diretas, e sim com a paralisação do planeta”.
Na avaliação de Oliveira, o Brasil ainda tem muito a avançar até o momento em que saberá lidar e controlar a nova tecnologia. “O Brasil ainda tem muito a avançar nessa área, e o processo é lento. Não estamos totalmente preparados, pois continuamos sendo um país em desenvolvimento, que carece de mão de obra qualificada, de propagação de informações confiáveis e de mecanismos sólidos promovidos por governos e agências especializadas".
Ainda assim, ele vê vantagens em não estar na linha de frente. “Podemos aprender com os erros cometidos por nações líderes, como Estados Unidos, China e países do norte europeu, como Finlândia, Suécia e Noruega. No entanto, é essencial que o Brasil desenvolva mecanismos mais ágeis e eficientes para, no futuro, também liderar essa tecnologia e transformar seu potencial em soluções concretas para toda a população".
Caminhos para a proteção
Proteger-se contra ameaças quânticas exige investimentos escalonados, de acordo com o porte e a maturidade das empresas. Andersen sugere que organizações de pequeno porte comecem por medidas básicas, como firewalls e proteção de endpoints (estações de trabalho e servidores), além de políticas de recuperação de dados. Empresas mais estruturadas devem investir em ferramentas avançadas, como MDR (gerenciamento de resposta a incidentes), gestão de identidades, considerada o elo mais frágil da cadeia de segurança, e gestão de vulnerabilidades.
“Hoje, a cibersegurança não é mais diferencial, é requisito mínimo”, afirma Andersen. "Mas diferente de commodities de TI, que oferecem o mesmo produto, ela tem que ser especializada e precisa haver pessoas por trás capazes, com processos e tecnologias, para oferecê-la de uma maneira eficaz".
O diretor defende que ela não serve apenas para prevenir ataques, mas para manter a resiliência e o funcionamento das operações, mesmo em cenários de alta ameaça. “A pandemia já nos mostrou como ameaças podem se intensificar rapidamente. É fundamental que empresas e órgãos públicos tenham visibilidade de suas vulnerabilidades e usem ferramentas de automação e inteligência artificial para prevenir problemas de forma proativa”.
Investimento e educação como pilares
Oliveira ressalta que investimentos atraem não apenas recursos financeiros, como também novas tecnologias e conhecimento. “Aumentar o aporte em ciência e inovação pode gerar centros de pesquisa e laboratórios altamente tecnológicos, capazes de desenvolver soluções em áreas como educação, cidades inteligentes e saúde”.
No entanto, ele lembra que a ética deve caminhar junto. É necessário educar a população para identificar riscos e reagir rapidamente, evitando danos maiores. Ele cita o exemplo das deepfakes, conteúdos falsos gerados por inteligência artificial, que já contam com iniciativas de combate à desinformação. “Precisamos de ferramentas e mecanismos, públicos ou privados, que promovam informação correta e confiável, além de combater boatos e fraudes”, afirma.
A revolução quântica não é mais questão de “se”, mas de “quando”. Seu impacto poderá ser positivo e transformar o cotidiano de bilhões de pessoas ou gerar uma crise sem precedentes caso medidas de proteção não sejam implementadas. Para isto, há a existência de empresas especializadas em cibersegurança, como a de Willy, que trabalha com todos os setores estratégicos do país, desde a área da saúde, finanças, privado a público.
"Também oferecemos produtos de cibersegurança para empresas que estão entrando agora no mercado, com baixa maturidade. Assim como para empresas de grande porte e com demandas complexas que requerem soluções mais sofisticadas".
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