Transplante de fezes: veja o que é, para que serve e como é feito

Pacientes com doenças intestinais fazem o procedimento e relatam a experiência

Maiza Santos

Apesar de pouco conhecido, o transplante de fezes é um procedimento utilizado para tratar pessoas com doenças relacionadas ao intestino. Essa forma de tratamento permite transferir fezes de uma pessoa saudável para outra com problemas como colite pseudomembranosa, provocados pela infecção por bactérias “Clostridium difficile”, e também com alguma inflamação intestinal, como a doença de Crohn. Entenda.

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O tratamento incomum feito com fezes humanas tem mostrado resultados promissores. Ele também passou a ser utilizado em outras doenças, como a síndrome de intestino irritável, obesidade e até o autismo. Esse procedimento é indicado quando pacientes têm algum desequilíbrio grave da microbiota intestinal, principalmente causado pelo uso excessivo de antibióticos ao longo da vida. 

Para que serve o transplante de fezes?

Microbiota é a coleção de bactérias, vírus, fungos, parasitas entre outros micróbios e respectivos genes, que estão presentes naturalmente no intestino. Quando eles estão alterados, podem surgir diversas doenças. O objetivo do transplante fecal é regular essa microbiota, pois ela influencia não só na saúde intestinal, mas pode ter efeitos sobre o desenvolvimento de doenças imunes, metabólicas e neurológicas. Para a manter saudável, é necessário ter uma alimentação rica em fibras e evitar o uso de antibióticos desnecessariamente.

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Quais sintomas de quem tem doenças intestinais?

Vários são os motivos que podem ocasionar uma doença intestinal. Uma das mais comuns é a inflamação causada pelo excesso de antibiótico, conhecida como “colite pseudomembranosa”. Ela ocorre no intestino grosso e provoca:

  • diarreia 
  • febre
  • fortes dores abdominais
  • perda de peso
  • fezes com sangue

Para um diagnóstico completo, é necessário ir ao médico para detectar a presença da bactéria “Clostridium difficile”. O transplante de fezes, tecnicamente intitulado microbiota fecal, é autorizado pelo Ministério da Saúde e pode ser realizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde).

Como é feito o transplante de fezes?

Para a realização do transplante fecal, é necessário introduzir fezes saudáveis de um doador no paciente. É necessário coletar cerca de 50 g de fezes do doador, que deve ser analisada para se certificar que não há a bactéria Clostridium difficile ou outros parasitas.

Em seguida, as fezes são diluídas em soro fisiológico e colocadas no intestino do paciente, através de:

  • sonda nasogástrica
  • clister retal
  • endoscopia
  • ou colonoscopia

Pode ser necessário fazer o procedimento uma ou mais vezes, a depender da doença tratada e da gravidade da inflamação intestinal. Geralmente, o procedimento é rápido e não se sente qualquer tipo de dor ou incômodo.

Procedimentos

Uma paciente alagoana chamada A.L.C.*, de 28 anos, que não quis se identificar, tem doença de Crohn. A síndrome afeta o sistema digestivo e tem como sintomas dores abdominais, associadas à diarreia, febre e perda de peso. Ela foi diagnosticada aos 22 anos e relata que identificar a doença foi tão difícil que os médicos chegaram a achar que se tratava de outra doença. 

Até o primeiro semestre de 2021, a jovem tomava drogas imunossupressoras de alto custo para amenizar os sintomas da doença. Em setembro do mesmo ano, ela foi uma das voluntárias a participar de testes com o transplante da microbiota fecal. O procedimento foi realizado no Hospital Universitário Professor Alberto Antunes, da UFAL (Universidade Federal de Alagoas). ''Desde que fiz o transplante de fezes, não tomei mais os medicamentos e estou muito bem. Estou satisfeita com o resultado'', afirma.

Fezes com sangue

Um servidor público R.F.S.*, de 48 anos, também foi uma das pessoas que realizaram o transplante de microbiota fecal em Maceió. Ele foi diagnosticado com retocolite ulcerativa aos 37 anos, uma doença crônica inflamatória, que atinge principalmente o intestino grosso (cólon). Quando chegou no médico, o paciente estava com fortes dores no estômago e sangue nas fezes. Ele ficou internado por 11 dias, com febre e tomando antibióticos. 

Antes do transplante fecal, o servidor usou um remédio para diminuir o processo inflamatório do intestino. Em agosto de 2021, parou com os remédios e realizou o procedimento. Desde então, não apresentou mais nenhum sintoma da doença e leva uma vida normal. Até o final de 2022, ele fará um novo transplante fecal para reforçar o tratamento, ainda em fase experimental.

Banheiro 15 vezes ao dia

Um médico neurologista de Porto Alegre, chamado Pedro Schestatsky, de 48 anos, foi diagnosticado com síndrome do intestino irritável, em 2018. Esse distúrbio se caracteriza por ocorrências de desconforto abdominal, dor, diarreia e prisão de ventre. O médico relata que costumava ir ao banheiro cerca de 15 vezes por dia. Após ouvir sobre o transplante fecal, resolveu fazer o procedimento.

O procedimento foi realizado no Hospital Ernesto Dornelles, na capital do Rio Grande do Sul. O médico pegou as fezes de um doador vegano e, posteriormente, o excremento foi colocado num mixer, que acabou criando um líquido pastoso (aos cuidados de um microbiólogo). A substância foi inserida no organismo do homem durante uma colonoscopia. Ele relata que se sentiu melhor por três semanas, mas depois os sintomas voltaram e ele piorou. Neste caso, o paciente não mudou seus hábitos alimentares, parte importante do tratamento da síndrome.

(Estagiária Maiza Santos, sob supervisão do editor executivo de OLiberal.com, Carlos Fellip)

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