TDAH: entenda os sinais e a importância do tratamento para quem possui transtorno
No Dia Mundial de Conscientização e Sensibilização sobre o TDAH, o médico Dirceu Rigoni, em entrevista para O Liberal, destacou a importância do diagnóstico e acompanhamento clínico
Neste domingo (13) é celebrado o “Dia Mundial de Conscientização e Sensibilização sobre o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)”. Com a crescente popularização do tema nas redes sociais, o transtorno tem gerado inúmeros debates virtuais que popularizaram a sigla. No entanto, o psiquiatra Dirceu Rigoni, que atua na área há cinco anos, reforça a importância do diagnóstico correto e do acompanhamento médico especializado, para não confundir os sintomas do transtorno com outras possíveis causas.
“As duas principais características [do TDAH] estão no próprio nome, déficit de atenção e hiperatividade. Porém, ele também cursa com outros sintomas, por vezes até mais intensos que ambos os principais, como: impulsividade, compulsividade, irritabilidade, cansaço após atividades mentais ou sociais, uso de substâncias e dependência, vícios no geral, procrastinação, insônia, entre outros”, explicou.
“Distrações são normais de qualquer pessoa, por estresses momentâneos, noites mal dormidas e afins, porém, a característica principal é ser algo momentâneo, passageiro e que geralmente não traz prejuízo marcante à vida. O TDAH já vem com sintomas obrigatoriamente desde a infância e, além do déficit de atenção, que é constante e traz prejuízos maiores”, completou.
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Segundo o médico, o TDAH é uma doença genética em até 80% dos casos e os sintomas surgem ainda na infância, não sendo possível desenvolver o transtorno somente na vida adulta. No entanto, quando não diagnosticados ou tratados, esses sintomas podem persistir ao longo da vida.
“Como a maioria dos transtornos mentais, o TDAH é multifatorial. Além da genética predominante, também há influência de hábitos durante a gravidez, prematuridade e outras complicações obstétricas no nascimento que possam causar lesões cerebrais ao recém-nascido. Por vezes, a pessoa apresenta os sintomas na infância e, independente de tratamento, com o ‘amadurecimento’ do cérebro, estes sintomas desaparecem na vida adulta. Mas, muitas vezes, os sintomas perduram durante a vida adulta também, assim como o indivíduo pode perceber os sintomas somente quando é desafiado pelas maiores responsabilidades da vida adulta”, disse.
Diagnóstico e tratamento
O diagnóstico do TDAH é feito a partir de uma investigação médica detalhada, conduzida por um psiquiatra, com o apoio de um neuropsicólogo, que acompanha todo o processo de avaliação. Conforme o médico Dirceu Rigoni, é fundamental estabelecer o diagnóstico corretamente para iniciar o tratamento adequado e prevenir o surgimento de outros transtornos, como ansiedade, depressão ou dependência química.
“O exame que auxilia neste diagnóstico é a avaliação neuropsicológica. No caso de crianças, relatórios pedagógicos da escola, além de exames de imagem e laboratório, são usados geralmente para descartar causas orgânicas, a fim de firmar o diagnóstico”, explicou.
Após o diagnóstico, o tratamento pode ser terapêutico ou medicamentoso, mas as indicações variam entre os pacientes.
“Na infância, as medicações são importantes, mas não unanimidade, havendo também grande benefício de acompanhamento multidisciplinar com psicologia, terapia ocupacional e pedagogos. Na vida adulta, geralmente há grande benefício dos medicamentos em vasta parte dos casos, porém sem excluir a importância dos outros acompanhamentos para melhor resultado. O transtorno pode melhorar ou ficar ausente na transição da adolescência para a vida adulta, porém, no adulto, não é curável. Os tratamentos têm o objetivo de suprimir os sintomas e evitar os prejuízos que causam”, afirma o médico.
Advogada sentiu impacto direto na produtividade
A advogada Giovanna Melo, de 25 anos, recebeu o diagnóstico de TDAH ao buscar ajuda profissional para tratar outros problemas psíquicos. Segundo ela, o diagnóstico a ajudou a entender situações que enfrentava no dia a dia desde a infância e que impactaram diretamente na sua produtividade em todos os âmbitos.
“Na escola, não prestei o ENEM por esquecer de colocar a minha identidade na bolsa. Porém, no dia anterior já havia separado a identificação na minha carteira, que ficou em casa. Na vida profissional, tenho dificuldades para armazenar informações ao receber instruções verbais, para manejar o tempo quando preciso elaborar trabalhos que necessitem de robustez técnica ou que envolvam conteúdos que não possuo domínio, porque necessito de tempo a mais para entender o básico. Na vida pessoal, observo que, quando me sinto confortável ou relaxada em algum ambiente familiar, frequentemente perco o celular ou minha bolsa, o que já aconteceu várias vezes, incluindo um celular que nunca encontrei. Sinto que preciso estar em estado de alerta para não me prejudicar”, contou.
Segundo Giovanna, o diagnóstico e o tratamento a auxiliaram a se adaptar e se programar em diversos aspectos. Assim, ela fica sempre atenta aos traços de déficit de atenção que exigem maior cuidado.
“Faço acompanhamento regular com o psiquiatra, que foi essencial para desmistificar o uso dos remédios psiquiátricos. Nas sessões, relato os acontecimentos marcantes do mês, bem como minha adaptação às medicações, sensações físicas e mentais. Uso um medicamento para tratamento do déficit de atenção que me ajuda nas atividades que exigem concentração, atenção, foco, até mesmo para dirigir. Além disso, realizo atividades físicas, utilizo o auxílio de organizadores e agendas, tudo para me estimular e lembrar melhor das informações”, disse.
Para a advogada, ainda existe muito preconceito com o transtorno, mas a popularização do termo e das informações sobre a doença ajudam a desmistificar opiniões de quem ainda sabe pouco sobre o assunto.
“Geralmente, o senso comum acredita que se trata somente de pessoas agitadas e desorganizadas, e que só esses casos merecem a devida atenção ou suporte, o que tende a fazer com que quem tem a doença seja tratado como desleixado, dificultando o tratamento. Além do preconceito com medicamentos de tarja preta, acompanhamento psiquiátrico, entre outros. A popularização do termo ajuda a diminuir o viés preconceituoso sobre ser portador de um transtorno bastante comum e é benéfico para quem busca tratamento”, finalizou.
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