Desacelerar o ritmo de vida e cuidar da saúde física ajudam na prevenção de crises de ansiedade

A crise de ansiedade é um quadro desencadeado pela alteração abrupta e intensa do humor

Ayla Ferreira* com colaboração de Talita Azevedo

“A dança vem me salvando muito com o fator da ansiedade”, relata a professora de balé Larissa Gomes, de 36 anos. Diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Larissa sofre com crises de ansiedade, um quadro desencadeado pela alteração abrupta e intensa no humor, que pode causar sintomas físicos e psicológicos, como palpitações, náuseas, tremores, sensação de falta de ar e até mesmo dores no peito. 

image A professora é adepta de hobbies, como balé e vôlei, que a ajudam a controlar o quadro e manter a saúde mental em dia. (Foto: Cristino Martins)

A confirmação da patologia veio ainda na pandemia da covid-19. A professora costumava ter uma rotina ativa e cheia de horários definidos e precisou interromper a frequência das atividades, por conta da necessidade de isolamento social. “A ansiedade já vivia em mim, mas como a minha vida era corrida, eu não conseguia fazer com que ela se desencadeasse. A pandemia veio, e a ansiedade se manifestou. Tive um tratamento com remédios por 30 dias”, conta.

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Problemas emocionais como estresse e ansiedade podem se manifestar de diversas formas no corpo

Desde então, a professora é adepta de hobbies, como balé e vôlei, que a ajudam a controlar o quadro e manter a saúde mental em dia. A dança é uma das válvulas de escape — é na sala de aula, com o uniforme, o coque, a meia e a sapatilha, que Larissa se conecta com o balé e deixa as preocupações desaparecerem. A música, as coreografias e o convívio com outras bailarinas trazem alguns benefícios para a saúde, como a liberação de endorfina, hormônio do bem-estar e felicidade. 

“Eu chego em casa com o corpo cansado, então não tenho mais tempo para pensar nos meus problemas e estresses. Quando eu danço e jogo, meu corpo fica relaxado e a mente também.  O esporte é uma salvação na vida, porque dá liberdade, traz emoções boas e dá uma mobilidade para o corpo”, afirma Larissa.

Sintomas da crise variam 

Segundo Dirceu Rigoni, médico psiquiatra e psicoterapeuta, o sistema da ansiedade é o mesmo que rege a reação ao medo. Quando o medo é ativado ao identificar uma ameaça, o corpo se prepara para uma fuga ou luta. O coração acelera, a respiração fica mais rápida, a pressão sobe, entre outras alterações. Na ansiedade patológica, uma percepção mental antecipatória ativa os mesmos mecanismos, como se fosse uma ameaça real. 

“A pessoa pode sentir palpitações, a respiração ofegante, aumento da pressão, náuseas, vômito, dormência nos pés e braços, tremores, visão turva, etc. Isso pode ocorrer de forma episódica, rápida, intensa, que pode se caracterizar por um ataque de pânico, ou pode ser algo mais duradouro e menos intenso, que pode ser chamado de crise de ansiedade”, informa o médico.

“A manifestação dos sintomas que causam as crises variam de pessoa para pessoa, não existem fatores definidos. O que pode causar uma crise em mim, não necessariamente vai causar em outra pessoa, mesmo que tenhamos vivenciado o mesmo evento traumático”, diz Marlon Araújo, psicólogo clínico e hospitalar. Segundo o profissional, o surgimento da crise depende do histórico pessoal e dos recursos emocionais de cada um para lidar com eventos dramáticos ou estressores. 

A crise de ansiedade também pode estar relacionada com situações específicas de cada paciente, que são avaliadas na consulta, na qual o profissional identifica a proporcionalidade entre a reação e o evento que a suscitou. O evento também pode ser induzido pelo uso descontrolado de substâncias estimulantes, como cafeína e taurina. Nos casos onde a intensidade é maior, como nos ataques de pânico, ou com maior frequência, atrapalhando a funcionalidade do indivíduo e gerando sofrimento, surge a necessidade de acompanhamento médico e psicoterapêutico.

O psiquiatra Dirceu Rigoni explica que os transtornos de ansiedade são as principais patologias relacionadas ao quadro, como ansiedade generalizada, transtorno de pânico, fobia social e também fobias específicas. “Sintomas ansiosos também podem ocorrer em outros transtornos, como depressão, transtornos relacionados ao estresse, uso de substâncias ilícitas estimulantes, como cocaína e anfetamina, transtornos de personalidade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, além de também doenças físicas, como hipertireoidismo ou outras disfunções hormonais”, detalha.

Tratamento

Em casos leves, há a opção de tratar o quadro somente com psicoterapia, o que evita o uso de medicamentos. “O acompanhamento psicológico ajuda justamente na compreensão dos nossos sintomas ansiosos que desencadearam a crise, até porque muitas vezes não está muito claro para a gente o quanto um evento traumático nos afeta. O que pode agravar esses sintomas, ao ponto de manifestar crises de ansiedade, são os nossos gatilhos emocionais”, destaca o psicólogo Marlon Araújo.

O acompanhamento psicoterápico também auxilia o paciente na construção de estratégias para a prevenção das crises, além de proteger quando elas se manifestam, até que ele consiga manejá-las sem a necessidade de acompanhamento medicamentoso. Em casos de um transtorno de ansiedade diagnosticado de intensidade moderada a grave, segundo o psiquiatra Dirceu Rigoni, a indicação é a combinação de medicação e psicoterapia.

Como agir em uma crise?

As crises são autolimitadas e diminuem em minutos ou horas, podem ocorrer de maneira súbita ou gradativa. Ao perceber o evento, o paciente deve buscar controlar a ansiedade por meio de exercícios de respiração. Na técnica de relaxamento muscular progressivo de Jacobson, criada pelo médico e norte-americano Edmund Jacobson em 1929, a pessoa inspira o ar pelo nariz até encher os pulmões e esvazia pela boca devagar — o que diminui os batimentos cardíacos, a taquicardia e a tensão muscular.

“Outra dica é não focar nos sintomas. É muito comum a pessoa, quando ela começa a perceber que ela tá em crise de ansiedade, ficar  focada no sintoma que ela tá manifestando. Por exemplo, ela está sentindo o aperto no peito e fica focada nisso, no batimento cardíaco acelerado e acaba ficando mais preocupada com a possibilidade dos sintomas agravarem. É importante fazer a leitura do ambiente, ele tira o foco dos sintomas e promove um uma postura mais protetiva da própria pessoa contra a crise dela e ajuda a diminuir também as crises de ansiedade”, informa Marlon.

De acordo com o psicólogo, frases como “você precisa ser forte”, “você precisa se acalmar”, entre outras similares, reforçam a frustração e podem piorar a crise, pois o paciente que está passando pelo quadro sabe que precisa se acalmar, mas não consegue. O importante é fazer com que o paciente se sinta seguro.

Para isso, quem deseja ajudar pode procurar um lugar seguro, com menos pessoas. “Pode perguntar se a pessoa quer água, um ventilador, que abanem ou então liguem para uma pessoa de confiança. Em casos de crise intensa, é importante acionar a emergência para auxiliar nos cuidados, pois pode necessitar de um suporte multiprofissional por causa das implicações, que podem causar um mal-estar maior na pessoa”, reforça Marlon.

Veja como prevenir crises de ansiedade

  • Manter uma alimentação saudável
  • Praticar atividade física regular, no mínimo quatro horas semanais
  • Não negligenciar qualidade e quantidade do sono
  • Evitar o excesso de notícias ruins e negativas das redes sociais
  • Evitar excessos de trabalho, lazer e descanso, pois excessos contribuem para o adoecimento mental
  • Tentar reduzir a pressão por metas e desempenho no trabalho
  • Ter um horário individual para lazer e meditação

Fonte: Dirceu Rigoni, médico psiquiatra e psicoterapeuta

*Ayla Ferreira, estagiária de Jornalismo, sob supervisão de Fabiana Batista, coordenadora do Núcleo de Atualidades

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